FMI pede rigor na concessão de novos créditos no BPC
BANCA. Organismo propõe reorganização interna no Banco de Poupança de Crédito e ?maior controlo na saída de novos créditos. Objectivo é prevenir perdas no balanço e novas alterações profundas na administração do maior banco estatal. Do banco central, espera-se mais supervisão.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) deixou um conjunto de advertências ao Governo para o reforço do sistema bancário, incluindo um novo modelo de reorganização interna no Banco de Poupança e Crédito (BPC) e maior controlo nas políticas de concessão de crédito do banco.
Do conjunto de recomendações à gestão do maior banco público, parte das quais incluída no relatório de missão do FMI a Angola ao abrigo do IV artigo, sobressaem os casos do crédito malparado, já que, pelo segundo ano consecutivo, a entidade bancária lidera o ranking do crédito de todo o sistema, com 927,3 mil milhões de kwanzas cedidos, mais de 50% dos quais em risco de recuperação.
De visita ao país de 3 a 16 de Novembro, a missão liderada por Ricardo Veloso e que reuniu com o Governo concluiu que, para se evitarem riscos futuros no balanço do BPC e reestruturações de fundo ao conselho de administração, é necessária a intervenção do Banco Nacional de Angola, com aumento da supervisão.
“É preciso que o BPC se reorganize internamente, para que o problema que aconteceu agora não se repita no futuro. Que este banco tenha um critério mais selectivo na concessão de novos créditos, para que os créditos que forem dados sejam créditos recuperáveis e de bom rendimento para o banco”, resumiu o chefe da missão do FMI, em resposta a uma pergunta do VALOR, na conferência de imprensa de balanço de missão.
Até 31 de Dezembro do ano passado, as contas de balanço do BPC evidenciavam um resultado líquido de 8.289 milhões de kwanzas, uma redução de 6,9%, quando comparado com os 8.907 milhões inscritos nas contas de balanço de igual período anterior.
Apesar do crescimento da margem financeira do banco, que resulta de intermediação financeira em 18% para 62,9 mil milhões de kwanzas, o banco não conseguiu manter o ritmo de crescimento dos dois últimos anos. A variação negativa nos lucros é também explicada pelo aumento da provisão do crédito de recuperação duvidosa, que subiu para perto de 100%, ao sair 32.480 milhões de kwanzas para 60.319 milhões.
“Os bancos angolanos têm aumentado provisão para fazer face ao aumento do malparado, que é um desafio positivo. Estão a ser mais selectivos na concessão de novos créditos, para proteger os seus balanços. Isto também é positivo”, sublinha Ricardo Veloso, ao avaliar os níveis de malparado na banca nacional.
MAIS BANCOS PÚBLICOS AVISADOS
Além do BPC, mais dois bancos públicos receberam advertências do FMI. É o caso do Banco de Comércio e Indústria (BCI) e do Banco de Desenvolvimento de Angola (BDA), que sofreram recapitalizações logo no início do ano, segundo confirmou Veloso, na conferência de imprensa de fim de missão.
O BDA, que este ano declarou prejuízos de 400 milhões de dólares acumulados durante os 10 anos de existência, já anunciou um plano de reestruturação do modelo de operação e concessão de novos financiamentos, que inclui a reestruturação de projectos que se mostrem viáveis.
Para o FMI, a crise está a contribuir para o aumento do malparado e demais alterações no sistema financeiro, realidade que, segundo o organismo, não é exclusiva a Angola. “Qualquer sistema financeiro, em Angola ou em outro país, que sofra o choque que o sistema financeiro angolano enfrenta, e que sai de taxas de crescimento muito alta e para uma estagnação económica, vai sofrer com aumento crédito malparado”, defende o organismo dirigido por Christine Largarde.
MAIS SACRIFÍCIO À VISTA
Para o FMI, e apesar das reformas já executadas, nomeadamente a melhoria do saldo fiscal primário não petrolífero e desvalorização do kwanza face ao dólar, são necessárias medidas adicionais para prosseguir o ajustamento à nova realidade dos mercados internacionais de petróleo.
Ao Banco Nacional de Angola, o FMI recomenda a continuidade dos esforços para mitigar os factores determinantes e os riscos resultantes da perda das relações com bancos correspondentes, desafio que, segundo o organismo, está a afectar outros países.
“O atraso na implementação dessas medidas irá aumentar os custos de ajustamento no futuro e preterir os seus benefícios”, alerta a missão do FMI, que deve tornar publico o resultado da visita a Angola e do encontro com o Governo ainda no início de Janeiro de 2017.
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