NOVA ADMINISTRAÇÃO APRESENTA RESULTADOS

Receita da Sonangol queda 5,47%

DRESULTADOS. Nova administração questiona política de investimento da companhia nos últimos 15 anos, centrada na diversificação fora do ‘core business’ e na internacionalização da empresa, justificando que não gerou valor esperado para único accionista Estado.

A receita bruta da Sonangol deve cair 5,47%, este ano, saindo dos 16.212 milhões de dólares para os 15.325 milhões de dólares, com a tendência de queda a manter-se desde a instalação da crise. Em 2014, a facturação da petrolífera recuou 38,4% para os 24.657, depois de ter registado 40.070 milhões de dólares no ano transacto.

A Sonangol divulgou os resultados, na última quinta-feira, indicando a realização de um diagnóstico que cobriu “a situação financeira e fiscal, a organização, os processos, os sistemas de informação e as pessoas” e que revela uma “situação bastante mais grave do que o cenário inicialmente delineado”.

Apesar da queda da receita bruta, os custos operacionais não “diminuíram tanto” em termos nominais. Dos 14.443 milhões de dólares do ano passado, as despesas correntes devem recuar cerca 17,2% para os 11.957 milhões de dólares em 2016.

Tal como a facturação, na sequência de perdas seguem os lucros da companhia que, desde há quatro anos, registam pesados recuos. Entre 2013 e 2015, os lucros derraparam 87,4%, dos 3.089 milhões de dólares para os 389 milhões de dólares. Para 2016, estima-se uma situação mais agravada, já que, segundo a companhia, “não haverá dividendos para o accionista Estado”.

Em relação aos investimentos, no ano passado, a empresa aplicou 4.683 milhões de dólares em projectos diversos, “incluindo fora do sector do petróleo e gás”, estratégia diferente adoptada pela nova administração este ano em que os foco está virado para projectos de exploração e desenvolvimento petrolíferos que devem absorver 3.303 milhões de dólares.

A Sonangol declara que tem honrado o pagamento das prestações mensais referentes às dívidas com a banca, mas reconhece que o incumprimento por parte da empresa de convénios financeiros, em 2015, com os bancos “resultou num conjunto de constrangimentos” que limitaram o acesso ao financiamento programado para 2016.

Com a dívida total calculada em 9.851 milhões de dólares, a administração da petrolífera pública defende que existe a necessidade de a empresa contrair um novo empréstimo estimando em 1.569 milhões de dólares, justificando que existem compromissos financeiros por financiar ainda este ano.

A nova administração questionou a política de investimento da petrolífera implementada nos últimos 15 anos, afirmando que a estratégia centrada na diversificação fora do ‘core business’ e na internacionalização da empresa não gerou o valor esperado para o accionista Estado. A certeira de investimentos da última década e meia criou “projectos problemáticos, com a Refinaria do Lobito e o Terminal Ocêanico da Barra do Dande”, além de outras aplicações avultadas sem retorno, fora do negócio principal.

A refinação de combustíveis não escapou aos reparos da gestão da maior empresa pública, apontando uma produção limitada e que não ultrapassa os 20% do consumo total. As necessidades de importação reclamam, em média, cerca de 170 milhões de dólares por mês, o que torna o acesso às divisas para o pagamento a fornecedores externos “muito desafiante” para a Sonangol. “Esta situação é agravada por existirem dívidas cumuladas referentes à totalidade de 2015 e ao primeiro trimestre de 2016”, aponta a companhia em comunicado que replica a intervenção de Isabel dos Santos.

40 MILHÕES USD PARA INACTIVOS

O diagnóstico realizado pela equipa de Isabel dos Santos identificou cerca de 22 mil pessoas ligadas ao Grupo Sonangol, oito mil das quais como colaboradores activos. Os não activos estão contabilizados em 1.100 colaboradores e pesam mais de 40 milhões de dólares por ano, nos custos operacionais da companhia. Mais de oito mil pessoas ligadas à Sonangol são trabalhadores de empresas de trabalhos temporários, ao passo que os bolseiros internos e externos estão estimados em 1.934 estudantes.

Elevadas camadas hierárquicas que dificultam o processo de tomadas de decisões e chefias sem a visão transversão do negocio são os ‘males’ encontrados na parte organizacional da Sonangol, além funções duplicadas entre empresas do mesmo grupo e um número elevado de sociedades ligadas à empresa principal.

 

O antídoto

Identificado o conjunto de insuficiências, a nova administração declara ter lançado um “profundo” programa de reestruturação interna, alicerçado na “transparência, rigor, excelência e rentabilidade” e acredita que vai “libertar” todo o potencial da empresa.

Entre as medidas já em curso, constam o ‘programa Sonalight’, que prevê a redução de custos, por via da “renegociação e ou cancelamento de contratos, racionalização de gastos, dimensionamento correcto das operações e revisão da política de compensações”. O programa já permitiu prever poupanças superiores a 240 milhões de dólares anuais. A Sonangol diz-se “profundamente” comprometida com o processo de transformação, pelo que está focada no redesenho das estruturas organizacionais, com um alinhamento de políticas de subsídios com práticas na indústria. Inclui a dinamização de um programa pré-reformas, além da resolução da situação dos colaboradores não activos e o redesenho de um novo modelo de gestão de bolsas.