KIANDA TROZO, PCA DA PROTTEJA SEGUROS

“Investir no seguro agrícola, neste momento, é claramente uma garantia de desperdício de recursos”

05 Feb. 2025 Grande Entrevista

Defende a massificação dos seguros para a população e reconhece o trabalho desempenhado pela ASERG nos últimos três anos para adequação da legislação, embora considere que o país ainda está muito longe de atingir os níveis desejados de penetração do seguro. Kianda Trozo recomenda também a adequação de produtos assim como a aposta no segmento de particulares e é peremptório quanto à falta de condições no mercado para a expansão do seguro agrícola.

“Investir no seguro agrícola, neste momento, é claramente uma garantia de desperdício de recursos”

Como caracteriza o mercado dos seguros em Angola? 

Do ponto de vista da nossa visão para o mercado, temos evoluído. No que diz respeito às condições legais, o regulador deu um grande passo com os ajustes na lei, quer na óptica dos seguros, quer na óptica do resseguro, e sem descurar também os agentes, que são os corretores e mediadores. Demos um grande passo. Como sabem, é complicado olhar e dinamizar o mercado se, de alguma forma, tivermos algum problema do ponto de vista legal. E aqui houve um bom trabalho do regulador nos últimos três anos que nos levou a esse estágio. Agora, para atingir os níveis esperados de penetração e de contribuição dos seguros para o PIB, requer repensar aquilo que são as ofertas de produtos. A banca e as telecomunicações evoluíram muito, ou seja, as telecomunicações hoje são maiores que todos os bancos juntos. Isso por força de adequarem o produto à realidade dos angolanos. Nós importamos processos e, muitas vezes, não são transversais para aquilo que é a amostra da nossa população. 


Como inverter este quadro? 

Passa essencialmente pela adequação de produtos de acordo com a realidade. Quando falamos de adequação, temos que estar a falar de produtos de ‘mass market’ porque, quer na nossa região, quer no mundo de uma forma geral, vamos ver que a contribuição dos seguros na óptica das pessoas é muito mais do que das empresas, mas nós temos uma realidade contrária. Primeiro é que a banca, que tem como papel principal o fomento do crédito, para a nossa realidade ainda é ínfima. Para aquilo que somos hoje, acima de 30 milhões de habitantes, é ínfima. Então, se não há crédito, as iniciativas de ‘bank insurance’ não atingem o máximo de potencial. Quanto mais crédito (estamos a falar do consumo para as famílias), mais haverá a incorporação dos seguros e vemos o exemplo que temos em Angola em que apenas uma das seguradoras de um banco é que está destacar-se nesse aspecto. Se os mais de 20 bancos estivessem na mesma linha, estaríamos a ver um mercado totalmente diferente. Também damos uma ênfase muito grande aos particulares porque entendemos que o seguro tem o princípio do mutualismo e, se repararmos as outras realidades, o número de subscrição dos particulares é muito superior ao de Angola. Então, a visão é a aposta no segmento de particulares, sendo que o grande desafio para esse aspecto está, em primeiro, em desenvolver produtos. Não é por questões de cultura de poupança, é por limitação de recursos financeiros, por isso é que o angolano não faz poupança. Então, temos de fazer o seguro numa visão mensal, numa visão semanal, ou numa visão diária, como acontece até nos serviços de televisão e telecomunicações. Aí vamos dar conta que ele é acessível para todos os bolsos porque, independentemente dessas dificuldades, neste momento, as pessoas, quer do mercado informal quer das empresas individuais, conseguem fazer face às suas responsabilidades diárias.


Fala-se ainda da falta de literacia financeira por parte das pessoas assim como o desconhecimento da importância dos seguros por parte de muitos. Em que medida estes factores condicionam o negócio?

De alguma forma, são elementos bloqueadores. Contudo, não são o elemento fulcral, porque, desde o momento que as pessoas entenderem que este produto agrega valor e ele consegue pagar, o prêmio, e ultrapassa. Não levamos muito tempo para as pessoas saberem como usar o telefone e a importância do telefone. Mas deixamos de ter aquele plano mensal ou anual e passarmos a ter um plano diário. Essa é a questão. A questão é desenhar os capítulos, as coberturas, o prêmio de acordo com a realidade angolana. Por mais literacia que tenha, se tiver que pagar o prêmio anual, face à qualidade e à condição de vida do angolano, não se vai conseguir.

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