Trégua pode animar economia
PAZ. Empresários já se apressaram a saudar período de paz alargado por mais dois meses. Acreditam que pode voltar a trazer investimentos, numa economia que atravessa maior crise dos últimos anos. União Europeia e EUA também saúdam decisão do governo e da Renamo.
A CTA (Confederação das Associações Económicas) mostrou-se satisfeita com a a prorrogação do prazo da trégua em Moçambique, por mais dois meses, declarada pela Renamo, principal partido de oposição. Os empresários estão convencidos que a decisão vai “animar a economia” e abrir espaço a novas perspectivas. “Esta decisão desperta grandes expectativas económicas, não só para a comunidade empresarial e para os investidores estrangeiros, mas também para todo o povo”, afirmou o vice-presidente da CTA, Agostinho Vuma.
Apesar de destacar a trégua como um “grande passo”, o vice-presidente da CTA entende que a consolidação de uma paz permanente é uma das principais condições para a manutenção de um bom ambiente de negócios, apelando ao governo e à Resistência Nacional Moçambicana (Renamo) para encontrarem uma solução definitiva. “Recebemos várias solicitações de investidores estrangeiros que estavam à espera da paz para investir. Temos estado em contacto com empresários da Turquia, Chile e outros países”, revelou o vice-presidente da CTA.
Por causa do conflito, os preços dos produtos en Moçambique dispararam nos últimos tempos e a CTA acredita que vão começar a estabilizar em função da suspensão das escoltas militares obrigatórias nas principais estradas do país.
Também a União Europeia (UE) considerou a trégua “um passo importante” na construção da confiança. “Trata-se de um passo importante no sentido da construção de confiança e da busca de um resultado sustentável nas negociações, de uma paz duradoura, de estabilidade e de democracia”, declarou a Delegação da UE em Moçambique, vinculando os chefes de missão europeus acreditados em Maputo.
Na curta mensagem, os chefes de missão “saúdam a suspensão temporária das hostilidades decidida pelo Governo e pela Renamo” e a UE, uma das entidades envolvidas na mediação das negociações de paz, compromete-se a continuar a apoiar Moçambique “a alcançar estes objetivos para o bem-estar de todos os moçambicanos”.
Outro entusiástico apoio partiu dos EUA. Washington saudou o prolongamento da trégua, que considera “um avanço significativo para uma paz duradoura”, e elogiou a coragem do presidente moçambicano e do líder da Renamo.
A representação dos Estados Unidos manifestou igualmente a a esperança de que, “com base nesta conquista”, o Governo e a Renamo “possam demonstrar coragem igual na resolução das diferenças políticas” e estabelecer “uma paz permanente e a base democrática necessária para o desenvolvimento socioeconómico de todos os moçambicanos”.
O líder da Renamo, Afonso Dhlakama, anunciou o prolongamento por 60 dias da trégua temporária declarada na semana anterior, para dar tranquilidade às negociações de paz em Moçambique. “Esta trégua ou prorrogação é para criarmos um ambiente favorável para podermos assegurar o diálogo em Maputo. Isto é, tranquiliza ambos os lados, Renamo e o Governo de Moçambique, para que as coisas possam correr bem. E, por outro lado, oferecer a paz aos moçambicanos”, afirmou Dhlakama, em declarações por telefone aos jornalistas reunidos na sede nacional do maior partido de oposição, na capital do país.
O segundo anúncio de trégua de Afonso Dhlakama surgiu um dia após ter mantido uma conversa por telefone com Filipe Nyusi para fazer o balanço da cessação de hostilidades de uma semana, declarada pelo presidente da Renamo a 27 de Dezembro.
O centro e norte de Moçambique estão a ser assolados há mais de um ano pela violência militar, na sequência da recusa da Renamo em aceitar os resultados das eleições gerais de 2014, exigindo governar em seis províncias onde reivindica vitória no escrutínio.
Vários ataques a alvos militares e civis e emboscadas nas estradas foram atribuídos à Renamo, que por sua vez acusa as Forças de Defesa e Segurança de operações na região da Gorongosa, onde alegadamente se encontra Afonso Dhlakama.
Na sequência da trégua, a polícia moçambicana anunciou a suspensão das escoltas obrigatórias na estrada Nacional 1, entre Save e Muxúnguè e entre Nhamapadza e Caia, em Sofala, e também na Nacional 7 entre Vanduzi (Manica) e Changara (Tete).
Além da crise política, Moçambique atravessa uma conjuntura económica difícil, marcada pela subida do custo de vida, desvalorização do metical, aumento da inflação e as consequências da seca que assolou o país em 2016, deixando cerca 1,5 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar.
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