NOS CÍRCULOS INTERNACIONAIS

Dívidas da Sonangol geram dúvidas

DÍVIDA. Em Junho passado, a petrolífera estatal não conseguiu apresentar provas de um rácio “saudável” dívida-capital, conforme exigido no contrato de empréstimo com o banco que facilita os emprésitmos, o Standard Chartered, em Londres.

Há conflitos quanto ao real montante que a Sonangol deve a bancos europeus. Em certos meios, sobretudo entre analistas financeiros, cita-se 13 mil milhões de dólares, enquanto, no sistema da Bloomberg, a dívida da petrolífera pública está contabilizada em 9,5 mil milhões de dólares, repartidos em ‘seis dívidas’.

O crédito foi facilitado pelo Banco Standard Chartered, em Londres, e um dos pontos do acordo exigia que a Sonangol, em determinadas alturas, demonstrasse “com provas” que possui um rácio dívida-capital “saudável”. Junho era um desses momentos e a petrolífera nacional não conseguiu fazê-lo, o que “eriçou os cabelos dos investidores”, segundo um relatório da Verisk Maplecroft, uma empresa de análise de riscos, baseada também em Londres.

Outras análises dão conta de que os receios dos investidores começaram a manifestar-se em várias momentos, destacando-se quando, em Maio, o Presidente da República, José Eduardo dos Santos, aprovou o plano de reestruturação da petrolífera que a faria focar-se no seu ‘core business’. No novo plano, a exploração petrolífera não caberia à Sonangol e os seus vários activos seriam ou vendidos ou passados para outras ‘holdings’.

Entre os momentos que criariam receios no seio de investidores, segundo observadores internacionais, consta também a amplamente difundida ‘falência técnica’ da empresa, o despedimentos do conselho de administração da Sonangol, quase por inteiro (sobrou apenas o actual CEO Paulino Jerónimo). Mas as declarações de José Eduardo dos Santos, num fórum partidário, não passaram ao lado. Primeiramente, o chefe do Executivo disse, no Kuando Kubango, que fazia seis meses que a Sonangol não pagava ao Estado, esclarecendo pouco depois, em Luanda, que as recitas que a empresa arrecadava mal chegavam para pagar as suas próprias dívidas.

Consultores, correspondentes internacionais de bancos e jornalistas em Luanda foram ‘inundados’ com telefonemas de investidores estrangeiros, na expectativa de obterem ‘clarificação’ sobre as declarações do Presidente, que terão contribuído para disparar a taxa de juros dos Eurbonds angolanos de 9% para os 10,4%, no mercado internacional.

No entanto, pelo meio, houve alguns ‘calmantes’. A indicação de Isabel dos Santos para PCA da petrolífera pública foi considerada “positiva” e a sua afirmação posterior de que a Sonangol “honraria as suas obrigações financeiras”, ou seja, pagaria a dívida externa, deu algum ânimo aos investidores, mas há quem continue a duvidar da capacidade.

Vários investidores estrangeiros consideram que Isabel dos Santos “seja competente o suficiente para reverter a situação” da petrolífera e aplaudem a sua decisão de contratar especialistas de prestígio internacional e consultoras baseadas nos Estados Unidos, para aconselhá-la sobre a reestruturação da Sonangol. Mas há contratempos, segundo observadores, devido às circunstâncias actuais do mercado do crude. “A menos que haja uma recuperação súbita dos preços do petróleo, a companhia nacional de petróleo não será capaz de manter o seu papel no sistema económico e político”, afirmou Maja Bovcon, analista Senior para África da Verisk Maplecroft.