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ANÁLISE DO BAD

Comércio interno “muito restrito”

TROCAS COMERCIAIS. Criação da Zona Tripartida de Comércio Livre (ZTCL), processo que continua em curso no continente, pode impulsionar comércio e investimento intra-africanos, consideram analistas do BAD.

 

 

O comércio interno em África tem aumentado nos últimos anos, mas continua “muito restrito”, considera o Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), no relatório sobre as ‘Perspectivas Económicas de África’, publicado no final do ano passado. A instituição ressalta que os bancos que operam em África representam cerca de um terço do valor total de financiamento do comércio no continente, que é estimado em 320 mil milhões de dólares.

“No entanto, apenas 19% do financiamento bancário ao comércio é direccionado para o comércio intra-africano, para além de não ser uniformemente distribuído no continente”, referem os analistas do banco.

De acordo com o BAD, o investimento proveniente de África tem sido liderado pela África do Sul, Quénia e Nigéria, orientando-se principalmente para a banca, o retalho e as telecomunicações. A África do Sul é o maior investidor na sua região. Cerca de 80% do investimento externo no Botswana, Lesoto, Namíbia e Suazilândia vem da África do Sul. Já em relação a alguns países pequenos como o Benim ou a Guiné-Bissau, o financiamento proveniente de outros países africanos representa mais de 30% dos fluxos externos totais. Entretanto, Marrocos tornou-se também num grande investidor, através de empresas da banca e seguros como o banco Attijariwafa e a seguradora Saham, mas o seu foco tem sido maioritariamente orientado para países de expressão francófona, conforme ressalta o BAD no seu relatório.

O norte de África é, no momento, a região que regista a proporção mais baixa de financiamento ao comércio intra-africano intermediado pelos bancos, com apenas 6%. Na África Oriental e Austral, cerca de 27% do financiamento bancário ao comércio é destinado ao comércio inter-regional, o que constitui a percentagem mais alta de África.

O BAD considera, no entanto, que a expansão do financiamento do comércio em África poderá reforçar a integração regional e promover a criação de emprego, ressaltando que, na actualidade, o comércio intra-africano é composto por 60% de produtos manufacturados e 40% de matérias-primas.

O BAD considera, por outro lado, que o fluxo de investimento africano tem crescido, mas não é ainda a torrente que muitos países desejariam, sendo que “as potencialidades são muito maiores, uma vez que outras regiões do mundo geram níveis muito mais elevados de investimento”.

O banco realça, por exemplo, que o investimento intra-africano representa apenas 12% do investimento externo total em África, quando, na Ásia, o investimento inter-regional corresponde a 33% do total do continente.

O facto de África não investir em si própria pode ter várias explicações, segundo a instituição financeira africana. Apesar da recente liberalização comercial, o BAD considera que África tem ainda “grandes barreiras tarifárias e não tarifárias”, que retraem o investimento externo. “Existem entraves normativos e estruturais; os mercados financeiros e de mercadorias são fragmentados. Estes factores impedem o aproveitamento das oportunidades transfronteiriças de investimento”, refere a instituição.