NOS ÚLTIMOS SEIS ANOS

Puma Energy rendeu 20,5 milhões USD à Sonangol

 

PRIVATIZAÇÃO. PCA da petrolífera afirmou recentemente que apenas uma vez a empresa recebeu dividendos. No entanto, contas da Puma Energy mostram que, nos últimos oito anos, apenas em 2017 não houve pagamento de dividendos.

Puma Energy rendeu 20,5 milhões USD à Sonangol
D.R.

 

A participação da Sonangol na Puma Energy terá rendido, nos últimos seis anos, cerca de 20,5 milhões de dólares em dividendos, de acordo com cálculos do VALOR com base nos relatórios e contas da sociedade.

De acordo com os dados, em 2021, a Puma Energy pagou em dividendos pouco mais de 21 milhões de dólares e a participação da Sonangol já era de 31,73%, fixando em cerca de 6,66 milhões de dólares a fatia que a petrolífera terá recebido.

Já em 2019, a gigante do ‘midstream’ e ‘downstream’ pagou dividendos no valor de quase seis milhões de dólares. Nesta altura, a participação da Sonangol estava fixada em cerca de 27,99%, o que resultou em cerca de 1,7 milhões de dólares o valor que a petrolífera nacional terá recebido. 

Em 2018, a Sonangol terá recebido mais de 4,8 milhões de dólares como resultado da divisão de 17,2 milhões de dólares que o consórcio pagou em dividendos. 

Os números contrariam a afirmação do PCA da Sonangol, Sebastião Martins, segundo os quais, nos oito anos emque a Sonangol esteve como associada à Puma Energy Holdings, apenas uma única vez recebeu dividendos. Os dados dos relatórios da Puma Energy, no entanto, mostram que, nos últimos seis anos, só em um, no caso em 2017, o consórcio não pagou dividendos. Mas fê-lo em 2016 e também em 2015.

Em 2016, o consórcio pagou cerca de 4,7 milhões de dólares em dividendo, o que fixa a quota da Sonangol, que na altura detinha 27,2% da sociedade, em mais de 1,3 milhões de dólares.

O VALOR contactou a petrolífeira para os necessários esclarecimentos, mas esta não respondeu até ao fecho da edição. 

CONTROVÉRSIAS NAS PRIVATIZAÇÕES

A decisão da Sonangol de vender a participação na Puma Energy, e sobretudo a forma como o negócio foi realizado, reforçam posições controversas da petrolífera no seu Programa de Privatizações. Primeiro, porque a Puma Energy não se enquadra no foco principal do programa, que é a alienação dos activos ou negócios não nucleares. A Puma Energy é uma empresa internacional que opera no ‘downstream’ (refinação de petróleo bruto e processamento de gás) e no ‘midstream’ (transporte, armazenamento e comercialização de derivados de petróleo bruto). De acordo com o ministro dos Recursos Minerais e Petróleos, Diamantino Azevedo, “não é, do ponto de vista estratégico, também do interesse do dono (Estado) manter a Sonangol nesta sociedade”. Nos cálculos para a saída do consórcio, segundo ainda a explicação de Diamantino Azevedo, pesou a necessidade de recapitalização da Puma Energy que exigiria um esforço financeiro da Sonangol de cerca de 600 milhões de dólares, o que obrigaria a petrolífera a recorrer a financiamento. “Esses factores obrigaram-nos a olhar para outras soluções”, explicou o ministro, considerando ser este “o momento oportuno para sair”.

No entanto, as justificações apresentadas pelo ministro motivam muitos especialistas a questionar sobre o investimento de cerca de mil milhões de dólares que reforçou a sua posição na Unitel com 50% quando tinha os anteriores 25% na lista das alienações por ser “um activo não estratégico”. 

Na prática, a Sonangol adquiriu a PT Ventures, então detentora de 25% na Unitel, bem como de 40% da Multitel. Na ocasião, a petrolífera justificou o negócio, realizado em Janeiro de 2020, com “a estabilização e a normalização das actividades da Multitel e da Unitel, considerando, sobretudo, a importância estratégica desta última para Angola”.

Consórcio reforça posição global com entrada na Austrália

Em Fevereiro, a Puma Energy reforçou a condição de um dos maiores players do mundo no downstream, ao adquirir a australiana Ausfuel, tornando-se no maior retalhista privado de combustível da Austrália.

“A aquisição da Ausfuel, proprietária das estações de serviço Gull, Choice e Peak, adicionará 110 postos e 11 depósitos ao portfólio australiano existente da Puma Energy, tornando-a o maior retalhista independente de combustível na Austrália Ocidental, Território do Norte, Queensland, Austrália do Sul e Nova Gales do Sul”, comunicou a empresa na ocasião.

Algumas semanas antes, a Puma Energy anunciara o seu primeiro investimento na Austrália, adquirindo o portfólio de distribuição da Neumann Petroleum de mais de 120 estações de serviço em Queensland e Nova Gales do Sul.

O CEO global da Puma Energy, Pierre Eladari, afirmou que a empresa estava comprometida com o crescimento do mercado de combustível independente da Austrália. “A mudança na dinâmica do mercado, o fechamento de refinarias e o crescente volume de importações para a Austrália abriram uma grande oportunidade para a Puma Energy investir no mercado australiano”, declarou Eladari.