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LIXEIRA POR TRÁS DO LUXO NO CABO LEDO E NO MUSSULO

Resorts de luxo com alimentos podres e expirados

10 Aug. 2021 Economia / Política

INFRACÇÕES.Apesar da beleza e luxo, há ‘resorts’ que são um viveiro de alimentos expirados. Uma ronda da Aniesa, a empreendimentos turísticos do Cabo Ledo e do Mussulo, constatou irregularidades que atentam contra a saúde pública.

Resorts de luxo com alimentos podres  e expirados

Autoridade Nacional de Inspecção e Segurança Alimentar (Aniesa) detectou diversos produtos alimentares em má conservação e até caducados e podres em resorts no Cabo Ledo e  na Ilha do Mussulo. Entre as irregularidades, constam produtos fora do prazo de validade, como enchidos, carnes e pão, que foram apreendidos e destruídos.

Numa ronda efectuada no último fim-de-semana em Cabo Ledo e testemunhada pelo Valor Económico, a Aniesa verificou que o uso de produtos caducados, no resort Carp Diem, por exemplo, era consciente. Produtos como enchidos e carnes tinham rótulos com datas de fabrico e de expiração arrancadas. No caso do pão, o mau estado de conservação era evidenciado sobretudo pela cor verde e bolor. A Aniesa recolheu e destruiu todos os produtos.

Já na Ilha do Mussulo, em que o jornal não esteve presente, a Aniesa reportou as mesmas irregularidades, incluindo produtos deteriorados, no resort ‘Netu’s Village’, ao passo que o resort Keb foi alertado que é ilegal, ou seja, não está habilitado a exercer a actividade.

Paulo Augusto, proprietário do Carpe Diem, no Cabo Ledo, reconhece as irregularidades do estabelecimento, mas justifica-se com o “difícil acesso aos fornecedores e a distância”, ao mesmo tempo  que descarta responsabilidade quanto às irregularidades administrativas detectadas. “Nós não temos energia, única fonte de energia é o gerador, é justo que tenham pedido a mim que as valas de drenagem estejam limpas? É preciso que as pessoas tenham sentido de Estado e percebam que não temos água em Cabo Ledo, a nossa água vem do rio Longa e é preciso um camião e custos enormes”, justifica-se o empresário, acrescentando que, se houvesse um supermercado perto, faria compras todos os dias. “Mas tenho de percorrer quase 300km até Luanda para fazer compras, por isso, tinha de ter dois ou três funcionários para verificar as datas”, explica-se.

Apesar de reconhecer que os inspectores cumprem obrigações, o empresário questiona as razões de a Aniesa não abordar o Ministério do Turismo para listar toda a documentação necessária de uma empresa. “Eles vieram e foram-se embora e não deixaram aqui uma lista do que é necessário”, crítica,  estranhando o facto de lhe terem sido solicitados documentos de que nunca ouviu falar nos 11 anos que a empresa opera na zona. “Nunca ouvi falar de licença de exploração ambiental. Vivemos num país onde não há lei, cada um diz uma coisa e nós temos de engolir, não sei quanto custa a licença de gerador”, reclama, apelando para que as visitas da Aniesa aos estabelecimentos sejam “didácticas”. “Não há o direito de fazerem esta pressão às pessoas, mas há de haver aqui uma seriedade na forma como abordam”, considera, inistindo que, se houvesse água canalisada, “estas coisas não deveriam acontecer”.

Com mais 40 trabalhadores, a maior parte dos quais residentes em Luanda, e com níveis baixos de facturação, Paulo Agostinho admite fechar portas. 

Valdmiro Japão, o inspector da Aniesa que coordenou a operação, prometeu estender as preocupações do empresário aos ministérios de tutela. No entanto, não avançou o valor das das multas, a serem aplicadas, face às irregularidades detectadas  “por ser prematuro”.