O SONHO DO PRESIDENTE E OS SALTEADORES DOS SONHOS ALHEIOS
Já houve quem afirmasse que o aparente apego compulsivo do Presidente da República aos aviões resulta de uma possível ambição de materializar uma fantasia de infância. Literalmente quis-se com isso dizer que João Lourenço sempre desejou conhecer o mundo e usa o cargo de Presidente, no limite das suas forças, para concretizar o seu sonho de garoto com o máximo de conforto possível. Os angolanos são efectivamente muito bons, quando se trata de usar a criatividade para ridicularizar factos e fenómenos aparentemente complexos. É deste recurso criativo que resultou também o efémero e popularizado ‘meme’, segundo o qual “pessoa com talento para ser aeromoço lhe deram um país para governar”.
João Lourenço não faz o mínimo para o desmerecer.
O conjunto da sua agenda de governação, em quase sete anos, é justamente a prova da inexistência de uma agenda de governação. Pelo menos uma que esteja única e verdadeiramente comprometida com o interesse público e com o respeito dos angolanos. É desta forma que se interpreta, por exemplo, a mais recente invencionice que pretende repartir a província de Luanda.
Quer proceda de um sonho seu de infância quer resulte da sugestão de algum conselheiro, a proposta de divisão de Luanda, lançada nesta altura, é simplesmente indefensável. O critério da dimensão territorial, apresentado para retalhar as outras províncias, é insustentável. Luanda é a mais pequena das 18 províncias do país. O argumento da proximidade dos serviços não colhe. No contexto angolano, nenhuma outra parte do país tem os serviços públicos e privados mais próximos da maioria dos cidadãos. A narrativa da densidade populacional é falaciosa. Luanda não atinge os 600 habitantes por metro quadrado e há cidades pelo mundo que ultrapassam os 6.000 habitantes por metro quadrado. Informalmente, lança-se a explicação da necessidade de desenvolvimento de uma cidade aeroportuária. É risível, para dizer o mínimo. A dinamização das áreas adjacentes ao Novo Aeroporto de Luanda não justifica a criação de uma nova província. Ter de escrever isto é necessariamente embaraçoso.
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