De praga a comida
A praga de gafanhotos de proporções bíblicas e que se desloca em nuvens a engolir as lavras pelo caminho seria mais bem-vinda noutros meios. Hoje em dia mais de 2.5 biliões de pessoas já consomem insectos, principalmente no continente asiático, sendo que o que é mais comido é exactamente o gafanhoto.
A Autoridade Europeia para a Segurança dos Alimentos anunciou em Março deste ano a aprovação de farinha de insecto, que inclui larvas, besouros e outros insectos crocantes. Estão em estudo outros 14 pedidos pendentes com base em grilos e gafanhotos.
A consultora Artcluster prevê que o mercado de insectos vai crescer dez vezes até 2025 para valores em torno dos 4,3 mil milhões de dólares, e já atrai as atenções de gigantes da industria como a Néstle e a Cargill.
E se a escolha parece arrepiante para muitos, o racional é indiscutível. Os insectos tem um valor proteico muito elevado sem o colesterol e gorduras más da carne, mas sobretudo com menor consumo de investimento, menos água e menos terra, e menor impacto ambiental. O gafanhoto é composto em 70% por proteína, contem aminoácidos essenciais e, dizem os experts, têm um sabor razoavelmente neutro. O único aviso de saúde emitido pela FAO vai mesmo para os gafanhotos que tenham sido expostos a pesticidas perigosos para consumo humano.
A farinha que já é utilizada para ração animal em muitos países pelo valor nutricional, e estão em estudo diferentes produtos que passando pela estética estão a ser adaptados para suplementos desportivos, bolachas sendo a aposta cada vez mais colocar os insectos no cardápio da cadeia alimentar mundial.
Com o olho neste mercado, uma companhia israelita, a Hargol (que significa gafanhoto em hebraico) apostou na produção em escala de gafanhotos para consumo humano e o director executivo, Dror Tamir explicou em entrevistas que cresceu também a ouvir falar dos gafanhotos como praga. Tamir explica que passou a olhá-los como negócio porque percebeu que alimentar a população mundial com produção de carne seria insustentável devido a previsões de que a população mundial vá chegar em 2050 a 10 biliões de pessoas, sendo a proteína basilar para a alimentação humana mas dispendiosa de produzir em escala com custos ambientais também.
A sua empresa já produz panquecas e batido de gafanhoto que comercializa com um olho no mercado norte americano, mas Tamir confessa que o ‘factor nojo’, ainda é uma dificuldade. Com a aprovação dos gafanhotos pela autoridade europeia, o mercado vai certamente aumentar assim como a diversidade de produtos alimentares com base em insectos.
Em muitos países afectados pela praga e já com problemas de segurança alimentar o consumo de insectos, e uso para ração animal faz cada vez mais sentido, particularmente se analisados os riscos para a saúde humana associados ao uso de pesticidas sem preparação. E muitas comunidades fazem e faziam isso mesmo no passado, em partes de África, América Central e Asia. Israel no passado recebia pragas com baldes para encher e consumir e dar a consumir aos animais.
Em Angola, na província do Uíge o gafanhoto é consumido e considerado iguaria mas muitos mais países e regiões têm tradições de consumo de gafanhotos que se vão tornando validadas pelo estudos do seu valor nutricional e caracter sustentável. Poderão os gafanhotos passar de praga a negócio?
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