“Hackers tentam atacar-nos de vários países, mas sem sucesso”
TECNOLOGIAS. O director do Instituto Nacional de Fomento da Sociedade de Informação, organismo afecto ao Ministério das Telecomunicações responsável pela integridade dos sistemas informáticos do Estado angolano, Manuel Homem, admite que Angola tem sido alvo de ataques cibernéticos vindos de vários países e até de dentro, mas garante que os autores não têm tido sucesso.
Angola foi afectada pelo ataque informático que envolveu, há uma semana, mais de 150 países?
Não temos qualquer registo, mas tem havido várias tentativas de intrusão dos sistemas que monitoramos. A 17 de Maio, por exemplo, tivemos 312 tentativas vindas de pessoas ou máquinas instaladas em Angola, mas nenhuma delas teve sucesso. Tivemos também tentativas da Rússia, Austrália, China, EUA, Holanda, França, Ucrânia e Irlanda. Por precaução, asseguramos que os sistemas principais do Governo que estejam disponíveis na Internet deixam de o estar. O hacker estuda muito. Em Angola, também temos uma sociedade de tecnologia que está a criar valência crítica, ou seja, hackers.
No ano passado, a organização de hackers “Anonymous” anunciou que atacou o site do Tribunal Supremo em protesto pelo julgamento do caso 15+2. Confirma?
Sim. Os “Anonymous” atacaram vários sites em Angola. Os sites do Governo também sofreram essa tentativa de intrusão. O que fizemos nesta altura, em primeiro lugar, foi retirar a visibilidade dos portais na Internet dos sistemas sob nosso controlo. Isso permitiu criar uma falsa sensação de que fomos atacados. Foram tentativas de intrusão não concretizadas.
Os hackers podem ser detectados?
Podem. A engenharia hoje permite fazer o processo reverso e há todo um conjunto de técnicas, no âmbito da segurança cibernética. Angola aprovou a Lei 7/17, que prevê a criação de uma equipa de resposta aos incidentes informáticos que ocorram no nosso ciberespaço. já temos muitas infra-estruturas apontadas para a protecção e monitoramento das comunicações. Estamos a criar uma equipa coordenada com todos os actores, públicos e privados, que intervêm na Internet, para que possamos responder como um todo, um corpo.
Porquê acontecem ataques cibernéticos?
Esses ataques partem de especialistas que tentam, por várias motivações, aceder a um dado sistema informático. Um dos principais objectivos é a autoestima de um técnico informático em conseguir atacar o site de uma instituição. Sente-se orgulhoso por isso. Outros tentam obter benefícios financeiros com essas práticas.
Estamos perante a guerra do futuro?
É a guerra do presente, porque já está a acontecer. Aliás, outra vertente tem a ver com guerra de informação entre instituições e que depois gera prejuízos financeiros. Estou a falar de espionagem industrial, militar ou política. É precisamente a espionagem cibernética que representa neste momento a maior preocupação. Hoje, a guerra entre nações passou a ser uma guerra de informação. Quanto mais informação um dos lados recolher sobre uma determinada entidade, empresa ou país, mais privilegiado estará.
A resposta ao fenómeno deve ser global, a nível das nações?
É uma preocupação que se coloca a nível da Organização Internacional das Telecomunicações (OIT). Há um grupo específico, no seu seio, que cuida das questões relacionadas com os ataques cibernéticos, visando garantir a soberania tecnológica, a soberania dos países. Nós estamos a seguir os mesmos princípios. Angola tem estado a criar legislação o mais actualizada possível no contexto mundial do desenvolvimentos das tecnologias de informação, mas, mais do que legislar, é necessário criar as condições para operacionalizar o que está legislado.
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