ANGOLA GROWING
EM CAUSA INCAPACIDADE FINANCEIRA DA OPERADORA

Sonangol podia reaver posições? da COBALT Angola sem custos

PETRÓLEO. Cobalt anuncia que administração da Sonangol recuou no negócio da compra dos 40% que os norte-americanos detêm nos blocos 20 e 21. Observadores consideram que activos podiam passar para o Estado sem custos, com a evocação da “incapacidade financeira” da Cobalt.

Uma interpretação da Lei das Actividades Petrolíferas, associada a um precedente que envolveu a petrolífera iraniana Petropars, no ano passado, sugere que o Estado poderia reclamar os activos da norte-americana Cobalt, nos blocos 20 e 21 do offshore angolano, a custo zero ou muito próximo disso, colocando em questão o negócio, entretanto recusado por Isabel dos Santos, que obrigaria a Sonangol a desembolsar cerca de 1,75 mil milhões de dólares.

O número 2 do artigo 45 da Lei nº 10/04, de 12 de Novembro (Lei das Actividades Petrolíferas), determina que “as associadas da Concessionária Nacional devem possuir comprovada idoneidade e capacidade financeira”. E foi precisamente com base neste recurso legal que, em Novembro de 2015, o Ministério dos Petróleos retirou a licença de concessão à empresa do Irão Petropars Limited, excluindo-a do grupo empreiteiro da zona Norte de Cabinda. O Decreto Executivo nº 657/15, de 24 de Novembro, exarado por José Botelho de Vasconcelos, afastava a companhia iraniana por “não possuir técnica e capacidade financeira” para efectivar a exploração, sendo que os 10% que os iranianos detinham no negócio acabaram ‘transferidos’ para a Sonangol.

As circunstâncias que levaram ao afastamento da Petropars, na zona Norte de Cabinda, ganham agora paralelos no negócio que envolve a Sonangol e a Cobalt Angola.

Em Agosto de 2015, a petrolífera Sonangol acordou comprar os 40% da participação da petrolífera norte-americana nos blocos 20 e 21 no offshore angolano, por um valor estimado em 1,75 mil milhões USD. Segundo fontes conhecedoras do processo, a concessionária fez, na altura, um depósito de 250 milhões de dólares, que seriam restituídos caso a compra não chegasse a efectivar-se.

Na última semana, a petrolífera norte-americana divulgou, no entanto, que foi informada da decisão da equipa de Isabel dos Santos de cancelar a compra, depois de uma reunião, há poucos meses, entre Isabel do Santos e a administração da Cobalt, em que, alegadamente, a Sonangol se comprometera a concluir o negócio.

Desta forma, segundo vários observadores consultados pelo VALOR, a decisão da nova administração da Sonangol evita um desembolso de 1,75 mil milhões de dólares, depois de a petrolífera pública ter perdido a oportunidade de tomar os activos da Cobalt a custo zero, ao avançar com a assinatura do contrato, “considerando que se podia colocar o mesmo cenário que se colocou com a Petropars, atendendo a conhecida grave aflição financeira que afecta a companhia norte-americana”. A petrolífera enfrenta, há anos, questões judiciais e regulatórias quer com o Departamento da Justiça dos Estados Unidos, quer com a Security Exchange Commission, a entidade reguladora do mercado de capitais norte-americano, devido a suspeitas de práticas de corrupção em Angola. A empresa tem também um passivo financeiro pesado. De acordo com uma fonte da Mangrove Capital Partners, empresa de consultoria financeira com sede em Londres, a Cobalt tem em posse “apenas” mil milhões de dólares em dinheiro, dos quais teria de devolver o adiantamento pago pela Sonangol, caso o negócio falhasse. As contas incluem despesas de 450 milhões de dólares este ano, 75 milhões de dólares para o pagamento de juros, 220 milhões de dólares em compromissos de participações nas plataformas petrolíferas e outros 50 milhões de dólares em despesas gerais e administrativas.

Como que para agravar a situação financeira já debilitada, a Cobalt, fundada em 2005 com um crédito de 500 milhões de dólares, provenientes da Goldman Sachs, possui uma dívida de 2,6 mil milhões de dólares, cujo prazo de maturidade é 2019. “Nota-se ainda que a Cobalt tem uma produção limitada nos vários projectos de exploração que detem e não opera, mas que exigem investimentos adicionais”, aponta a fonte conhecedora dos negócios petrolíferos, reforçando que “sem o negócio da Sonangol, a Cobalt ficaria sem dinheiro no próximo ano”. O analista da Mangrove acrescenta que a petrolífera norte-americana não tem capacidade financeira de levar os campos por si descobertos da fase de prospecção para a de desenvolvimento, reforçando a possibilidade que havia de o Governo angolano evocar o argumento legal de “falta de capacidade financeira” para reclamar os activos nos blocos 20 e 21.

Observadores internos suspeitam, no entanto, que a compra dos 40% da Cobalt, nos blocos 20 e 21, poderia ter sido “forçada” pelas “amizades” que a petrolífera tem em altos ciclos angolanos, citando outro exemplo da compra pelo Governo de uma mina de ferro a uma empresa privada, a Trafigura, por 400 milhões de dólares, conforme divulgado há dois meses pela imprensa. Entre os nomes associados à estrutura accionista da Cobalt Angola contavam-se os de Manuel Vieira Dias ‘Kopelipa’, Leopoldino do Nascimento e o do Vice-presidente da República, Manuel Vicente, através da empresa Aquattro Internacional e da Nazaki Oil and Gas, segundo vários artigos publicados pela imprensa nacional e internacional.

A Sonangol não respondeu a pedidos para comentar por que razão recuou no negócio, que levará a Cobalt a vender os seus activos a terceiros. Entre a Chevron, a Total, a BP e a Esso, potenciais compradores, apenas a última respondeu. “Estamos empenhados em expandir os nossos negócios em Angola e trabalhar com a Sonangol para identificar oportunidades que sejam mutuamente benéficas”, disse ao VALOR Todd Spliter, o porta-voz da empresa.