Sonangol contrata auditora acusada de negligência
AUDITORIA. PricewaterhouseCoopers enfrenta três processos nos Estados Unidos da América que podem custar 5,5 mil milhões de dólares. Petrolífera estatal justifica contração com “reputação nacional e internacional” e com “proposta financeira mais vantajosa”.
A Sonangol anunciou, na semana passada, a contratação dos serviços de auditoria externa da consultora PricewaterhouseCoopers (PwC) para o segundo semestre e fecho do ano fiscal de 2016, conforme um comunicado da petrolífera pública a que o VALOR teve acesso.
Segundo a nota, a contratação “resultou da reavaliação do resultado do concurso conduzido anteriormente em que participaram quatro empresas de auditoria com reputada experiência nacional e internacional, tendo a PwC apresentado a proposta financeira mais vantajosa para a Sonangol”. Entre as vantagens competitivas da proposta vencedora, a petrolífera pública identificou também “um número de horas de trabalho e experiência técnica comprovada equivalente ou superior aos restantes concorrentes”.
A medida, segundo a empresa liderada por Isabel dos Santos, “faz parte de uma nova cultura e de uma nova forma de trabalhar da Sonangol, que prima pela redução de custos, pelo rigor e pela transparência”, lê-se no documento, que assinala também que a decisão foi tomada em estrito cumprimento do regulamento do conselho de administração da Sonangol E.P, sendo que, na tomada de decisão, o administrador de origem indiana, Sarju Raikundalia, ficou de fora da votação “por exercer, até à sua nomeação, funções como sócio da PwC”. A nota esclarece, no entanto, que Sarju Raikundalia renunciou aos direitos, enquanto sócio da PwC, antes de ser indigitado, “não mantendo, por conseguinte, qualquer vínculo” com a empresa auditora.
Com esta adjudicação, a Sonangol E.P. conta que a reputação nacional e internacional de independência e qualidade da PwC possam contribuir para o reforço da qualidade dos processos internos de ‘compliance’, e para a qualidade e credibilidade das contas do Grupo, refere o documento.
PWC ALVO DE TRÊS QUEIXAS
Apesar da “reputada experiência nacional e internacional”, referida pela Sonangol, a PricewaterhouseCoopers enfrenta, nos Estados Unidos de América, três julgamentos por acusações de “consultoria negligente”, correndo o risco de pagar indemnizações milionárias que podem provocar um rombo financeiro “enorme”, caso condenada, como escreve o site norte-americano ‘Market Watch’.
Dos três julgamentos, um já decorre no tribunal do Estado da Florida, outro está marcado para Fevereiro de 2017 no tribunal federal de Alabama, e outro ainda no tribunal federal de Manhattan, sendo que, nos três casos, os analistas admitem sentenças desfavoráveis que podem custar 5,5 mil milhões de dólares a consultora.
Considerado “incomum”, o processo foi movido pelo administrador de falências da ‘Taylor Bean & Whitaker Mortage Corp’, um dos 12 maiores credores hipotecários do Estados Unidos, alegando danos em 2012, depois de o banco ter falido em Agosto de 2009.
O caso despontou após a descoberta, pelos reguladores federais, de uma fraude de três mil milhões de dólares relativos a activos hipotecários falsos vendidos pela Taylor Bean ao banco Colonial Bank, auditado pela PwC, que, entretanto, produziram perdas elevadas.
Apesar de ser administrador da entidade que alegadamente cometeu a fraude, o autor da acção justifica-se que o auditor do Colonial Bank, no caso a PwC, “foi negligente em não detectar a fraude” que provocou somas avultadas para o seu cliente. A consultora diz, no entanto, que “não realizou quaisquer serviços para a Taylor Bean”, mas, no que diz respeito ao Colonial Bank, “um dos alvos da fraude da Taylor Bean”, fez o seu trabalho.
Presente em Angola há mais de 20 anos, a consultora PwC já foi também uma das principais visadas no escândalo financeiro internacional, conhecido como ‘Luxemburgo leaks’, em que grandes empresas transnacionais evitaram o pagamento de impostos, através de um artifício legal designado elisão fiscal.
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