ANGOLA GROWING
ANÁLISE DA BLOOMBERG INTELLIGENCE

Etiópia e Quénia ultrapassam Angola

CRESCIMENTO ECONÓMICO. Etiópia ou Quénia poderá ultrapassar Angola na terceira posição entre as economias da Africa subsaariana, de acordo com a ´Bloomberg Intelligence´.

O Governo entrou num “frenesim” de cortes de despesas — devido à queda abrupta de receitas petrolíferas — mas esses cortes terão “consequências negativas”, entre as quais uma previsível recessão económica este ano, segundo os cálculos da Bloomberg Intelligence (BI) no seu mais recente relatório que cobre toda a Africa Subsaariana.

“O crescente endividamento e a suspensão das negociações com o Fundo Monetário Internacional para a obtenção de uma assistência financeira são susceptíveis de restringir o acesso do país ao endividamento externo, mecanismos que têm apoiado até agora na manutenção dos padrões de vida dos angolanos e da taxa de câmbio”, lê-se no relatório.

O limite legal de endividamento sobre o Produto Interno Bruto é de 60%, e o défice orçamental está atualmente em 6%. Mas os pressupostos que levarão à revisão do Orçamento Geral do Estado de 2016 já admitem que esses limites serão ultrapassados (ler página 15). Na mesma senda, o mais recente relatório do Centro de Estudos da Universidade Católica (CEIC) prevê que esses indicadores poderão chegar a 70% e 7% respectivamente, ainda em 2016.

Pelas contas da BI, a depreciação do kwanza deve contribuir também para o “encolhimento” do PIB nominal em dólares, permitindo à Etiópia e ao Quênia disputarem a posição número três, do ranking das maiores economias da África a sul do Saara.

A ‘Bloomberg Intelligence’ diz, no entanto, que o ‘calvário’ não é exclusivo de Angola. O crescimento económico da Africa Subsaariana tem caído substancialmente, em termos agregados, desde meados de 2014, acompanhado a queda do crude. Desaceleração que se reflecte no fraco crescimento de Angola e da Nigéria, os dois maiores exportadores de petróleo, assim como, em parte, da África do Sul. “Na realidade, a maioria das economias africanas beneficia de preços mais baixos do crude, especialmente os países da África Oriental, que devem agora superar os seus pares da Africa Ocidental”, analisa a BI, destacando entre os beneficiários a Etiópia e o Quênia, mas também a Tanzânia “cujas perspectivas económicas indiscutivelmente melhoraram com a queda do petróleo”.

Apesar de o Executivo angolano ter traçado planos de recuperação de curto, e médio e longo prazos, a Bloomberg Intelligence diz que o “colapso do preço do petróleo tem efeitos de longo alcance sobre as economias africanas e os exportadores da commodity e vai levar tempo para essas economias se ajustarem”.

 

DESISTIR DO FMI “RETROCESSO À TRANSPARÊNCIA”

O banco Londrino Standard Chartered (SC), que tem ajudado o governo e a Sonangol na obtenção de vários financiamentos internacionais ficou “surpreso” com a facto de Angola ter desistido das negociações para uma assistência financeira com o Fundo Monetário Internacional.

“A ausência de um programa do FMI para Angola é negativo e um retrocesso em termos de uma maior transparência”, disse Victor Lopes um economista do banco citando pela Bloomberg.

O país agiu “pragmaticamente em 2008-2009” quando negociou, “com sucesso”, o Acordo Standby que permitiu um credito de 1,4 mil milhões de dólares, que inlcuía programas de reformas estruturais internacionalmente aplaudidas. O SC afirma que a capacidade de pagar a dívida externa “não está em questão por agora”.

Outros actores internacionais, incluindo agências de notação, são unânimes em considerar que o país tem necessidade de assistência financeira, sendo que alguns apontam que as razões da desistência de Angola estarão relacionadas com a possibilidade de o Governo ter encontrado “outra fonte”, que não exija programas de reforma fiscal e monetária, “o que permite a realização de despesas eleitorais” antes das eleições do próximo ano. Vários observadores não acreditam nas capacidades internas existentes e acham prematuro confiar na tímida subida do preço do crude que o mercado tem registado.

“Dados macroeconómicos confirmam que a presente crise ja é pior do que a crise financeira de 2008 / 2009, e com as perspectivas de um longo período de preços de petróleo mais baixos, é esperado que esta exija uma resposta mais firme e prolongada da parte do Governo”, lê-se no relatório do CEIC.