Líderes dos BRICS em cimeira decisiva marcada por problemas
IMPASSE POLÍTICO. Soldados indianos entraram em território que Pequim reclama seu e travaram a construção de uma estrada, que Nova Deli afirma que teria “sérias implicações para a segurança da Índia”.
O bloco de grandes economias emergentes BRICS reúne-se esta semana, na China, num contexto marcado por problemas internacionais e internos, que poderão pôr em causa o futuro do grupo, afirma o investigador brasileiro Evandro Carvalho.
A nona cimeira dos BRICS decorre entre 03 e 05 de Setembro, na cidade de Xiamen, costa leste da China, e reúne os líderes do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Evandro Carvalho, professor visitante no Centro de Estudos dos BRICS da Universidade Fudan, em Xangai, explica à agência Lusa que a cimeira deste ano ocorre num contexto “bem diferente” do de 2009, quando o bloco se reuniu pela primeira vez.
O Brasil, aRússia e a África do Sul atravessam um período de crise económica, que, no caso brasileiro, é “agravado por uma crise política”, lembra Evandro Carvalho, que é também professor de Direito Internacional na Universidade Federal Fluminense, no Rio de Janeiro Já a China e a Índia, os únicos membros que mantêm altas taxas de crescimento económico, atravessam um período de renovada tensão nas relações bilaterais.
Entre Junho e a semana passada, soldados dos dois países estiveram frente a frente numa zona disputada entre a China e o Butão - aliado da Índia -, no planalto de Doklam (ou Donglang, em chinês), nos Himalaias. Soldados indianos entraram em território que Pequim reclama seu e travaram a construção de uma estrada, que Nova Deli afirma que teria “sérias implicações para a segurança da Índia”.
Para o académico brasileiro, esta disputa fronteiriça é mesmo o “facto mais complexo” da cimeira de Xiamen, que vai envolver um “esforço brutal” de diplomacia entre Pequim e Nova Deli, no qual os outros membros do bloco podem ser “importantes intermediadores”.
O bloco BRICS ganhou expressão pela primeira vez em 2001, quando o economista Jim O’Neill, da Goldman Sachs, publicou um estudo intitulado “BuildingBetter Global Economic BRICS”, sobre as grandes economias emergentes.
O grupo reuniu-se pela primeira vez em 2009 - na altura ainda sem a África do Sul - e logo estabeleceu uma agenda focada na reforma da ordem internacional, visando maior protagonismo dos países emergentes em organizações como as Nações Unidas, o Banco Mundial ou o Fundo Monetário Internacional (FMI).
No conjunto, os BRICS representam cerca de 40 por cento da população mundial e 23 por cento do produto global bruto. Vista de Pequim, a ascensão dos BRICS ilustra a emergência de “um mundo multipolar”, expressão que concentra a persistente oposição chinesa ao “hegemonismo” ocidental, e em particular dos Estados Unidos. Evandro Carvalho considera que a agenda reformista é a “essência do BRICS”.
“Se perder força, estamos então perante uma situação de debilidade” do bloco, que “pode levar inclusive à sua diluição total”, alerta. “Esta cimeira é importante, porque pode anunciar tanto a continuidade ou dar indícios de que há um processo de enfraquecimento do BRICS”, explicou, numa entrevista à agência Lusa.
No entanto, para alguns analistas, o problema de fundo do BRICS reside no desequilíbrio entre a China e os restantes membros do bloco. A revista The Economist lembra que, em 2001, a China constituía metade da soma do Produto Interno Bruto (PIB) dos países que compõem o bloco, mas que hoje vale dois terços.
*Com agências
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