Auditor do BNA contra as políticas do FMI
RECOMENDAÇÃO. Antigo consultor de José Massano e membro do conselho de auditoria do banco central critica modelo de intervenção do FMI em Angola. E pede que, em vez de recomendações gerais, organismo apontasse mais soluções. FMI reage e diz que não é sua especialidade dizer como e onde Angola deve diversificar.
Um alto funcionário do Banco Nacional de Angola (BNA), recentemente nomeado para exercer funções no conselho de auditoria desta instituição, criticou o modelo de actuação do Fundo de Monetário Internacional (FMI), afirmado que o organismo não só deveria recomendar políticas, mas também apontar como o país deve fazer.
Jerónimo Lara considera que o organismo seria “mais útil” se apontasse, nas suas recomendações, como e onde o país deve começar para se desenvolver.
“A minha constatação é que, de facto, o FMI é uma grande escola, mas, quase sempre, estuda muito. E as conclusões que nos apresenta são aquelas que nós já sabemos. Quase sempre. Eu recomendo que o FMI também mude. Tal como recomendou aqui no relatório, tem de estar na linha de frente”, defendeu dirigindo-se ao representante do FMI, em Luanda.
Jerónimo Lara fazia estas afirmações, há uma semana, por ocasião da apresentação do relatório sobre as perspectivas económicas regionais para a África Subsariana, organizado pelo BNA em parceria com o FMI.
Deu exemplo da diversificação económica, sublinhando ser um processo que todos sabem “que é longo”.
“Como se deve fazer? No caso de Angola, o que é que se deve fazer? Onde é que deve começar? O FMI ser-nos-ia muito mais útil”, defendeu.
Este responsável, que exerceu nos últimos meses a função de consultor do governador do banco central José de Lima Massano, considera ainda que “não adianta” a organização identificar aspectos “familiares”.
“Se não, não vale a pena. Não adianta identificar questões que já nos são familiares. Quando falam, por exemplo, e é só exemplo: recomendo a diversificação da economia, promover o investimento privado. Tudo isto, qualquer um de nós pode dizer. O que é difícil é recomendar como se deve fazer”, reforçou.
Na mesma perspectiva, deu exemplo das recomendações sobre a formalização do mercado informal. Entende ser “preciso catalogar essas riquezas de microempresas e ainda fazer mais: potenciá-las com o crédito”.
“Fala-se da formalização do mercado informal. Mas é preciso acrescentar que não basta a formalização desses mercados. Reconhecemos que o mercado [informal] é um sector muito forte da nossa economia (de forma formal) e que contribui grandemente para o bem-estar e pela sobrevivência das famílias. Se nós acabarmos com o sector informal, estamos a matar-nos a nós mesmos, ou o país”, disse Jerónimo Lara, apontando para as medidas do FMI para o pais.
FMI defende-se
Por seu turno, Max Alier, representante do FMI, no país, considerou que não faz parte das funções do organismo apontar “como” e “onde” Angola pode investir.
“Os colegas que estão aqui nesta sala e que trabalham connosco sabem que as nossas recomendações são muitas específicas. Aliás, às vezes, são especificas de mais. Quando estamos diante de temas mais estruturais, como ambiente de negócios, como o sector para diversificar, avaliar o potencial de um sector ou de outros, isso não é nem nosso mandato, nem é nossa especialidade. Não temos especialistas para dizer como conseguir desenvolver o sector agrícola. Nas áreas mais macroeconómicas e especificas, temos colaboração abrangente em muitas áreas”, reagiu o representante da instituição financeira internacional liderada por Christine Lagarde.
Integrado recentemente ao conselho de auditoria do BNA, por nomeação do ministro das Finanças, Jerónimo João Lara é trabalhador do banco central há 26 anos, tendo ocupado vários cargos de gestão, com destaque, entre outras, às pastas de director do departamento do meio circulante, director do departamento de gestão de recursos humanos e delegado regional do BNA em Benguela, Uíge e Huambo.
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