SANÇÕES DOS EUA

Rússia alerta para “consequências catastróficas”

13 Aug. 2018 Valor Económico Mundo

BLOQUEIO. Ocidentais ‘fustigam’ a Rússia com sanções económicas, mas Moscovo resiste e promete responder. Governo de Putin, classifica as sanções como “inadmissíveis e hostis”.

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A economia russa está em vias de se ressentir de mais uma onda de sanções vinda do arqui-rival EUA), meses depois de a União Europeia (EU) ter prolongado o embargo aplicado em 2014, no âmbito de conflito ucraniano.

Desta vez, o argumento para o bloqueio norte-americano é o alegado envolvimento do governo de Vladimir Putin no envenenamento, no Reino Unido, de um ex-espião russo, por meio do agente tóxico Novichok. No entanto, a Rússia considera uma “declaração de guerra económica” a adopção de uma possível segunda ronda das sanções norte-americanas. “Se continuarem coisas como a proibição desse, ou daquele banco, ou o uso dessa, ou daquela moeda, teremos de chamar as coisas pelo seu nome. É uma declaração de guerra económica”, avisa o primeiro-ministro russo, Dmitri Medvedev, citado pela agência Interfax.

“E teremos que responder totalmente a esta guerra, com métodos económicos, métodos políticos e, se for necessário, com outros métodos. Os nossos amigos norte-americanos têm de entender isso”, reforçou o primeiro-ministro russo.

O Kremlin classifica como “inadmissíveis”, “hostis” e “ilegais” as novas sanções norte-americanas, que limitam a exportação de alguns produtos tecnológicos. A possível segunda etapa das sanções pode ir até à proibição de aterragem de aviões das companhias aéreas russas em aeroportos norte-americanos, ou a suspensão de relações diplomáticas entre os dois países. O jornal russo Kommersant avança que o pacote de sanções norte-americanas poderá provocar uma investigação sobre a suposta fortuna pessoal do presidente Vladimir Putin, proibindo os norte-americanos de comprarem dívida soberana russa. Segundo o jornal, o plano incluiria sanções contra os grandes bancos públicos russos, como Sberbank, VTB e Gazprombank, e o sector dos hidrocarbonetos, essencial para a economia russa, também são afectadas pelas sanções.

A Rússia está submetida a sanções ocidentais cada vez mais severas desde a anexação da Crimeia em 2014, as quais contribuíram, somadas à queda dos preços dos hidrocarbonetos, para provocar dois anos de recessão da qual saiu no final de 2016. Entre acusações de ingerência russa na campanha eleitoral de 2016, os EUA não pararam de reforçar as sanções nos últimos anos, apesar das promessas de reconciliação de Donald Trump.

A porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Maria Zakharova, avisou que a Rússia vai aplicar “medidas de resposta” às novas sanções anunciadas por Washington. “Os EUA optaram deliberadamente pelo caminho do confronto nas relações bilaterais que já estão praticamente reduzidas a zero pelas suas próprias iniciativas”, afirma Maria Zakharova.

Sanções permanentes

O suposto envenenamento de Serguei Skripal e da filha Yulia causou ainda uma crise diplomática entre Londres e Moscovo, pois o governo britânico decidiu expulsar vários diplomatas russos, medida seguida pela Rússia, que exigiu a saída de diplomatas britânicos do país.

Além disso, países aliados de Reino Unido, como os EUA, tomaram medidas semelhantes. O Reino Unido acusou directamente a Rússia do envenenamento dos Skripal, depois de uma investigação que identificou o Novichok como uma substância de fabrico militar russo. No entanto, não ficou provado o envolvimento do Estado russo, como garante Moscovo.

No âmbito de um outro conflito, o da Ucrânia, a UE decidiu prolongar até 31 de Janeiro de 2019 sanções que visam sectores específicos da economia russa. A Alemanha e a França negociaram, em 2015, com a Ucrânia e a Rússia, os Acordos de Minsk ao abrigo dos quais terminaram os confrontos em larga escala no Leste da Ucrânia entre forças do país e separatistas pró-russos, não se tendo chegado a um cessar-fogo.