Empresários contra Zona Franca na ZEE
INDUSTRIALIZAÇÃO. Ministério da Economia e Planeamento (MEP) diz ser “uma área que reúne infra-estruturas e meios apropriados” e garante benefícios fiscais aos investidores.
Vice-presidente da Cooperativa Agrícola Almeida Impulo de Quilengues reprova transformação da Zona Económica Especial (ZEE) em zona franca por “não agregar valor”, prevendo que “só poderá agravar ainda mais a mobilidade e o saneamento na capital”.
Almeida Pinho entende que a ideia de se avançar para ZEE não retira a grande pressão sobre Luanda, sendo por isso que na proposta entregue, em 2018, ao Governo, se defende a instalação da Zona Franca no município de Quilengues (Huíla), levando a que o empresário ou importador que queira fazer compras seja obrigado a percorrer cerca de 600 quilómetros dentro do território, numa perspectiva de igualmente insuflar o desenvolvimento do turismo.
“A ZEE está por cima de bairros e retiraria o brilho que se pretende dar a uma verdadeira zona franca”, argumenta o empresário, acrescentando que “a zona franca que queremos fazer é a exemplo das que já existem com qualidade a de Manaus (Brasil), Gilbraltar e Dubai”. “Quem vai construir são os privados dentro das leis do Governo e os custos não são muito avultados como se pretende fazer crer”.
Pinho considera ainda que “quem defende avançar para a ZEE não conhece o conceito de uma zona franca”, além de que “os equipamentos de quase todas as unidades industriais ali instaladas não são de alta velocidade, e por isso mesmo ultrapassados, o que também seria um revés na estratégia de produção em grande escala e promoção da competitividade”.
Para Domingos David, também empresário, “Luanda já está muito atolada com projectos que deviam ser implantados no interior para insuflar o desenvolvimento equilibrado do país”. “Não faz sentido instalar mais fábricas na ZEE porque isso só vai complicar ainda mais a mobilidade urbana”, afirma.
Quem também entra na conversa e apoia a ideia de David é o empresário Eliseu Gaspar assinalando que “se a zona franca for instalada longe de Luanda ou de uma outra cidade vai promover o desenvolvimento local, por um lado, e por outro, pode se constituir num factor de atracção de investimento estrangeiro, dadas as condições específicas destas zonas francas”.
Eliseu Gaspar que é também vice-presidente da Associação dos Industriais de Angola (AIA) acrescenta que “a sua instalação nos limites fronteiriços contribuiria para a correcção das assimetrias existentes entre o litoral e o interior”.
25 anos de incentivos fiscais
A proposta avançada pelo Ministério da Economia e Planeamento (MEP) radica no facto da ZEE “ser uma área que reúne infraestruturas e meios necessários a implantação desta iniciativa, na óptica de dinamizar o crescimento industrial do país”. O MEP assegura que as empresas que vierem para a futura zona franca beneficiarão de incentivos fiscais num horizonte de 25 anos renováveis.
Mas o empresário Almeida Pinho volta ‘atacar’, notando que “essa ideia de fixar a zona franca em Luanda não colhe e deve ser abandonada”. Lembra ainda que “fomos nós (Cooperativa Aurora Impulo de Quilengues) que propusemos ao Executivo um dossiê sobre as linhas mestras de uma verdadeira zona franca e fundamentamos a razão que nos leva a ‘arrastar’ o projecto longe da capital”.
Em Quilengues, onde já há um ‘embrião’ de fábrica de enchidos e iogurtes do grupo Jembas, a cooperativa adquiriu mais de 3.000 hectares só para zona industrial. No total estão disponíveis 14.000 hectares para zona franca. “Como a ideia do Governo salienta que ‘o desenvolvimento começa no município’, então está ali a nossa razão. É o momento certo para tirar a pressão sobre Luanda e os maiores centros urbanos, reduzindo despesas com o saneamento básico e não só”, observa ainda Almeida Pinho.
O diploma que estabelece as regras para criação das zonas francas já foi apreciado em Outubro do ano passado pela Comissão Económica do Conselho de Ministros.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...