Covid-19 não resolve clima
ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS. Pesquisadores mostram-se pouco optimistas quanto à “preocupação que os governos e a população vão ter sobre o problema das alterações climáticas” face à necessidade de resposta a problemas mais básicos criados pelo impacto económico do novo coronavírus.
A pandemia da covid-19 pode provocar uma redução das emissões de gases com efeito de estufa de 4% em 2020, mas este valor é insuficiente para cumprir as metas previstas no acordo de Paris, adverte especialista.
“Na sequência da diminuição da actividade económica no mundo, há uma diminuição das emissões de gases com efeito de estufa para a atmosfera, mas essa diminuição não resolve o problema das alterações climáticas”, afirmou o investigador e professor catedrático Filipe Duarte Santos, da Universidade de Lisboa, durante uma conferência online sobre ‘Alterações Climáticas e Covid-19’.
Filipe Duarte Santos, que é também o coordenador do Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas (PIAAC) do Algarve, relativizou o impacto positivo que a pandemia está a ter no ambiente por via da redução dessas emissões contaminantes e adiantou que é esperada “uma diminuição, neste ano de 2020, de 1.600 milhões de toneladas de CO2”, mas sublinhou que esta redução “corresponde a uma diminuição percentual global de 4%, relativamente a 2019”.
O investigador considerou que “esta crise brutal” causada pela pandemia de covid-19 vai provocar uma redução de 4%” das emissões, mas frisou que, “para cumprir o acordo de Paris, seria necessário esse número anual subir (mais) 2% para atingir as metas estabelecidas” no acordo sobre redução de emissões alcançado na capital francesa em 2015.
“Era necessário que todos os anos, incluindo o actual e desde 2015, as emissões se reduzissem 6% por ano, por isso estão a ver a enormidade do desafio que a humanidade tem para resolver este problema”, alertou, antecipando que, após a pandemia, haja também “um aumento do consumo de combustíveis fósseis” que prejudicará essas metas e o ambiente.
Se à primeira vista se poderia pensar que a pandemia está a contribuir para ajudar o ambiente, a realidade mostra que muitos dos impactos que as alterações climáticas têm serão nefastos paras as gerações vindouras, como explicaram investigadores do PIAAC.
O aumento dos eventos extremos de precipitação e do nível médio do mar, o aumento de temperatura e dos períodos de ondas de calor, a diminuição dos níveis de precipitação e dos recursos hídricos são problemas que, segundo os especialistas e os cenários propostos no PIAAC, podem agravar-se até ao final do presente século caso a realidade actual não se altere.
Os pesquisadores mostram-se pouco optimistas quanto à “preocupação que os governos e a população vão ter no próximo ano ou dois sobre o problema das alterações climáticas” face à necessidade de resposta a problemas mais básicos criados pelo impacto económico da pandemia de covid-19.
“Vamos viver um período muito difícil do ponto de vista social e económico, que ninguém sabe neste momento medir, há um mês era um, daqui a um mês será outro, e vai fazer com que os governantes e a comunicação social estejam mais preocupados com temas como a saúde, a segunda vaga ou a vacina e se afastem, pelo menos no próximo ano, deste tema das alterações climáticas.”
Por isso, pedem aos políticos e decisores “mais responsabilidade” para “não deixar cair o tema” e manter o trabalho necessário no terreno para ajudar a mitigar os efeitos das alterações climáticas causadas pelo aquecimento global e aumento dos gases causadores do efeito de estufa.
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