Mais sanções para a Turquia
TENSÃO. Aumento das tarifas sobre aço e alumínio impostas pelos americanos provoca ‘turbulência’ na Turquia com a desvalorização da lira em quase 8 % face ao dólar.
O caso do pastor evangélico norte-americano Andrew Brunson – detido em 2016 e em julgamento, sob acusação de espionagem e de actuar em conluio com o Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) – levou os EUA a aumentarem as tarifas sobre o aço e o alumínio da Turquia. Os norte-americanos também impuseram sanções aos ministros do Interior e da Justiça turcos, Suleyman Soylu e Abdulhamit Gul, acusados por Washington de terem desempenhado um papel activo na prisão do religioso.
Em resposta, Ancara dobrou as tarifas sobre algumas importações norte-americanas, como carros, tabaco e álcool. Mas, em contrapartida, a lira foi afectada pelas sanções norte-americanas, já que os EUA foram o maior mercado de exportação do aço turco em 2017, embora as remessas tenham caído desde então.
As relações da Turquia com os EUA, aliados na OTAN, já estavam desgastadas por causa dos interesses divergentes na Síria, o plano de Ancara de comprar sistemas de defesa da Rússia e o asilo nos EUA do clérigo Fethullah Gülen, que Erdogan acusa de estar por detrás do golpe de Estado fracassado em 2016.
SUPERAR A CRISE
A Turquia tenta tranquilizar os mercados, afirmando que o país vai emergir ainda mais forte. O ministro das Finanças, Berat Albayrak, genro do presidente Erdogan, tentou transmitir, na semana passada, confiança a centenas de investidores estrangeiros. Albayrak rejeita pedir ajuda ao FMI, uma opção nunca vista como provável, já que Erdogan se vangloria de ter liquidado todas as dívidas com o FMI em Maio de 2013.
A lira recuperou nos últimos dias, mas economistas alertam que a Turquia deve sanear urgentemente os desequilíbrios económicos para evitar mais problemas futuros. A moeda, que, no início da semana, era negociada a mais de sete liras por dólar, manteve-se no final de semana no patamar de 5,8 frente à ‘nota verde’.
Berat Albayrak crê que a Turquia vai superar a crise económica, causada pelas acções dos EUA, junto com os aliados, incluindo a Rússia. “Os EUA introduziram sanções contra uma infinidade de Estados em todo o mundo. Em resposta a essas medidas, é necessário dar passos conjuntos bem coordenados. A Turquia vai supera isso junto com a Alemanha, Rússia e China”, disse o ministro.
SAÍDA DA DÍVIDA PÚBLICA
Em Junho último, a Turquia reduziu os investimentos na dívida do governo dos EUA, por isso saiu da lista dos maiores detentores de títulos do tesouro norte-americanos. Isto é evidenciado pelos dados do Departamento de Estado dos EUA.
Nesse mês, investimentos de Ancara na dívida pública dos EUA caíram para 28,8 mil milhões de dólares enquanto em Maio o valor era de 32,6 mil milhões. A Turquia reduziu continuamente os investimentos nos títulos dos EUA desde Novembro, quando o volume era de 61,2 mil milhões de dólares — mais do que o dobro do actual.
A Rússia saiu da lista em Maio, quando reduziu os investimentos em títulos estatais dos EUA, de 48,7 mil milhões de dólares para 14,9 mil milhões. Em Junho, os investimentos na dívida pública dos EUA não mudaram em comparação a Maio.
‘TREMOR DO DÓLAR’
A China permaneceu na liderança da lista em Junho. O seu investimento é estimado em USD 1,179 biliões de dólares, o que é 0,4% menor em relação a Maio. Em segundo lugar, está o Japão — os investimentos diminuíram 1,75% em relação ao mês anterior e estão estimados em 1,03 bilião. O terceiro maior detentor da dívida nacional dos EUA é o Brasil, com investimento de 300,1 mil milhões, um aumento de 0,3% em relação a Maio.
O banco central turco anunciou que forneceria toda a liquidez necessária aos bancos locais em detrimento das reservas. Como resultado, a taxa de câmbio da lira parou de cair em relação ao dólar. As sanções dos EUA contra a Turquia causaram o colapso da lira turca, seguida por outras moedas de mercados emergentes, principalmente a América Latina. Desvalorizou o real brasileiro e a moeda do México, Chile e Colômbia. O rublo russo, sofrendo baixas durante dois anos, mesmo com as sanções dos EUA, ficou sob dupla pressão.
VISÃO DE ESPECIALISTAS
Analistas não excluem que a crise cambial na Turquia vai cobrir os mercados emergentes e, eventualmente, levar a um colapso financeiro global. “Em conexão a isso, aumenta o clube dos países que pretendem se livrar da dependência do dólar”.
O primeiro forte ‘golpe’ contra as posições do dólar foi dado pela China, ao lançar o comércio de futuros de petróleo em yuanes. “Em resposta à política das sanções dos EUA, o Irão também deu costas à moeda norte-americana, ao se recusar completamente a usar o dólar, e passar a converter todos os pagamentos internacionais em euros. A Índia, por exemplo, também paga o petróleo ao Irão em euros”.
Depois da desvalorização da lira, que entrou para a história, Ancara resolveu impulsionar o comércio de troca directa a fim de diminuir a procura por dólar. Além disso, o líder do país, Recep Tayyip Erdogan, afirmou que a Turquia pode passar a utilizar moedas nacionais no comércio com os principais parceiros comerciais. Por sua vez, o ministro da Energia da Rússia já disse que o governo estuda a possibilidade de efectuar pagamentos do petróleo em moedas nacionais, em especial com a Turquia e o Irão, deixando o dólar de lado.
Deixando de usar o dólar, os maiores países exportadores de petróleo vão abalar seriamente o sistema financeiro internacional e intensificar a tendência para a desdolarização.
“A Sonangol competia só com as empresas estrangeiras. Agora está a competir...