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PEQUIM QUER TER MOEDA DE REFERÊNCIA

China prepara plano para pagar o petróleo em yuan no lugar do dólar

02 Apr. 2018 Valor Económico Mundo

BALANÇA DE PAGAMENTO. Depois de conseguir, em 2016, colocar a moeda entre as de referência do FMI, o gigante asiático cria plano para deixar cair o dólar na compra do petróleo.

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A China está a dar os primeiros passos para começar a pagar a importação de petróleo bruto em yuan, em vez de dólar, um movimento encarado como fazendo parte das principais estratégias de Pequim para estabelecer a sua moeda internacionalmente.

A informação foi divulgada, na semana passada, pela Reuters, e retomada por diversos órgãos de imprensa. Citando fontes anónimas, dão conta que a China pretende lançar, ainda este ano, um programa-piloto para o pagamento do yuan.

Diversos especialistas em mercados financeiros defendem que mudar apenas parte do comércio global de petróleo para o yuan é potencialmente enorme. “O petróleo é a ‘commodity’ mais comercializada do mundo, com um valor comercial anual de cerca de 14 biliões, aproximadamente equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) da China no ano passado”.

Segundo fontes citadas pela Reuters, os reguladores pediram informalmente a um punhado de instituições financeiras que se preparem para estimar as importações de petróleo da China no yuan. “Sendo o maior comprador de petróleo, é natural para a China pressionar para o uso do yuan para a liquidação de pagamentos. Isso também melhorará a liquidez do yuan no mercado global”, salientou uma das fontes. Acrescentam que o programa coloca Angola e a Rússia como onde a China pretende iniciar as compras com recurso ao yuan. Uma aposta que se entende visto que são os dois dos principais fornecedores de petróleo bruto para a China, juntamente com a Arábia Saudita.

A China é o segundo maior consumidor de petróleo do mundo e, em 2017, superou os EUA como o maior importador de petróleo bruto. A sua demanda é um dos principais determinantes dos preços globais do petróleo.

A medida representaria um passo importante para reavivar o uso da moeda da segunda maior economia do mundo em pagamentos ‘offshore’, após vários anos de novas medidas.

Se for bem-sucedido, também poderá desencadear a transferência de outros pagamentos de produtos para o yuan, incluindo metais e matérias-primas de mineração. No entanto, fontes das petrolíferas estatais chinesas contactadas pela Reuters disseram desconhecer o referido plano. O Banco Popular da China, o banco central do país, não respondeu a um pedido da Reuters para comentar o plano, assim como o Ministério do Comércio.

Futuros brutos

Os planos coincidem com o lançamento, na semana passada, dos primeiros contratos futuros do petróleo bruto chinês em Xangai, que muitos esperam tornar-se uma terceira referência global de preços, juntamente com o Brent e o West Texas Intermediate. O novo contrato de petróleo bruto de Xangai é negociado em yuan.

Além do potencial de dar à China mais poder sobre os preços globais do petróleo, “isso ajudará o governo chinês nos esforços para internacionalizar o yuan”, disse Sushant Gupta, director de pesquisa da consultoria Wood Mackenzie.

A Unipec, braço comercial da maior refinadora da Ásia, e a Sinopec já fecharam um primeiro acordo para importar o preço do petróleo do Médio Oriente, contra o recém-lançado contrato de futuros de petróleo de Xangai.

O banco norte-americano Goldman Sachs revelou, nma nota aos clientes nesta semana, que o sucesso dos futuros do petróleo de Xangai estava “indirectamente a promover o uso da moeda chinesa”.

Em Outubro de 2016, o yuan passou a fazer parte do clube fechado das moedas de referência do FMI, num grupo em que, até então, estavam o dólar, o euro, a libra britânica e o iene. No entanto, ao contrário das outras moedas, o yuan não é plenamente conversível e a repatriação dos capitais investidos na China por estrangeiros continua a ser difícil.