Kwanza, a mais fraca entre as africanas da OPEP
DESVALORIZAÇÃO. Nenhum exportador de petróleo africano viu a sua moeda cair mais que o kwanza, desde o início da crise do petróleo. Moeda nacional perdeu 122,1% do seu valor de compra face ao dólar. No continente, só é seguida pela naira, que caiu 119,5%. Venezuela é quem mais sofre no mundo. E gasta 10 mil bolívares para comprar hoje um dólar.
O kwanza é a moeda dos países exportadores de petróleo africanos que mais perdeu valor face ao dólar dos EUA, com uma queda de 122,1%, com base nas taxas de câmbio diárias do Banco Nacional de Angola.
Comprar um dólar custava, até 31 de Janeiro de 2014, apenas 97,8 kwanzas, mas o valor mais do que duplicou, ao passar para 217,3 kwanzas, até à semana passada, precisamente a 12 de Abril. O banco central viu-se obrigado a adoptar várias medidas para travar o diferencial entre preço do dólar no mercado negro e no oficial, que, de dia para dia, não parava de aumentar. A mais recente medida do Governo foi a implementação do câmbio flutuante, desde o inicio deste ano.
De lá para cá, o kwanza perdeu cumulativamente 31% do seu valor face ao euro (moeda que rendeu o dólar nas cotações base em Luanda), desde o início do modelo de taxa de câmbio flutuante, introduzida por José de Lima Massano, governador do banco central.
Angola tornou-se, assim, no país africano membro da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) que mais perdas sofreu no valor da moeda, seguido imediatamente pela Nigéria, cuja moeda, a Naira, caiu 119%, de Janeiro de 2014 até quinta-feira da semana passada, de acordo com as taxas de câmbio diárias dos bancos centrais.
Também caíram as moedas da Argélia e Líbia, em 46,7% e 5,6%, respectivamente, outros dois países exportadores africanos na OPEP. Para os quatro casos, a justificação é a queda do preço do barril desde 2014. Foi em meados desse ano, em Junho, em que se notaram as primeiras descidas. A 9 de Setembro, o petróleo saía definitivamente da ‘casa’ dos 100 dólares para os 99,16. E nunca mais regressou.
Se para o kwanza o petróleo atirou o poder de compra para níveis mais baixos da sua história recente, o cenário é ainda mais assolador para o resto dos exportadores de petróleo pelo mundo, sobretudo para a Venezuela. De acordo com os dados disponíveis, a moeda do país, bolívar, já perdeu, desde Janeiro de 2014, 710,9% do seu poder de compra face ao dólar, a maior desvalorização de moeda na OPEP nesse período.
O quadro para Venezuela é ainda pior se recuarmos o gráfico para o início do regime que impera no país, desde a tomada de posse de Hugo Chavez, o antecessor do actual presidente, Nicolás Maduro. A taxa de câmbio do dólar aumentou 3.000.000%. Nesse período, os venezuelanos gastavam 17.980 bolívares para comprar um dólar, no mercado paralelo.
Depois da Venezuela, segue-se o Irão, outro não africano que viu a sua moeda despencar para mais da metade do seu poder de compra face ao dólar. Segundo pesquisas do VALOR, o rial iraniano caiu 56,4%, ao sair de 24.916, em Janeiro de 2014, para os 38.977, na compra de apenas um dólar.
Queda ligeira
Desvalorizam-se ainda as moedas do Kuwait, Iraque, Qatar e da Arábia Saudita, para níveis de 7,1%, 1,1% 0,6% e 0,05%, respectivamente, valores muito abaixo dos registados nos exportadores africanos e na Venezuela.
Se no caso do kwanza o poder de compra quebrou para os níveis mais baixos da história recente, ou seja, para o dirrã e sucre, moedas dos EAU e do Equador, respectivamente, a desvalorização foi de 0%, já que comprar um dólar hoje em dia custa o mesmo do que se podia fazer há cinco anos.
A luta dos membros da OPEP e vários ‘simpatizantes’ (países produtores não-OPEP) é a de baixar cada vez mais os níveis de produção, devido aos excessos no ‘stock’ e aos estragos que a redução do preço causou na grande maioria dos países membros, incluindo Angola.
O próximo comité de acompanhamento ministerial conjunto de membros e não membros da OPEP foi agendado para este mês, na Arábia Saudita, e deve discutir a possibilidade de expansão do acordo de redução da produção além de 2018, segundo o ministro da energia saudita, citado pela Reuters.
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