“Nem sempre o parecer que as ‘Big Five’ dão às contas é real”
Defende que muitas medidas tomadas pela AGT são necessárias, apesar de manifestar-se contra a implementação de leis sem a preparação prévia das condições. Especialista com mais de 25 anos de experiência, António Paulo critica as falhas no reembolso do IVA e defende a necessidade urgente de rever a norma de contabilidade usada no país que considera “primitiva”.

A Ordem dos Contabilistas certifica os profissionais da área com uma série de requisitos, um dos quais a formação superior, mas assiste-se à promoção de vários cursos básicos por centros de formação. O que é que fazem, se não são certificados pela Ordem?
Antes da criação da Ordem dos Contabilistas, os técnicos eram certificados pelo Ministério das Finanças. Quando se criou a Ordem, essa certificação passou a ser feita pela Ordem, mas um dos requisitos era que fazer a formação ministrada pela Ordem. Eram também exigências da Ordem, naquela altura, ter ensino médio de contabilidade ou ensino superior em contabilidade, gestão ou áreas com formações equivalentes. Mas actualmente só são certificados os licenciados em Contabilidade, Gestão, Economia e áreas afins. A Ordem já não recebe os técnicos básicos e técnicos médios. Na minha avaliação, há uma certa debilidade dos técnicos médios actualmente, em relação ao passado. Eles vêm com uma fraca capacidade técnica, o que fez com que a Ordem deixasse de receber esses técnicos. No entanto, eles podem trabalhar nos departamentos de contabilidade como auxiliares, porque o técnico de contas ou o técnico de contabilidade certificado não trabalha sozinho.
A que se devem essas debilidades apresentadas pelos técnicos médios, como referiu?
Sendo realista, essa debilidade resulta da conjuntura do sistema de ensino. Ou seja, mesmo com tecnologias avançadas, onde se pode fazer pesquisas sobre várias matérias, o que não era possível no passado, verifica-se pouco esforço na nossa juventude actualmente. Sou professor e vejo que há muito pouco esforço por parte dos estudantes. Muitos estudantes escolhem os cursos sem orientação, os estudantes escolhem estudar contabilidade, mas têm problemas de matemática. Para ser contabilista, é fundamental o conhecimento de Cultura Geral, História, Economia, enfim, mas o domínio da matemática é essencial. Esse também é um dos problemas que vejo a nível das escolas, a fraca interpretação de dados de Matemática e Estatística.
Mas os cursos superiores também são criticados. Como estão os currículos das universidades que ministram os cursos de Contabilidade?
Tem de se rever os currículos, basta ir às nossas universidades públicas e ver o que dão nas aulas de Informática. Estão a ensinar converter binários em decimais, binários em centímetros, o contabilista não precisa disso, o contabilista na sala deve aprender Excel, Excel Aplicado a Finanças, Lançamento de Factura, Primavera, só assim podem sair qualificados para o mercado. Temos técnicos licenciados em contabilidade que não usam Excel e uns até não sabem teclar, não sabem onde estão as letras no computador. Eu entrevisto aqui candidatos para a empresa que me solicitam contabilistas e vejo isso. Por isso, há diferenciação de salários. Um técnico médio português tem domínio de informática. Antes de vir para cá, estuda o nosso sistema fiscal e, quando chega aqui, é director do banco, enquanto o angolano, que é técnico superior, vai lá como seu subordinado.
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