ANGOLA GROWING
EXIGEM AUMENTO DE 367%

Sindicatos acusam Governo de decidir aumento do salário mínimo unilateralmente

02 Feb. 2022 Economia / Política

REMUNERAÇÃO. Sindicatos não concordam com o aumento do salário mínimo em 50% e sentem-se ‘enganados’ pelo Governo.  Economista apela para continuação do diálogo com os sindicalistas e empresários e alerta para os efeitos da inflação.

Sindicatos acusam Governo de decidir aumento do salário mínimo unilateralmente

Foi “com surpresa” que os diferentes sindicatos de trabalhadores tomaram conhecimento do aumento do salário mínimo até um máximo de 50%, aprovado em Conselho de Ministros.

José Laurindo, secretário-geral da União Nacional dos Trabalhadores Angolanos (Unta-CS), explica que decorriam conversações com a comissão técnica que nunca tiveram conclusões e unanimidade. O anúncio surgiu quando aguardavam a notificação para mais um encontro. “A ministra [do MAPTSS] não falou a verdade quando disse que há aceitação [dos movimentos dos trabalhadores]. Nós não concordámos com a proposta do grupo técnico, estamos à espera que nos convoquem para um conselho de concertação”, denuncia.

A decisão é para a Central Geral de Sindicatos Independentes e Livres de Angola (CG-SILA) um “sinal claro de atentado à democracia e à actividade” dos diferentes movimentos que zelam pelos direitos dos trabalhadores. Francisco Jacinto, secretário-geral, queixa-se de não serem tidos nem ouvidos.

“Se somos democratas, é preciso que respeitemos as regras que regem a democracia. É uma atitude que se tomou unilateralmente sem ouvir os parceiros, parece-me existir uma ideia de se negar o sindicalismo em Angola”, lamenta, sublinhando que o Governo teve uma “soberana oportunidade” de colocar a questão em reunião de concertação social, mas não o fez. “Tínhamos tempo para discutir esta questão, porque o Presidente não agendou esta questão e escondeu para, no sábado, a partir do Cuando-Cubango, anunciar que vai aumentar o salário mínimo e na função pública?”, questiona.

Os sindicatos exigem um aumento na ordem dos 367% face à actual conjuntura, sobretudo para dar resposta aos preços da cesta básica. Os 50% aprovados “não correspondem aos anseios e necessidades” dos trabalhadores. Com o valor, exemplifica Francisco Jacinto, paga-se um mês de energia eléctrica num agente privado em Cafunfo, Lunda-Norte. Na mesma linha, Admar Jinguma, secretário-geral do Sindicato Nacional de Professores (Sinprof), nota que o salário “de tão ‘coxito’ (reduzido)” nem para se alimentar serve. “Este reajuste não corresponde a alguma coisa, os nossos salários nem chegam para comprar comida. Não nos revemos nesta medida do Executivo”, deixa claro.

O economista Alves da Rocha apela ao diálogo entre o Governo, sindicatos e empresários, chamando atenção para o critério de aferição, que tem que ver somente com o nível de inflação e deterioração do poder de compra. “É necessário que o Governo e o BNA, através das suas políticas, consigam controlar os preços. A taxa de inflação prevista no relatório de fundação é de 18%, é uma taxa elevada que consome muito do poder de compra de quem depende do salário para viver”, analisa.

Mais do que aumentar o salário mínimo, o economista entende que é imperioso aumentar a produtividade. Para tal, investir na qualificação profissional é fundamental, porquanto o valor da produtividade no país é extremamente baixo se comparado aos da SADC.

TRAJECTÓRIA DO SALÁRIO MÍNIMO NOS ÚLTIMOS ANOS

Em 2014, em 10 anos, o então Governo aumentou para 379% o salário mínimo. Variava entre os 15 e os 22 mil kwanzas, a depender do sector de actividade. Posteriormente, em 2017, subiu 10%, fixando-se entre 16.500 e 24.754. Em 2019, saltou 30%, estando nos 21.454 a 32.181. Agora, em 2022, depois de tantas lutas dos sindicatos, o Governo aprovou um aumento de 50%, o que implica que o salário estará entre os 32.181 e os 48.2715 kwanzas.