MÁRIO CAETANO JOÃO, MINISTRO DA ECONOMIA E DO PLANEAMENTO

“Estamos a ver muito pouco trabalho no que toca à titularidade da terra que serve de garantia junto do BDA”

Garante que, ainda este ano, a ZEE será transformada em zona franca. E acredita que os bancos comerciais participarão activamente no Planagrão, apesar de o Governo não pagar, desde 2019, as bonificações de juros de crédito, concedidos pelos bancos no âmbito do Angola Investe.

“Estamos a ver muito pouco trabalho no que toca à titularidade da terra que serve de garantia junto do BDA”

Enquanto ministro da Economia, tem a responsabilidade de conduzir o Planagrão. Entrentanto, quem olha para os números do programa se assusta tanto com os de referência como com as projecções. Qual é a opinião que tem sobre estas desconfianças?

Recebemos algumas contribuições. Uns a dizer que são irrealistas e outros a perguntar, porque é assim tão pouco. Tentámos ir pelo meio dourado. Estamos a medir por baixo, tendo em conta os recursos não só financeiros, mas também humanos. Isso do lado do trabalho e da produtividade. Estamos a ver também o terceiro factor, o da produção, que é a terra, isto no caso dos modelos ligados à agricultura. Fomos juntando todos esses factores de produção e conseguimos encontrar aquilo que são os potenciais em cada província e trouxemos aquilo que se espera para 2027 que conseguimos produzir a partir de 2023, cerca de seis milhões de toneladas de grãos. Estamos a falar de milho, arroz e trigo. Esses três cereais, e uma leguminosa que é a soja, foram escolhidos de tal forma que têm também um impacto estratégico. Os cereais são os bens agrícolas que têm uma capacidade de serem armazenados, portanto levam mais tempo a se degradarem. Depois temos também a componente de o milho e a soja serem catalisadores da produção animal, através da indústria das rações…

Há quem questione a razão de não se ter colocado nesse grupo o café, por exemplo…

O café é uma cultura de rendimento. As populações, grosso modo, quando produziam café era mais para criar capital, porque nas outras culturas como, por exemplo, o milho, o arroz, etc. São mais culturas para poderem suprir com as suas despesas correntes, quanto e quando vendem o café. Se lhes permite de facto criar capital o que pode ajudar as populações a saírem do ciclo da pobreza.

Mas tem o potencial de exportação…

Temos um grande potencial de exportação, de facto. Antes da guerra civil, antes de 75, éramos o 2º maior produtor de café em África e o 4º no mundo. Exportávamos cerca de 200 a 250 mil toneladas, por ano. Hoje estamos em torno das duas, três, quatro ou cinco. Temos um potencial enorme. Queríamos primeiro olhar para aquilo que são os determinantes da nossa inflação. São bens que, mediante um inquérito às populações, determinam os bens que eles procuram comprar constantemente. Esses é que impactam sobre a sua decisão e sobre a sua renda e, entre esses bens, o café não consta. Estamos completamente dependentes, ou muito dependentes em alguns produtos como, por exemplo, o trigo, da importação e precisaríamos de reverter este quadro. César dizia “dêem pão e jogos à população que ela vai adorar-vos”. Estamos a ir pelo pão e assim que tivermos o pão, vamos, é claro, alargar tudo isso. Isso não significa que não estamos a apoiar os investidores ou os produtores nacionais que queiram enveredar pelo café. O Banco de Desenvolvimento de Angola está a dar crédito relacionado com a produção de café, mas temos de ter um foco.

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