Beatriz Franck, empresária

“Tem de se diferenciar o empresário do candongueiro”

MODA. Beatriz Franck lançou uma nova marca de roupas e loja ‘BeatrizFranck’. Há 17 anos, em Cabinda, criou a boutique Bibi. É também fundadora da revista angolana ‘Super Fashion’ e garante emprego a mais de 50 pessoas. Apela à diferenciação e tratamento para quem é empresário, empreendedor ou candongueiro. Não se identifica com as alas feministas, mas defende que as mulheres podem sempre fazer tão bem, igual ou melhor do que os homens.

 

“Tem de se diferenciar o empresário do candongueiro”

Mergulhou nos negócios há 17 anos. Que mudanças?

Quase todas. Quando comecei, tínhamos um país que economicamente estava muito bem e era fértil. Havia muita circulação de divisas e mesmo até de kwanzas. Era um período totalmente diferente da realidade actual.

Como sente essa realidade?

Do ponto de vista empresarial e da dimensão em que o país cresceu nos últimos dez anos, é negativa, porque toda essa crise resultou numa maior taxa de desemprego. O poder aquisitivo diminuiu e isso se reflecte na camada empresarial. Estamos a ver que o país está a entrar numa nova dinâmica, com mudanças políticas e económicas, e esperamos que as coisas estejam mais bem enquadradas, de modo a que se possa diferenciar quem é empresário, quem é empreendedor e quem é candongueiro e definitivamente os bancos abrirem linhas de crédito para quem paga impostos.

Sente alguma concorrência desleal entre empresário e o candongueiro?

Em todos os aspectos, prejudica todos os empresários. Há algum tempo quis divisas no valor de 2,5 milhões de dólares e não consegui, mas na rua encontra-se com facilidade. Tive de demitir sete funcionários dos 17 na loja de Cabinda. Tudo isso reflecte-se no aumento de desemprego. No total, com a abertura da nova loja, emprego actualmente mais de 50 funcionários.

A nova marca de roupa e a loja ‘BeatrizFranck’ são continuidade da ‘Bibi’?

Bibi Boutique foi o meu pivô. BeatrizFranck não é a continuidade nem para fazer fusão, das boutiques Bibi. A marca produz mediante as situações climatéricas e de acordo com os gostos das mulheres angolanas e a um custo de acordo as necessidade de mercado, diferente da Bibi que comprava peças feitas.

A produção das peças é de origem internacional. Trabalhou com artistas nacionais neste projecto?

Não, por uma simples razão, porque para seguir as tendências internacionais, tem de se ter meios e mecanismos, para estar a par e passo do que se publica. Tem de se ter pessoas atentas às últimas tendências. Trabalho com designers brasileira, francesa e um chinês.

O mercado vai corresponder às expectativas?

Sim. O estudo e a experiência que fiz do mercado, é que o angolano é susceptível a coisas muito boas e adere à inovação com muita facilidade. Por essa razão, tive de criar a marca. E porque hoje sou referência e as pessoas gostam da minha maneira de vestir. Tenho a certeza de que vão aderir em massa.

Em quanto está avaliado o novo negócio?

Estava orçado em mais de cinco milhões de dólares, mas investi apenas 2,3 milhões de dólares. Tive apoio do banco BAI e será liquidado em pelo menos cinco anos.

Falar do empreendedorismo feminino remete a alas feministas?

Nem por isso, embora defenda a igualdade e ter presenciado várias vezes a discriminação por ser mulher. Às vezes, espera-se que seja um homem à frente dos negócios. As mulheres podem sempre fazer tão bem, igual ou melhor de que os homens, agora depende de como cada um encara o negócio. Não estamos a falar de género e sexo, estamos a falar de como é que cada um prevê e defende o seu negócio daqui a alguns anos.

Está preocupada com o pré-julgamento da sociedade?

Tenho um carácter muito forte. Acabo por fazer sempre o que me apetece. Vivemos numa sociedade em que se critica tudo e nada, no entanto, hoje tenho muito mais cuidado, mas nada me priva de ser eu mesma, de defender os meus ideais e mostrar que a nossa liberdade de expressão, de ser, de fazer e sonhar são as únicas coisas que temos e são muito passageiras. Sou sempre apologista de que as pessoas não têm de ser artificiais e viver numa sociedade em que se cobram valores.

Os bairros que têm maior número de igrejas e seitas religiosas são os mais férteis à delinquência…

Hoje vimos muitas pessoas falarem em nome de Deus, mas não vivem o que falam. Uns escondem-se por detrás de Deus para praticarem as suas maldades. Vimos padres pedófilos, pastores a violarem os fiéis e líderes religiosos e fazer maldades. Depois de vencer o concurso miss Cabinda envolveu-se em causas solidárias.

Como está a sua agenda?

Na altura, abracei o orfanato Betânia e há 12 anos que sou madrinha. Todos os meses dou uma verba para o orfanato.

Como está o projecto de expansão da revista Super Fashion?

Parei com o projecto, porque pretendemos refazer o site. O físico já não compensa tanto, o que compensa mais é o online. Depois do webbsite vamos ver em que países vamos lançar as versões física e online.