Haverá mais plástico do que peixe no mar
POLUIÇÃO. Cientista portuguesa avança que as consequências dos plásticos têm no ecossistema e na saúde humana são várias, entre as quais o lixo de maiores dimensões à superfície do oceano e, por conseguinte, a morte de várias espécies marítimas.
A bióloga e coordenadora da organização ‘Ciência com Impacto’, Paula Sobral, defende que “se nada se fizer para travar o despejo contínuo de materiais altamente poluentes, em 2048, as toneladas de plásticos no oceano vão ultrapassar as dos peixes.
De acordo com a investigadora do MARE, nas últimas décadas, o lixo plástico, em que se incluem milhares de quilómetros de redes de pesca abandonadas, tornou-se a praga dos nossos mares.
Como solução para esta catástrofe, a pesquisadora sugere um aumento da regulamentação e da consciencialização das indústrias produtoras, que têm de incorporar na sua actividade os princípios da economia circular.
Segundo a bióloga, os microplásticos são partículas com dimensão inferior a cinco milímetros, algumas, não todas, são tão pequenas que não são visíveis à vista desarmada. “Esses microplásticos, a sua maioria, são fragmentos de objectos maiores que se vão degradando e ficam quebradiços”.
“Neste caso, regra geral, são granulados com origem industrial. Depois temos outros exemplos: a degradação das tintas dos edifícios e das embarcações, que acabam em flocos, as microesferas introduzidas em produtos esfoliantes de higiene pessoal”, esclarece.
Para Paula Sobral, as pessoas deitam lixo em qualquer sítio e o vento e as chuvas arrastam os lixos até às linhas de água, acabando no mar. O outro factor importante e essencial que justifica que esse lixo vá para o mar, explica, “é uma deficiente gestão de resíduos, que permite que eles escapem ao controlo”.
Numa entrevista ao DN, a cientista avança que as consequências que estes plásticos têm nos ecossistemas, na fauna e na saúde humana são várias, sendo que o mais visível é o lixo de maiores dimensões à superfície do oceano e esse lixo pode ser proveniente de actividades desenvolvidas em terra, mas também pode ter origem na pesca.
“Redes perdidas e abandonadas no mar continuam eternamente a pescar, acabam com todos os organismos que encontram e esse é um impacto muito importante. Talvez seja até o que chama mais a atenção das pessoas, ver animais emblemáticos como tartarugas ou mamíferos marinhos afogados e embrulhados em redes. Mas os impactos são muito maiores e mais graves do que esse tipo de imagens”, avalia, dando conta que, nos oceanos, existem partículas de todos os tamanhos que podem ser ingeridas por todo o tipo de organismos, dos maiores aos mais pequenos, além de que “os peixes mais pequenos comem partículas mais pequenas, os maiores comem partículas maiores e ainda se alimentam dos peixes mais pequenos”. “Essa cadeia alimentar chega até aos seres humanos”, refere a pesquisadora.
Quanto às consequências para a saúde pública dessa ingestão, a coordenadora da organização ‘Ciência com Impacto’ afirma que, até ao momento, não existem evidências científicas que o comprovem. “Temos a percepção de que não é bom estarmos a respirar e a comer partículas de plástico, mas não sabemos ainda quais são os efeitos no ser humano. “É preciso continuar a investigar nesta área”, conclui.
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