ZUNGUEIRA
JOSÉ PEDRO DE MORAIS, ANTIGO MINISTRO DAS FINANÇAS

“Um crescimento económico em que só um ou dois operadores é que crescem não serve de nada”

Nesta segunda parte da entrevista a José Pedro de Morais (a primeira foi publicada na edição passada, o antigo ministro das Finanças e antigo governador do Banco Nacional de Angola comenta os relatos que o associaram a esquemas de corrupção, garante que não respondeu a nenhum processo na justiça e defende a construção de uma base alargada para toda a gente prosperar. O antigo governante confessa que não conhece um único ex-governante angolano tão rico como os que se conhecem do Dubai.

“Um crescimento económico em que só um ou dois operadores é que crescem não serve de nada”
Mário Mujetes

Em 2017, o Presidente João Lourenço apresentou o combate à corrupção como a prioridade do seu mandato, mas houve várias críticas ao processo logo depois e que perduram até hoje. Por exemplo, aponta-se a selectividade do processo, com destaque para a alegada protecção a Manuel Vicente. No entanto, o seu nome consta entre os frequentemente apontados como os que deviam responder à justiça. Como é que avalia este processo?

A liderança política definiu a forma de abordar este problema e definiu olhando para a situação quer interna, quer internacional. É muito fácil, volto a dizer, depois das situações acontecerem, dizer que não deviam ter sido feitas assim. Não gosto muito deste tipo de avaliação, mas nós precisamos de instituições fortes em todas as esferas da sociedade para continuar aquilo que foi o desidrato político expresso pelo Presidente naquela altura e que continua a ser o desiderato político do Presidente e do partido do poder. Agora, temos que ir passo a passo, mas fazendo progresso significativo em relação a esta matéria. Todos os países têm estado a refinar os seus mecanismos de combate à corrupção, no sentido de identificarem cada vez melhor as situações que possam levar às situações de corrupção. Mas o que nós também estamos a ver é que começa a haver uma tendência para que os países possam fazer uma definição mais colada aos interesses nacionais de cada país. Basta ver o que o Presidente Trump está a fazer nos Estados Unidos. Está a recentrar o interesse nacional dos Estados Unidos em torno daquilo que ele acha que é interessante. Então, acho que, no combate à corrupção, deve haver este espaço para que as autoridades políticas possam recentrar os seus objectivos em torno daquilo que considerem ser o melhor interesse de Angola. Continuo a achar que o melhor interesse de Angola é haver crescimento económico, que não temos ainda de maneira suficiente. Porque hoje temos um nível de identificar as situações de corrupção de uma maneira, amanhã vamos ter um nível mais refinado e assim sucessivamente, mas, no final do dia, não são os procuradores que vão determinar para onde é que o país deve seguir em matéria de combate à corrupção. Penso que, no final do dia, quem vai definir o melhor interesse para os angolanos é sempre a liderança política. Ela é que vai definir para onde é que queremos ir com este combate à corrupção. 


Já voltamos à corrupção. Na primeira parte da entrevista, disse que um dos problemas da economia é a despesa pública, que é pesada. O problema é o peso da despesa ou a má despesa? 

Como é que definimos má despesa? Se o Executivo for ao Parlamento propor a construção de uma ponte, numa determinada zona do país, vamos ter metade dos deputados a dizer “sim senhor” e, se calhar, outra metade a dizer “não, naquele sítio não é preciso fazer isso”. Bom, será porque houve isso que vamos dizer que foi má despesa ou boa despesa? Estou a dar um caso extremo para significar que, quando se trata de definir o que é uma despesa, há aqui um campo muito disperso de análise. Mas há claramente uma despesa que deve ser associada ao processo de crescimento económico do país. Temos tido um investimento muito forte, mas muito bom no sector energético, recentemente no sector de portos e caminhos de ferro e tudo isso são investimentos muito ligados ao crescimento económico; no sector das telecomunicações, portanto, mais uma vez, em vez de entrarmos para o campo do debate político, era preferível olharmos para aquilo que está a ser feito e ver como podemos aproveitar melhor estes investimentos. Há sempre uma forma de aproveitar. 

Há correntes que defendem, por exemplo, que alguns desses projectos podiam ser feitos não com investimentos públicos, mas no modelo de adjudicação e gestão por privados. O que acha? 

Sou daqueles que raramente vai ver a criticar aqueles que têm de tomar decisões, sobretudo decisões económicas, dizendo que essa decisão foi errada. A menos que eu tenha suficiente informação para fazer essa avaliação. Agora, toda a gente é livre de apreciar se a estrada, em vez de ter passado pelo sítio onde passou, pudesse ter passado na minha aldeia. Mais uma vez, não gostaria de entrar consigo nessa avaliação especulativa, porque, pelo menos para mim, não me traz orgulho nenhum, nem me traz conforto na medida em que já tive em situações de poder tomar essas decisões.  E, portanto, com certeza que as fiz no melhor que eu sabia, no melhor das minhas capacidades. 

Para ler o artigo completo no Jornal em PDF, faça já a sua assinatura, clicando em 'Assine já' no canto superior direito deste site.