ZUNGUEIRA
SARAIVA SANTOS, ASSOCIAÇÃO DOS AQUICULTORES

“Todos os anos morrem aquicultores. O executivo precisa de criar uma política para captar novos aquicultores”

Critica a presença de pessoas sem conhecimento na actividade por influência política. Alerta para a produção “muito baixa” de ração e o impacto na aquicultura. Diz-se sem “vigor” para continuar e apela para a entrada de mais jovens na actividade.

“Todos os anos morrem aquicultores.  O executivo precisa de criar uma política para captar novos aquicultores”

Há alguns anos, registou-se um certo dinamismo na aquicultura em Angola. Hoje qual é a realidade? 

O Banco Africano de Desenvolvimento tinha perspectivado um crescimento de 7% ao ano da aquicultura em África até 2021. Infelizmente, só tivemos, em todas as situações, 3%, 4%, porque houve a covid-19 e depois a guerra na Ucrânia. Angola também sofreu com isso. O que faz com que a aquicultura cresça é a capacidade que as populações têm de absorver esses bens que são para o combate à fome e à pobreza. A aquicultura é considerada um bem do combate à fome e à pobreza. Para 2025, temos um desígnio de 30 mil toneladas. 


É uma meta facilmente alcançável ou nem por isso? 

Para se conseguir um quilo de peixe, por exemplo, precisa-se de um 1,5 quilo de ração. Não temos os insumos de que necessitamos para a aquicultura. Para se ter uma ideia, Angola tem cerca 35 milhões de habitantes. Não quer dizer que todos consumam peixe mas se se multiplicar pelos dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, saberá qual é a necessidade que precisamos de pescado para satisfazer a população no ano. Depois daqui, é que temos de satisfazer o exterior. Angola produz cerca de 23 mil toneladas, isso dá menos de um quilo por pessoa por ano. Dá cerca de 857 gramas por pessoa. Por isso, temos de ter consciência de que precisamos de trabalhar, precisamos de conhecimento, precisamos de formação e que o Banco Africano de Desenvolvimento esteja connosco. 


E quais são os principais entraves?

Angola tem um índice de informalidade muito grande na agricultura. Quer dizer, o maior problema somos nós. A agricultura é uma resposta à aquicultura. Se você não tiver produtos agrícolas, não vai produzir ração. Se você não tem produtos agrícolas para satisfazer as necessidades alimentares…. Tem ideia de quantas toneladas de milho são necessárias para a alimentação da população angolana? São 10 milhões de toneladas. Este ano, Angola deve produzir quatro milhões e meio. Onde é que está o resto? É muito esforço, vai-se fazendo pouco e pouco. Quer dizer, nós andamos a arranjar paliativos para atacar este fogo. Começa o fogo do outro lado, apaga. Não temos certeza do que fazemos. Sabe? A aquicultura é das actividades que mais se está a desenvolver no mundo. Há países, em África, que estavam atrás de nós no princípio da aquicultura, mas que hoje já estão à frente. O Brasil tem o programa “pesca e paga”. Você vai à lagoa, pesca, e aquilo que pescou é vendido e pago. Porque é que isso custa para um angolano? É Muito caro. Convido-o a ir ao Deskontão ou qualquer uma dessas grandes superfícies e ver como é que está o quilo do cacusso: 5 mil kwanzas. Em 2022, apenas 506 operadores aquícolas estavam legais. Hoje, estamos em 2025… Este ano submeti, ao Ministério da Agricultura, um mapa para criarmos as empresas âncora. 

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