Negócio de cabelo continua atractivo
ESTÉTICA. Comércio de cabelo natural foi abalado pela crise, mas operadores recusam-se a mudar de negócio. E sugerem a construção de uma fábrica para fortalecer o sector.
Vendedoras de cabelos naturais e orgânicos consideram que, apesar do impacto significativo da crise nos lucros, o negócio continua a ser uma “boa opção”, face à crescente tendência de consumo desses produtos.
Um levantamento das Nações Unidas, de 2013, colocou Angola como o 12.º importador de cabelo da Índia, reclamando um total de 171 toneladas, contra as 63 mil toneladas importadas da China, no valor 272 mil dólares, no mesmo período.
A África do Sul e a Indonésia preenchem a lista das quatro principais origens de cabelos para a venda e nem a crise de divisas derrubou o negócio. As vendedoras porque a grande maioria são mulheres tiveram, entretanto, de fazer ajustes nas contas para manter as margens.
As que adquirem os produtos na África do Sul, por exemplo, passaram a privilegiar a entrada por via terrestre, através da Namíbia. Aí juntam-se em grupos de cinco ou seis pessoas e partilham os custos de alojamento em ‘guesthouses’ nos arredores da Joannesburgo, para acederem às lojas, onde um monte de 200 gramas de cabelo cacheado chega a custar seis dólares, o equivalente a 1.430 kwanzas, pelo câmbio oficial. Já o ondulado, nas mesmas quantidades, fica entre 15 e 23 dólares, equivalendo a 3.500 e 5.500 kwanzas. Quem ruma para a China é obrigado a gastar mais em bilhete de passagem (169 mil kwanzas em média), mas compensa o esforço com o custo do produto que fica quase a metade dos preços Árica do Sul.
De regresso a Angola, as regras são as mesmas. Retalham o monte de cabelo de 200 gramas em três pedaços ou mais, e facturam mínimos de nove mil kwanzas, com as revendedoras do mercado do Kikolo em Luanda, e não só. “As vendas, normalmente, compensam as viagens, porque num monte de umas 500 gramas, comprado o equivalente a 261 mil kwanzas, pode sair três ou mais montes de cada 100 mil kwanzas”, declara Débora Vingange, comerciante há mais de oito anos.
Rita Quintas, de 38 anos, que compra a mercadoria na África do Sul, China, Índia e Indonésia, também acredita ter mais lucros em relação às comerciantes que compram cá, para depois revenderem nos mercados e bairros. Já Nádia Mtamba, revendedora do mercado dos Imbondeiros, no Kicolo, explica que “o cabelo cacheado é o mais procurado, não por ser o mais barato”, mas por ser a preferência da maioria das pessoas. “Temos cacheado de 3.500, de quatro, cinco e 10 mil kwanzas. E até se pode encontrar de 150 mil kwanzas, mas não ganhamos mais de mil na venda de cada monte”, acrescenta.
Outra revendedora, também do Kicolo, exige das autoridades uma fábrica e justifica-se. “Este negócio já nos deu muita coisa. Peço ao Governo que construa uma fábrica de cabelos, assim como temos a de postiço, para não comprarmos o produto noutros países”, solicita Teresa Futssi, para quem a fábrica contribuiria também para as receitas arrecadadas por via dos impostos.
Além das vendedoras convencionais, há as comerciantes que compram cabelos para criar perucas, como é o caso de Tânia, vendedora do mercado do Kicolo, que assegura ter sucesso financeiro. Transforma os cabelos em perucas, vende a 20, 30 e há até de 45 mil kwanzas. “Tenho tido clientes, o ‘afrontelense’ é o que mais anda”, garante.
NEGÓCIO MUNDIAL
Segundo as Nações Unidas, em 2011, a exportação de cabelos rendeu à Índia 393 milhões de dólares, subindo para 721 milhões no ano seguinte.
Para a ONU, a razão para o aumento é simples: a moda. Dado o aumento de utilizadores em todo o mundo, o número de fabricantes também aumentou nos últimos cinco anos.
Segundo alguns especialistas em estética, a venda de cabelos em Angola teve início no final do século XX, tendo-se consolidado após o fim da guerra, por conta das telenovelas, filmes e anúncios publicitários que influenciaram novos padrões de beleza em mulheres jovens e adultas.
JLo do lado errado da história