ALERTA A UNICEF

Milhões de crianças em risco

POLUIÇÃO. O mundo respira um ar seis vezes mais poluído do que seria normal. ?Por isso, os níveis de mortes provocadas pela poluição começam a ser comparados aos números da malária e da sida.

Um estudo do Fundo das Nações Unidas para a Infância, UNICEF, divulgado na semana passada, alerta que cerca de 300 milhões de crianças em todo o mundo respiram um ar com níveis de poluição seis vezes superior aos limites recomendados internacionalmente. O relatório acentua que o ar é tão poluído que podem causar danos físicos, incluindo no cérebro em desenvolvimento.

O director-executivo da UNICEF, Anthony Lake, afirmou que a poluição do ar “é um dos principais factores que contribuem para a morte anual de cerca de 600 mil crianças menores de cinco anos – e uma ameaça para a vida e o futuro de milhões de crianças”.

No prefácio do relatório, Anthony Lake sublinha que são mais as mortes de crianças todos os anos devido à poluição atmosférica do que os números combinados das mortes de crianças devido à sida e à malária. Estas mortes representam um custo de 0,3% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial e está a agravar-se.

Os pulmões das crianças estão ainda a desenvolver-se, tal como o sistema imunitário, em especial quando são mais jovens. Por isso, a poluição atmosférica tem efeitos especialmente maus e duradores. Alguns estudos da UNICEF mostram que a capacidade respiratória dos pulmões de crianças que viveram em ambientes poluídos ficou reduzida em 20%. Além disso, são famílias pobres, que têm pouco acesso a cuidados de saúde e alimentação adequada, que mais estão sujeitas a estas más condições ambientais, o que agrava a situação.

Uma em cada seis mortes de crianças, com menos de cinco anos em 2015, deveu-se a pneumonia, uma doença em que em metade dos casos é causada pela poluição ambiental. Quer dizer que mais de 920 mil mortes se deveram à poluição.

A UNICEF publicou este estudo uma semana antes do início da conferência da ONU sobre o clima, a COP22, que se realizou de Marraquexe, Marrocos, que começa esta segunda-feira (7) e vai até 18 deste mês. É uma oportunidade para renovar o apelo aos líderes mundiais para que ajam em prol da redução da poluição atmosférica.

O relatório ‘Clear the air for children’ usa imagens recolhidas via satélite para mostrar, pela primeira vez, onde vivem e quantas crianças estão expostas à poluição atmosférica que excede os níveis internacionais definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com as imagens de satélite, cerca de dois mil milhões de crianças vivem em zonas onde a poluição atmosférica, causada por factores como as emissões de veículos, a utilização de combustíveis fósseis pesados, as poeiras e a queima de lixos, excede os limites de qualidade mínima do ar definidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

É na Ásia do Sul que se encontra o maior número de crianças, 620 milhões, a viver nestas circunstâncias. Segue-se África, com 520 milhões. Na região da Ásia Oriental e Pacífico 450 milhões vivem em zonas que excedem os limites estabelecidos.

O estudo analisa também os efeitos nefastos da poluição do ar em espaços fechados, causada sobretudo pelo uso de combustíveis como carvão e madeira para cozinhar e aquecimento, que afecta sobretudo as crianças de agregados familiares de baixo rendimento em zonas rurais.

As poluições atmosférica e do ar, em espaços fechados, estão directamente relacionadas com doenças como a pneumonia e outras do foro respiratório, que são a causa de morte de uma em cada dez crianças menores de cinco anos, o que torna a poluição do ar num dos principais riscos para a saúde das crianças.