Jonuel Gonçalves, economista, professor universitário

“Vera Daves tem de começar a pensar em negociar uma moratória para a dívida. Isso não pode continuar assim”

Economista com vários livros publicados sobre a economia e a história de Angola, Jonuel Gonçalves entende que a imagem do país “ficou melhor” na luta contra a corrupção no Governo de João Lourenço, mas que Angola perdeu a oportunidade de triunfar no processo de recuperação de activos. E que tudo continua nas mãos dos mesmos. Defende uma amnistia para quem desviou capitais com garantias de que os processos judiciais parem. Jonuel Gonçalves critica as constantes mudanças na equipa, defende a aposta em quadros fora do círculo do MPLA e gostaria que o Governo suspendesse o pagamento da dívida.

 

“Vera Daves tem de começar a pensar em negociar uma moratória para a dívida. Isso não pode continuar  assim”

O livro ‘Angola cinco séculos de guerra económica’ é uma sequência do que foi lançado em 2011 'Economia de Angola ao longo da História'?

O livro de 2011 foi concebido como um livro de síntese, apanhando os grandes temas da economia de Angola colocando as coisas em termos diferentes do que é a história oficial. A oficial é sobretudo uma história colonial numa certa passagem e pós-colonial ideológica em outras passagens. Foi feita uma síntese no sentido de colocar as coisas como se passaram ou aproximando o máximo possível. Não é um
 
livro sobre história de Angola nem sobre história. É um livro de economia ao longo da história. Comecei o trabalho de pesquisa em 2012, acompanhando um trabalho que estava a fazer no Brasil cobre as economias do Atlântico Sul. A economia de Angola era uma economia marcada pela guerra. Verifiquei que o colonialismo é um regime de economia de guerra. Quando se ataca um país para capturar os recursos naturais e humanos, isso é guerra económica da mais radical. Depois da independência, surgiram dois factores considerados de guerra económica. Um de forma relativa, formal e informal, que deu lugar à repressão e à queima de mercados. E depois deu lugar a um confronto de preços em que o mercado informal ganhou. A partir de certo momento, deixou de haver guerra económica. Há uma espécie de complementaridade entre os dois mercados. Mas onde houve guerra económica foi num assalto às finanças públicas.

Começa-se a sentir este saque a partir de que momento?

A partir da segunda fase da guerra pós-eleições. Mas depois vi que já se verificava um pouco antes. A partir do pós-eleitoral, esta guerra só cresceu.

Isso em 1992?

A partir de 1994. Em 1992 e 1993, foi uma guerra de destruição económica, como poucos países africanos tiveram. Ao não aceitar os resultados das eleições, a Unita partiu para uma guerra total ao arrasar cidades. Paralisou a actividade económica e a movimentação ao longo do país. Aliás, a própria Unita tinha dito, ao comparar com a II guerra mundial que não fazer guerra económica é dar força ao inimigo. Isso é válido em termos de guerra internacional. Em guerra interna, atinge a população. Mas depois no próprio aparelho do Estado, começou uma guerra económica de aproveitamento de importações para a captura de recursos. Esta segunda vertente é consequência da intenção de criar uma burguesia nacional. Só que foi feita com base em nepotismo e nas relações com o aparelho do Estado. Este é um dos piores ataques que pode haver e que paralisa a economia. Chega a um ponto de favoritismo grande em relação a determinadas pessoas. Por exemplo, na obtenção de divisas ao câmbio oficial, que é bonificado. O câmbio real é o informal.

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