ENTREGUEM-LHE ALGUM NOBEL. OU O DA PAZ OU O DA FOME!
Já que está na moda brincar-se aos Prémios Nobel, vamos a isso. Faz praticamente um ano desde que José Ramos-Horta defendeu a atribuição do Prémio Nobel da Paz a Angola. Disse-o, sem pestanejos, em Julho de 2024, numa conferência em Luanda. O pretexto do Presidente de Timor-Leste foi a “extraordinária experiência” de Angola no pós-guerra. Mais por cautela do que por conveniência, José Ramos-Horta não nomeou uma figura angolana específica. Destacou, é certo, José Eduardo dos Santos como o “autor de todo esse processo”, mas não o propôs isoladamente para o galardão. Preferiu antes apontar os “dirigentes angolanos” numa colocação tão genérica quanto abstracta. Nada que tenha causado surpresas. Há boas razões para acreditar que o líder timorense teria sugerido uma figura mais exclusiva, apontando José Eduardo dos Santos, se isso não significasse uma grave desfeita a João Lourenço.

Passado quase um ano, começou novamente a corrida ao Nobel, pelo que é hora de recordar o anseio de José Ramos-Horta. Escrito de outra forma, talvez seja a hora de considerar João Lourenço na equação.
Todas as mães sabem que o actual inquilino da Cidade Alta revela uma espécie de obsessão com a ideia de ficar o mais incrustado possível na História. Confunde-se sem dúvida com algum personagem que se quer eternizado como um obreiro de proporções homéricas. Acontece que o Prémio ‘Babacar Ndiaye 2025’ não tem nem prestígio nem aporta obra para tanto. Menos de dois meses depois de João Loureço ter vencido o prémio promovido pelo Banco Africano de Desenvolvimento, já ninguém se lembra dele.
O Nobel da Paz, este sim, torná-lo-ia eterno. Colocá-lo-ia no Olimpo de onde deseja ser lembrado. É possível, por isso, pensarmos na fixação de um compromisso tripartido com ganhos para todos. A João Lourenço, o “empregado” do povo angolano, seria oferecido o tão cobiçável Nobel da Paz no próximo ano ou no seguinte. Ao povo angolano, o “patrão” de João Lourenço, seria garantido um país livre do regime que, paradoxalmente, o sequestra e o escraviza. Por fim, o Comitê Norueguês do Nobel ficaria com a consciência limpa e saldaria a dívida de José Ramos-Horta. Acordo fechado, ganhos para todos.
Contrato simples com exigências do “patrão” tão básicas quanto perfeitamente alcançáveis pelo “empregado”, conforme se seguem.
Exigência um: o “empregado” começaria por interiorizar que, apesar de desejar o Olimpo, é terráqueo de carne e osso como os seus “patrões”, incluindo os que partilham e habitam com ele no seu partido. Exigência dois: sendo terráqueo, o patrão ficaria proibido de pensar que lhe assiste o direito de dar bênção a qualquer um que queira ser presidente do seu partido ou Presidente da República. Exigência três: ao “empregado” seria vedada qualquer hipótese de inventar cenários que lhe alimentem a suposta fantasia de manter-se no poder. Exigência quatro: o “empregado” instruir-se-ia ele próprio e toda a camarilha que o suporta a desamarrarem o Estado em todas as suas dimensões e latitudes. Assegurando nomeadamente a realização de eleições transparentes, a republicanização das forças de Defesa e Segurança, a libertação dos tribunais e da PGR, a emancipação dos órgãos de comunicação social do Estado e a segurança das vozes críticas. Exigência cinco: o “empregado” estaria obrigado, com ou sem vontade, a estancar a sangria da riqueza dos “patrões”, surripiada através de diversas formas de roubalheira a céu aberto. É esse o preço do Nobel da Paz para o nosso “empregado”. Ele que cumpra. Ainda há o 2026 e o 2027. Ou não cumpre e entreguem-lhe o Prémio Nobel da Fome.
O Cinto do Zé Povinho aperta que dói!