Maersk Oil ‘salta’ do bloco 23
PETRÓLEO. A empresa nórdica Maersk Oil, que detinha 80% do campo petrolífero, desistiu porque o campo “é de difícil produção e não é rentável.”
Um decreto do Ministério dos Petróleos autoriza a mudança de operador do Bloco 23 da Maersk Oil Angola AS para a Sonangol Pesquisa & Produção, após a empresa dinamarquesa, anterior detentora da função de 80% de activos, ter renunciado.
A petrolífera pública vai passar assim a exercer a função “com efeitos retroactivos”, a contar de 1 de Novembro de 2014, segundo o Diário da República nº 142, de 24 de Agosto do corrente ano.
Entre observadores, a desistência da Maersk levanta, entretanto, algumas curiosidades, relacionadas com o ‘timing’ dos anúncios e os eventos a que se referem.
O VALOR apurou, por exemplo, que um decreto do Ministério dos Petróleos, de 6 de Maio, dá conta de que a Maersk Oil havia comprado 30% das participações detidas pela Svenska Petroleum Explorarion AB no mesmo bloco, aumentado para 80% a sua participação, ao passo que os restantes 20% são detidos pela Sonangol.
Um outro decreto, de 9 de Maio, anunciava já a cedência dos mesmos 80% da Maersk à Sonangol, por desistência do primeiro. Ambos os decretos foram publicados no mesmo Diário, a 13 de Maio.
O Ministério dos Petróleos contava a data da entrada em vigor dos três eventos (passagem de 30% da Svenska para Maersk, desistência desta, e a ‘luz verde’ à cedência à Sonangol) “com efeitos retroactivos” para Novembro de 2014.
Um observador internacional a quem o VE mostrou os diários comenta que os anúncios do Governo, publicados no Diário de República, “dão uma impressão enganosa sobre os ‘timings’, se não a substância das acções da Maersk no país.”
A própria Maersk Oil afirmou simplesmente que a empresa “abdicou do Bloco 23 há quase um ano”, segundo uma fonte, contactada a partir da Dinamarca, que não avançou mais detalhes, depois de solicitar o anonimato.
Para José Oliveira, especialista em petróleo, da Universidade Católica de Angola, os dinamarqueses desistiram do campo porque “não é rentável”.
“Sabe-se que a Maersk há muito se tinha desinteressado do Bloco 23, pois a descoberta que lá foi feita é difícil de pôr em produção com rentabilidade económica, mesmo com preços elevados do petróleo”, analisa, em declarações por email. “Só com mais uma ou duas descobertas é que será possível que este bloco venha a produzir petróleo”, indica.
A passagem do campo para a Sonangol parece ser uma “estratégia”, que vai permitir a petrolífera pública procurar outras parcerias para, em conjunto, suportarem os custos de futura pesquisa no bloco, à busca de mais petróleo. “Pois só assim o campo pode tornar-se rentável”, acrescentou José Oliveira.
Mas, ao que a situação do mercado indica, a “estratégia” da Sonangol poderá ter de esperar por algum tempo, já que, com os preços de crude em baixa, várias empresas petrolíferas internacionais, a operar em solo angolano, manifestaram falta de ‘apetite’ para novos investimentos e que o foco de momento se resume em cortes de custos.
A própria Sonangol, na voz da sua PCA, Isabel dos Santos, já determinou que a prioridade da empresa não seria “necessariamente” procurar novos poços, mas rentabilizar os existentes.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...