Ramaphosa chega ao poder depois de 20 anos à espera
NOVO GOVERNO. Depois de cerca de 800 acusações de corrupção, Jacob Zuma teve mesmo de ceder o lugar a Ramaphosa.
Corrupção é o que mais terá pesado para a ‘condenação pública’ de Jacob Zuma, que foi forçado pelo seu partido a abandonar a presidência da República. E é precisamente por aí que o novo presidente quer começar a liderança. Cyril Ramaphosa já apontou como prioridade o combate à corrupção. Desigualdade, pobreza e criminalidade estão entre os vários problemas que assolam actualmente a sociedade sul-africana, em particular, a população negra, e que Ramaphosa terá de os resolver. Aliás, o ANC, partido que governa desde o fim do ‘apartheid’, em 1994, tem registado uma baixa considerável da simpatia dos sul-africanos. O novo presidente, que tem os olhos nas eleições de 2019, tem ainda de dar solução a problemas como a falta de água e luz e às doenças sexualmente transmissíveis. Em 2016, por exemplo, havia mais 2,31 milhões de pessoas infectadas com VIH em relação a 2002.
PERCUSRO
Cyril Ramaphosa nasceu em Joanesburgo, na África do Sul, em Novembro de 1952, segundo de três filhos. O pai era polícia. Cresceu na cidade de Soweto, onde fez grande parte da sua educação. Durante 20 anos, foi o quase homem da política sul-africana e considerado um protegido de Nelson Mandela. Aliás, Mandela desejava que Ramaphosa lhe sucedesse na presidência do ANC e da República. No entanto, o desejo do fundador da nação sul-africana é realizado quase duas décadas depois.
O actual presidente da África do Sul fez o seu nome como um líder sindical na era do regime do ‘apartheid’ e, nos últimos dias do domínio da minoria branca, como negociador principal com o governo de Frederik de Klerk, o último branco a ocupar o cargo de presidente da África do Sul.
Em 1994, altura em que perdeu para Thabo Mbeki a corrida à vice-presidência do partido e, consequentemente, a vice-presidência da República, sob liderança de Nelson Mandela, Cyril Ramaphosa afastou-se da política para se dedicar aos negócios. O novo presidente sul-africano beneficiou do Black Economic Empowerment, um programa do governo que visava potenciar financeiramente uma elite de negros sul-africanos para competir com empresários brancos.
Em 2012, regressa à cena política e torna-se, dois anos depois, o vice-presidente do partido e da República, sob a liderança de Jacob Zuma, que cedeu à pressão dos “companheiros de luta” para abandonar o poder, devido a vários escândalos de corrupção e sexual que pesam sobre si. Embora em conjuntura conflituosa e nada abonatória para o ANC, Cyril Ramaphosa é eleito pelo parlamento presidente da África do Sul e o ‘o sonho de Mandela é realizado’.
O homem, que, na década 1980, convocou as maiores greves da história sindical, enfrentando o regime do ‘apartheid’, tem agora caminho aberto para solucionar muitos dos problemas que, na altura, assolavam a população e que persistem na sociedade sul-africana. Não se sabe se, como empresário, terá o mesmo rigor e sensibilidade para defender e resolver os problemas do povo, em particular os dos trabalhadores, como na altura que era líder da União Nacional de Trabalhadores de Minas.
Pelo menos, já criticou o seu partido por ter sucumbido ao chamado ‘captura estatal’, termo para se referir aos casos de corrupção que pesam sobre o ex-presidente Jacob Zuma, envolvendo a família indiana Gupta, uma das mais ricas da África do Sul. Entretanto, a reputação de Ramaphosa sofreu particularmente quando, como director não-executivo da Lonmin, uma produtora de platina do Reino Unido, foi culpado por assumir o lado da administração sobre os trabalhadores quando 34 mineiros em greve foram mortos em 2012.
Julius Malema, um ex-líder juvenil do ANC, que abandonou o partido para criar a sua formação política, chegou a acusar Cyril Ramaphosa de simbolizar a evolução do ANC dos combatentes da liberdade para os “capitalistas de camaradas”.
OS GUPTA DE ZUMA
Gupta é o sobrenome de uma família indiana, que possui uma variedade de interesses económicos na África do Sul, incluindo computação, mineração, aviação, energia, tecnologia e média. Os três irmãos Atul, Rajesh e Ajay mudaram-se para o país africano em 1993, oriundos da Índia, praticamente nas vésperas do fim do governo de minoria branca. São conhecidos como amigos do ex-presidente Zuma. Dois filhos e uma das suas esposas trabalhavam nas empresas da famosa família Gupta. Com o tempo, as relações de Jacob Zuma e os Gupta foi-se solidificando, até surgirem acusações, segundo as quais, os indianos exerciam tanta influência sobre ex-presidente sul-africano, ao ponto de indicar nomes para ocupar cargos de ministros, o que ficou conhecido como ‘captura do Estado’. Esta relação ‘mal-querida’, entre os indianos e Zuma, ditou, entre outros escândalos, a queda do presidente que mais viaja para Angola, entre visitas privadas e na qualidade de chefe de Estado. *Com agências
JLo do lado errado da história