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POR CAUSA DA CRISE POLÍTICA E FINANCEIRA E EMPRÉSTIMOS MAL EXPLICADOS

FMI faz exame a Moçambique

19 Sep. 2016 Sem Autor Mundo

CONTAS PÚBLICAS. A braços com uma crise financeira, Maputo procura apoios internacionais, mas tem sido impedido por causa das dívidas por esclarecer. Os EUA e a Europa pressionam e o FMI começa a examinar as contas já esta semana. O presidente Filipe Nyusi desdobra-se em encontros.

Uma equipa do Fundo Monetário Internacional (FMI) vai estar em Moçambique esta semana para auxiliar as autoridades a fazer uma auditoria aos empréstimos descobertos em Abril e que suspenderam a ajuda internacional, mas em causa estão ainda reformas exigidas pela comunidade internacional. A decisão foi tomada durante um encontro entre o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, e a directora do FMI, Christine Lagarde.

Christine Lagarde salientou a necessidade de se introduzirem “novas medidas destinadas a estabilizar a economia e de esforços mais decisivos para melhorar a transparência, nomeadamente uma auditoria internacional e independente das empresas que foram financiadas no âmbito dos empréstimos divulgados em Abril.”

Filipe Nyusi reuniu-se também com um alto responsável do Banco Mundial (BM). A cooperação entre as autoridades moçambicanas e o FMI e o BM deteriorou-se em Abril, na sequência da descoberta de dívidas superiores a mil milhões de dólares que o anterior governo contraiu entre 2013 e 2014.

Na sequência da revelação dos empréstimos, o FMI suspendeu o pagamento de um empréstimo de mais de 180 milhões de dólares a Moçambique e exigiu a realização de uma auditoria forense para o reatamento da cooperação financeira.

Moçambique enfrenta uma grave crise económica traduzida pela descida do valor das matérias-primas de exportação, uma forte desvalorização do metical, subida da inflação, desastres naturais e o conflito militar no centro do país.

A descoberta em Abril de avultadas dívidas garantidas pelo Estado, entre 2013 e 2014, à revelia das contas públicas e dos parceiros internacionais, levou o FMI a interromper um crédito a Moçambique e os doadores do Orçamento do Estado a suspender os pagamentos, uma medida acompanhada pelos Estados Unidos, que também cessaram vários financiamentos bilaterais. Por isso, em Washington, Filipe Nyusi reuniu-se com o secretário de Estado norte-americano, John Kerry, que referiu o “grande desafio” que se coloca à economia do país.

Além da crise económica e da dívida, o secretário de Estado defendeu a necessidade de se “reduzirem alguns dos níveis de violência que tiveram lugar na relação com a oposição”, numa referência à crise política e militar entre o governo e a Resistência Nacional Moçambicana (Renamo). Citado na página do Departamento de Estado, Filipe Nyusi elogiou as “boas e estratégicas” relações bilaterais entre os EUA e Moçambique, fazendo também uma referência ao compromisso pela transparência. “Os EUA têm imensa experiência em termos de democracia, transparência e boas práticas e estaremos a partilhar e a aprender uns com os outros”, declarou.

As reuniões do presidente moçambicano estão integradas numa visita de trabalho de quatro dias aos EUA que passa por Washington e Texas. Os encontros de Nyusi com as instituições norte-americanas são vistas como de “grande relevância” para o restabelecimento da credibilidade do país e a normalização da ajuda externa. Os EUA são um dos principais doadores de Moçambique, com verbas de cooperação acima dos 300 milhões de euros anuais.

A norte-americana Anadarko lidera um dos dois blocos de gás natural na bacia de Rovuma, no norte, mas, à semelhança da ENI, líder do outro consórcio, ainda não tomou a decisão final de um investimento que se espera tornar o país africano num dos maiores produtores do mundo.