ANGOLA GROWING
Rui Carreira, CEO da Taag

“A liberalização do mercado não dá um aumento de receita de forma automática”

ENTREVISTA. CEO da Taag acredita que a companhia teria resultados positivos com a liberalização, visto que “Angola tem a possibilidade de se posicionar tanto como destino final, como plataforma de trânsito”, mas admite a necessidade de “afinar a estratégia comercial”.

“A liberalização do mercado não dá um aumento de receita de forma automática”

O que pensa da liberalização do mercado aéreo africano?

A liberalização do mercado aéreo africano pode vir a ser um mecanismo eficaz para aumentar a conectividade entre as grandes cidades do continente, promovendo assim o crescimento económico dos Estados pela via do aumento do volume de negócios, turismo, diversificação de economias dependentes e o combate ao isolamento de países encravados e insulares.

Acredita na possibilidade de, num curto espaço de tempo, a liberalização tornar-se uma realidade?

Acredito que seja um processo paulatino, pois já existe um engajamento firme ao nível dos chefes de Estado. É claro que cada país tem o seu próprio ‘timing’ ou que uns tenham receio de estar na linha da frente, pois os benefícios podem ainda não estar bem claros. Angola consta entre os países que não subscreveram a declaração de Yamoussoukro.

Esta posição pode ser entendida como uma protecção à Taag ou existem outras razões?

Angola subscreveu a Declaração de Yamoussoukro, contudo, pediu uma moratória para a sua implementação. Isso fez a maior parte dos Estados. Esta posição foi tomada porque as regras do jogo não estavam ainda bem definidas, na altura. Havia ainda por aprovar uma série de instrumentos jurídicos que só recentemente foram aprovados, como as regras de protecção dos clientes e contra a concorrência desleal, a definição da agência de execução e a resolução de litígios. É claro que, sem estas normas aprovadas, companhias, com algumas fragilidades, estariam expostas a situações que poderiam ser irreversíveis. Esta declaração é o alicerce para a implementação do mercado único SAATM (Single African Air Transport Market). O Presidente João Lourenço já deu instruções para a adesão de Angola. O trabalho de casa das nossas instituições já começou a ser feito.

Há um horizonte temporal para a adesão?

Não há um horizonte, porque depende de alguma produção legislativa que está fora do nosso controle.

A Taag correria grandes riscos de falência se hoje fosse implementada a liberalização do mercado aéreo com a adesão de Angola também?

Julgo que não. Angola tem a possibilidade de se posicionar tanto como destino final, como plataforma de trânsito (‘hub’), não só no contexto regional africano, como também intercontinental. A Taag tem ao seu dispor várias oportunidades de negócio, bastando para isso afinar a estratégia comercial de acordo com estes pressupostos.

Concorda com os estudos que dão conta que as receitas das companhias africanas cresceriam significativamente com a liberalização do mercado?

A liberalização do mercado não dá um aumento de receita de forma automática. Noutras paragens, esta liberalização ditou a morte de muitas empresas. É preciso pesquisar o mercado e ver as características e localização da procura para se definir a oferta adequada e reestruturar a empresa de acordo com a nova realidade.

Em termos de facturação, que taxa representa o mercado regional para a TAAG?

O mercado regional representa 30% da facturação, com potencial par crescer.

Como é que está o plano de expansão da Taag no continente?

A Taag pretende contribuir para o aumento da conectividade em África. Nesta perspectiva, pretende adquirir aeronaves adequadas à dimensão deste mercado que tem características próprias. É um continente grande em extensão geográfica, as grandes cidades e conglomerados populacionais estão separados entre si por longas distâncias em algumas regiões, o poder de compra da maioria das pessoas não é muito elevado e o turismo ainda não é uma indústria desenvolvida na maior parte dos Estados. Por isso, o nosso plano de expansão, além de ter de equacionar todos estes pressupostos, tem de ter em conta as capacidades de investimento da companhia, numa altura em que a situação económica do país apresenta algumas fragilidades. Vamos tentar servir alguns destinos para transformar Luanda num ‘hub’ regional e cooperar com as estruturas vocacionadas para ajudar o fomento do turismo em Angola.

A Taag precisaria de quantas aeronaves para cobrir os principais mercados do continente?

Isto é muito relativo. A Ethiopian Airlines tem 100 aviões e a Taag tem 13, só para estabelecer termos de comparação a título de exemplo. O mercado está aí. É preciso ter pujança financeira, suporte institucional e visão estratégica para definir a quantidade da oferta no curto, médio e longo prazos. Segundo estudo da IATA, com a implementação do mercado livre, Angola/África do Sul seria a segunda rota mais solicitada do continente, enquanto a Kenya, Tunísia e Gana são rotas com um forte potencial no tráfego.

Estes dados vão ao encontro dos estudos da Taag?

Estes destinos constam nos nossos estudos. Contudo, o grande destino que não foi mencionado é a Nigéria. Indiscutivelmente, dos maiores mercados em África. Nos planos da Taag, constam ligações para estes três países (Quénia, Tunísia e Gana) e também para a Nigéria? A médio prazo, Quénia e Gana estão nos nossos planos. Estamos a trabalhar para ir a Lagos ainda neste semestre, se os trabalhos preparatórios correrem bem.