Fabricante norte-americana continua à espera da parte angolana
AVIAÇÃO. Capital social da companhia baixou de 700 para 127 mil milhões de kwanzas e fonte do Ministério dos Transportes garante que para a decisão pesou o recuo na compra de 14 aeronaves.
A recente decisão do Presidente da República de reduzir o capital social da Taag de 700 mil milhões para 127.007 milhões foi forçada, em grande medida, pela indecisão no programa de reforço da frota da companhia com 14 aeronaves, sobretudo na compra das 14 aeronaves à Boeing, de acordo com fonte do Ministério dos Transportes.
“O capital social anterior era de difícil realização e foi determinado numa perspectiva de crescimento da empresa em que se previa a aquisição de 14 aeronaves. Como este negócio não se efectivou, há a necessidade de se corrigir para valores cuja realização seja exequível para os sócios, quer em numerário, quer em espécie”, argumentou.
No decreto que aprova a redução do capital social, além de outras alterações, o Presidente João Lourenço justifica a decisão com a necessidade de se adequar o valor nominal do capital social face à actual conjuntura económica” e a execução do Plano de Reestruturação da empresa aprovado em Janeiro de 2018, altura em que se tinha fixado o capital social nos 700 mil milhões, agora revistos.
A razão apresentada pela fonte do VALOR indicia desistência definitiva, pelo menos para já, da compra das aeronaves da Boeing. Preferindo insistir que o processo “continua em standby”, a fonte admite, entretanto, que a retoma do negócio pode não acontecer tão cedo.
“Continuamos em standby, mas, até lá, a empresa precisa de trabalhar. Houve um parecer negativo do FMI, por isso, avançou-se só com a Bombardier. O país não tem dinheiro”, argumenta.
As incertezas do processo de reforço da frota da companhia iniciaram em Abril de 2018 quando o Presidente João Lourenço cancelou a autorização, que tinha concedido em Janeiro do mesmo ano ao ministro dos Transportes “para celebrar contratos de compra e venda de aeronaves com as empresas Boeing e Bombardier, bem como desencadear os instrumentos para estruturar e montar a operação de financiamento para a aquisição das aeronaves e negociar o refinanciamento de duas aeronaves Boeing 777-300 ER”.
Na ocasião, o PR cancelou também a autorização que concedeu à Taag para a “negociação de financiamento do fornecimento das aeronaves”. O recuo foi justificado com a necessidade de ser elaborado “um estudo mais aprofundado com vista à implementação do Plano de Reestruturação e Modernização da Frota de Aviões da Taag”. Estava prevista a aquisição de 14 aeronaves Boeing, além de 11 do tipo Dash8-400s, da Bombardier.
Posteriormente, surgiram sinais de recuo do Executivo na decisão de cancelamento do processo de aquisição as aeronaves. Em Setembro de 2019, entretanto, oficializou-se o recuo, mas apenas em relação à aquisição das Dash-8 (da ex-Bombardier). E, ao contrário das 11, a compra ficaria pelas seis aeronaves.
Indecisão na relação com a Boeing
Apesar de a fonte do Ministério dos Transportes garantir que a posição de standby adoptada pelo Governo está “devidamente concertada com a Boeing”, sobretudo porque a “própria Boeing está a solicitar o adiamento dos prazos de entrega, visto que a crise está para todos”, fonte da construtora americana conta outra versão ao VALOR.
“Não solicitámos nenhum adiantamento nos prazos de entrega. O único problema é que, até agora, o Governo de Angola não tem efectuado os pagamentos conforme o contrato assinado”, garantiu, acrescentando que, dos 62,9 milhões de dólares que Angola teria de pagar de Pre-Delivery Payments, pagou apenas perto de 1 ,9 milhões de dólares, além de 4 milhões de assinatura do contrato. Em Abril, outra fonte da construtora garantiu ao VALOR que, em caso de o negócio não se concretizar, a Boeing exigiria o pagamento da totalidade dos 62,9 milhões de dólares.
“A taxa de inflação para 2024 vai situar-se seguramente acima...