“Angola vive momentos de muitas esperanças e desafios”
LITERATURA. Caracterizada pela forma intensa e romântica como escreve, Mira Clock, de 26 anos, é apaixonada pela escrita desde muito cedo. Com três obras publicadas, a jovem confessa que já foi “mais difícil” lançar livros em Angola. Em vésperas de eleições, acredita que Angola, apesar dos “desafios”, vive “momentos de muita esperança”.
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Como entra na escrita?
Nasci com a paixão pela literatura. Escrever, para além de ser uma acção muito natural, faz parte de mim. A escrita é uma necessidade, preciso de escrever para me expressar. É a melhor terapia que encontrei para esvaziar o meu peito e a minha mente. O gosto surgiu com o hábito de leitura. Comecei a escrever poemas aos 11 anos. Mas só aos 17, quando ingressei no LEV´ARTE, é que decidi ser escritora.
O que a motivou a escrever poesia e prosa?
Sou sortuda, filha de dois professores que também são bons leitores. Sempre tive o apoio dos meus pais. Comecei a escrever poemas porque foi o meu primeiro amor literário. Após ter publicado o meu livro de poemas, ‘Desabrochar’, comecei a ler outros temas e a desenvolver o interesse por novos desafios literários. Faz-me falta a ansiedade de aprender e arriscar coisas novas.
É difícil publicar livros em Angola?
Já foi mais difícil. Hoje já vão surgindo algumas editoras com qualidade e boa dinâmica na prestação dos seus serviços. Mas ainda fica dispendioso para os escritores custearem os serviços de edição, paginação e impressão das suas obras em Angola. Os custos estão cada vez mais altos, o que não é diferente noutros segmentos de negócios, trata-se de uma fase menos favorável para a economia angolana.
Quais são as maiores dificuldades?
Relativamente à edição e impressão, já não encontro grandes dificuldades. O meu último livro, ao contrário dos anteriores, foi editado e impresso cá em Angola. Porém, a dificuldade que ainda persiste é a distribuição. Existem poucas empresas distribuidoras com capacidade para expandir os livros por todas as províncias.
O amor é um factor de inspiração?
O estado de espírito em que o escritor se encontra é muito importante e pode influenciar a escrita. A minha inspiração é algo que resulta, muitas vezes, de factores externos. O que transmite quando escreve? A minha visão sobre as coisas.
Que significado teve para si ‘Palavras’ e ‘Sete Pecados’?
Participar destas antologias foi muito importante e pesou muito na minha decisão de publicar o primeiro livro.
Como vê a literatura em Angola?
Gostaria de contribuir mais e estar viva para ver a cultura do livro instalar-se nos lares. Se eu tivesse algum poder de decisão, ou mais capacidade de influência, gostaria de diligenciar acções para um dia testemunhar o momento em que as bibliotecas e as livrarias tivessem tanta demanda como os clubes nocturnos e as discotecas.
Os escritores são reconhecidos?
Em regra, sim. A comunicação social ainda não concede a mesma projecção que dá a outros artistas aos escritores, mas este cenário já foi pior.
Vive da literatura? Infelizmente, não. Gostaria muito de me dedicar totalmente à literatura e ganhar dinheiro com a arte, mas ainda não é possível. É preciso que o mercado literário cresça e que a cultura do livro se instale com mais afinco.
Como concilia a literatura com o resto da sua vida?
À medida que os outros campos da minha vida vão ganhando mais espaço, começa a ser mais difícil dedicar-me à literatura. Mas não parei de escrever. É uma necessidade, tento gerir o tempo de modo a que seja possível escrever sempre.
Em que difere ‘Mira do Desabrochar’ de’ Mira de Vozes da Cidade’?
Desde o lançamento do Desabrochar passaram cinco anos e muita coisa se alterou. A Mira do ‘Desabrochar’ era uma menina que estava a começar universidade e tinha sonhos e expectativas. E o tipo de escrita era mais melancólico, romântico e subjectivo. Mira do ‘Vozes da Cidade’ é uma jovem mulher com passos cada vez mais precisos no mundo profissional, com objectivos e horizontes bem definidos.
Qual é a sua auto-avaliação?
Amadureci. Apesar de não ter deixado de sonhar, perdi um pouco da minha inocência: “A vida aconteceu em mim”.
Quais são as suas referências?
Mia Couto, Pepetela, Ondjaki, Eduardo Agualusa, Fernando Pessoa e Florbela Espanca são alguns dos escritores que mais influenciam o meu ser artístico. Há um novo livro a caminho? Na verdade, há dois livros a caminho: ‘Amor e Milagre’ e ‘Devaneios’.
Como avalia o contexto sociopolítico que Angola atravessa?
Verifica-se um clima de muitas expectativas e ansiedade por mudanças, o que é normal tendo em conta as circunstâncias. Nota-se o acumular de uma série de desafios sociopolíticos e metas macroeconómicas que se pretende atingir na próxima República. Angola vive momentos de muitas esperanças e desafios.
PERFIL
Ana Zulmira da Silva Ramalheira, ou simplesmente ‘Mira Clock’, nasceu em Luanda, há 26 anos. Licenciada em Direito pela Universidade Metodista de Angola. É membro executivo do Movimento Literário ‘Lev‘Arte’, no qual se inscreveu aos 17 anos. Começou a escrever os primeiros textos aos 11 anos. Em 2012, lançou o primeiro livro de poesia intitulado ‘Desabrochar’, em Fevereiro de 2014, escreveu crónicas e outros textos para o programa ‘Amanhã é outro dia’ da emissora Luanda Antena Comercial (LAC). Em 2015, lançou o romance ‘Cartas a um ex-amor’. No ano a seguir, lança o ‘Vozes da Cidade’.










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