Gás metano ameaça planeta
CLIMA. Pesquisadores revelam que aumento, nos últimos 10 anos, das emissões do metano, potente gás do efeito estufa, ameaça tornar ainda mais difícil luta contra aquecimento global. Metano pode ser tão letal quanto dióxido de carbono.
Um grupo de investigadores, que coordenou um balanço mundial realizado por 81 cientistas de 15 países, alertou, num editorial publicado na semana passada, para o “dever” de se“tentar quantificar e reduzir as emissões de metano urgentemente”.
Depois de uma ligeira diminuição entre 2000 e 2006, a concentração de metano na atmosfera aumentou 10 vezes mais rapidamente na década seguinte, afirma o estudo, publicado na revista científica ‘Earth System Science Data’.
Os pesquisadores referem que “manter o aquecimento abaixo dos dois graus já é um desafio considerável”, afirmaram, em referência ao objectivo da comunidade internacional estabelecido no final de 2015 no Acordo de Paris. Este objectivo pode tornar-se cada vez mais difícil “se as emissões de metano não forem reduzidas forte e rapidamente”, alertaram.
Os cientistas trabalham com várias hipóteses para explicar o aumento, como a exploração dos combustíveis fósseis ou, mais provavelmente, as actividades agrícolas.
As concentrações aumentaram cada vez mais rápido desde 2007, com uma forte aceleração em 2014 e 2015. “A velocidade de aumento aproxima-se de maneira preocupante ao cenário mais pessimista”, ressalta Marielle Saunois, da Universidade de Versailles Saint Quentin, citado pelo jornal brasileiro G1.
De acordo com o estudo, 60% das emissões de metano estão vinculadas às actividades humanas, sendo que 36% delas provêm da agricultura, da pecuária e do tratamento de resíduos. Os pesquisadores priorizam essa hipótese para explicar o aumento das emissões. Segundo a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), o número de cabeças de gado passou de 1,3 mil milhões em 1994 para 1,5 mil milhões 20 anos depois. Mas também não excluem o papel dos combustíveis fósseis neste aumento.
No total, 21% das emissões de metano devem-se à exploração de carvão, petróleo e gás, dado que, desde a sua extracção até às redes de distribuição, as fugas de metano são muito frequentes. “A partir dos anos 2000, há uma grande exploração de carvão na China, e a exploração de gás nos EUA também está a aumentar”, afirma Saunois. Por outro lado, o permafrost, o solo congelado das altas latitudes, também pode liberar metano quando se funde.
“Apesar deste ser um dos grandes temores dos climatologistas, nesta fase, ainda não vemos um aumento anormal das concentrações”, tranquiliza o pesquisador e co-autor Philippe Bousquet, acrescentando que estas “emissões podem aumentar com o tempo, mas isso ocorrerá ao longo de décadas”. Em relação ao forte aumento das emissões nestes dois últimos anos, os cientistas não encontram explicações. Segundo Bousquet, “pode ser de origem natural”. “Mas se se prolonga por mais do que três ou quatro anos, seria necessariamente humano”.
Embora não se saiba a origem, podem adoptar-se medidas para reduzir ou capturar metano: metanizadores nas fazendas, modificação dos protocolos de irrigação dos arrozais, evitar as fugas, etc. “Podemos reduzir estas emissões mais facilmente, de maneira menos coercitiva, do que as de CO2, apoiando, ao mesmo tempo, a inovação e o emprego. Portanto, não devemos renunciar a isto”, insiste Philippe Bousquet.
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