Arábia Saudita é o líder da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) desde a criação da organização em 1960 por causa das suas gigantescas reservas de crude, hoje estimadas em cerca de 264 mil milhões de barris e a sua produção diária média estimada em cerca de 10 milhões de barris por dia. Acima de tudo, a Arábia Saudita tem uma capacidade extra de produção estimada em cerca de dois milhões de barris por dia e é essa capacidade não utilizada (spare capacity) que torna o Reino Saudita o mais importante actor petrolífero global como o produtor flutuante (swing producer). Para uma comparação com o nosso país, Angola tem reservas de crude estimadas em cerca de 10 mil milhões de barris e uma produção média diária hoje estimada em cerca de 1,6 milhões de barris por dia. Os preços de petróleo começaram a cair acentuadamente a partir de Junho de 2014 por causa do excesso de oferta de petróleo que teve a sua origem na revolução energética dos últimos 10 anos nos EUA, com o petróleo de xisto a contabilizar a maior parte do excesso da oferta no mercado mundial de petróleo. Na reunião ordinária da OPEP , em Novembro de 2014, a maioria dos países membros da OPEP era favorável a um corte de produção para um aumento do preço do petróleo com a finalidade de equilibrar o mercado. Nessa altura, os sauditas, como líderes da organização e dos Estados do Golfo, recusaram um corte de produção contra a opinião de muitos outros países membros. A estratégia saudita, desde essa data até à reunião de 30 de Novembro de 2016, foi de recuperação de quota de mercado. O objectivo dos sauditas e dos seus aliados no Golfo (no Conselho de Cooperação do Golfo) foi de permitir uma descida dos preços do petróleo para eliminar a produção de petróleo de xisto (e não convencional) na América do Norte, considerada como mais cara e vista como ameaça ao petróleo desses países e dos restantes membros da OPEP. Essa estratégia de recuperação de quota de mercado não eliminou a produção de xisto americana, embora esta tenha diminuído de forma significativa em 2016 em comparação com o período de 2015, em cerca de um milhão de barris por dia. Contrariamente ao que alguns autores têm referido, a OPEP é a mais importante instituição no mercado petrolífero mundial. De acordo com os dados mais recentes da OPEP, os países membros produziram, em média, cerca de 32 milhões de barris de petróleo por dia em 2016 para uma produção mundial de cerca de 95 milhões de barris por dia. Qualquer análise sobre o mercado petrolífero precisa de considerar o papel fundamental que a OPEP tem nos mercados petrolíferos. Desvalorizar um grupo de países que representa cerca de 30% da produção global de crude é um erro crasso de análise. A OPEP é apenas uma das possíveis plataformas para a projecção dos interesses nacionais dos Estados do Golfo (que são o verdadeiro centro do poder da organização) no que concerne ao petróleo e por isso não podemos ver na OPEP a única plataforma para a possibilidade de concertação de produção petrolífera entre principais produtores a nível global. Desde a crise petrolífera dos anos 70 do século passado e a queda abrupta dos preços de petróleo nos anos 1980 que a OPEP não é tão relevante como o foi depois da crise petrolífera de 1973. O mundo, onde os preços de crude eram influenciados por meras declarações de Ahmed Zaki Yamani, o poderoso ministro dos Petróleos da Arábia Saudita nos anos 1970 e 1980, há muito que deixou de existir. O cerne da questão é que os Estados do Golfo, liderados pela Arábia Saudita, podem agir fora da OPEP e intervir nos mercados, aumentando ou reduzindo a sua produção petrolífera como o fizeram na crise petrolífera de 1973, quando o embargo imposto pelos países árabes ao Ocidente – por causa da guerra entre o Egipto e Israel – levou ao colapso de muitas economias Ocidentais dependentes do crude árabe. Nessa altura, o petróleo representava cerca de 50% do consumo primário energético mundial e hoje representa apenas cerca de 30%. Isso significa que o crude em 2017 não é tão relevante como era nos 70 ou 80 do século passado, e, em parte, foi por causa dos preços altos de crude que criaram incentivos económicos para a substituição do crude por outras fontes de energia alternativas, como o gás natural, energias renováveis entre outras. Importa também salientar que os sauditas implementaram, com sucesso, uma estratégia unilateral de recuperação de quota de mercado em 1985-86, quando procuraram aumentar a sua quota de mercado de forma significativa por causa dos efeitos negativos dos preços altos de crude que tiveram como consequência uma redução da sua produção de 10 milhões de barris por dia para meros três milhões de barris de petróleo por dia. Essa estratégia passou por um aumento significativo da produção saudita e uma redução dos preços. Na crise petrolífera de 2014, os sauditas tentaram implementar uma estratégia semelhante de recuperação de quota de mercado para eliminar o excesso da produção petrolífera de xisto, ao permitir uma queda dos preços e por isso não permitiram um corte de produção na OPEP. Obviamente, essa estratégia falhou de forma significativa e, embora a produção da Arábia Saudita continue em níveis recordes, essa estratégia não foi capaz de eliminar os produtores de xisto. Um dos erros da estratégia saudita foi subestimar a resiliência dos produtores de xisto dos Estados Unidos que conseguiram reduzir , de forma significativa, os seus custos operacionais e tornar competitiva a produção de xisto num ambiente de preços reduzidos. Evidentemente, com a enorme queda de receitas na Arábia Saudita e nos Estados do Golfo, esses países decidiram mudar de estratégia em 2016 e optaram por um corte de produção e preços mais elevados e obviamente a OPEP foi das plataformas escolhidas para um corte de produção. Mas ver nela a única possibilidade de concertação da produção de crude é de uma miopia extrema. Para os Estados do Golfo, a possibilidade de acção fora da OPEP não é apenas uma possibilidade, mas uma realidade sempre presente. O grande vencedor das guerras de petróleo no período compreendido entre 2014 e 2016 são os Estados Unidos, na sua incessante batalha por segurança energética e os milhares de produtores independentes, que tornaram a produção de xisto viável, e agora com a previsível subida ligeira dos preços de crude este ano essa produção vai aumentar. Com a nova Administração Trump, eleita numa plataforma pró-energética, com nomes como Rex Tillerson, antigo PCA da Exxon no Departamento de Estado, e Rick Perry, antigo governador do Texas (o mais importante Estado no sector energético nos EUA) para secretário para a Energia, é expectável um aumento significativo da produção de xisto e de gás e torna-se cada vez mais real a possibilidade da independência energética nos Estados Unidos, com consequências geopolíticas colossais. Para Angola, as ‘guerras do petróleo’ iniciadas pelos sauditas contra os produtores americanos apanharam o país de surpresa, mas isso será um tema tratado numa futura análise. PhD, Professor das Universidades de Coventry e Agostinho Neto
Sem Autor
Praias africanas estão ?a ficar sem areia
DESERTIFICAÇÃO.Dados do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), dão conta de que, anualmente, são extraídas cerca de 40 mil milhões de toneladas de areia no mundo para construir estradas, edifícios, telefones e ‘microchips’. Vários países africanos lançam agora o alerta, porque estão ?a ficar sem areia e correm sérios riscos também económicos.
‘Offshores’ agitam Portugal
A autoridade Tributária e Aduaneira (AT) portuguesa deixou sair cerca de dez mil milhões de euros em transferências para paraísos fiscais (‘offshores) sem qualquer escrutínio, entre 2011 e 2014. A notícia, inicialmente revelada pelo jornal ‘Público’, está a agitar a política portuguesa, obrigando os secretários de Estado dos Assuntos Fiscais a dar explicações no parlamento, o que vai acontecer já esta quarta-feita. O enorme fluxo financeiro vai ser investigado pela Inspeçção-Geral de Finanças (IGF), por ordem expressa do Ministério das Finanças. As transferências nunca foram verificadas pelas IGF , apesar de terem sido comunicadas à administração fiscal pelos bancos, como a lei portuguesa obriga. Os bancos são obrigados a identificar e a reportar as transferências de dinheiro feitas a partir de Portugal para contas sediadas em ‘offshores’. Depois, a AT tem de escrutinar os movimentos, perante a possibilidade de serem detectados eventuais indícios de branqueamento de capitais ou fuga aos impostos. O Ministério das Finanças esclareceu que houve “20 declarações apresentadas por instituições financeiras que não foram objecto de qualquer tratamento pela AT”. Em 2010, o governo português ordenou que as estatísticas sobre os fundos transferidos de Portugal para paraísos fiscais fossem publicadas no portal do Ministério das Finanças. No entanto, os dados deixaram de ser publicados a partir de 2011. Quando foram finalmente divulgados, estimava-se que tivessem saído de Portugal cerca de 7.162 milhões de euros para paraísos ficais nesse período (2011-2014). Mas, no cruzamento de dados feito pela investigação do jornal, esse valor ascende aos 16.964 milhões de euros. Ou seja, há uma diferença superior a 9.800 milhões por explicar.
O CASO
João Lourenço, o mais provável Presidente da República a sair das eleições de Agosto, criticou a corrupção no grande comício de lançamento da pré-campanha do MPLA, que decorreu na Huíla. A generalidade dos observadores aplaudiu o discurso do general, mas também houve críticas. Houve quem entendesse que o candidato do MPLA não explicou como se propõe combater a corrupção, o que é verdade. Acontece que essa crítica é facilmente rebatível pela equipa do candidato do partido no poder, pelo menos por agora. João Lourenço mal começou a apresentar-se em público. Até terminar a campanha eleitoral, terá muito que falar, pelo que, em termos de estratégia de comunicação, é obrigado a dosear o discurso. Por esta perspectiva, é aceitável que Lourenço não tenha jogado todas as cartas na primeira aparição pública de pré-campanha. A forma como se explicou para juntar o tema da corrupção no discurso foi, de resto, notável. Para Lourenço era importante que o MPLA se antecipasse às críticas da Oposição, mergulhando nas águas movediças da prática que mais lesou até hoje os recursos do Estado. A estratégia é clara: jogar pela antecipação, dificultando em certa medida o espaço de ataque do adversário. Mas, como já referido, esse ‘raciocínio estratégico’ do MPLA tem os dias contados. Só poderá vigorar até ao momento em que todos forem obrigados a mostrar todos os trunfos de campanha. E, quando chegar essa altura, ficará mais claro até que ponto o primeiro grande compromisso assumido por João Lourenço será para levar a sério, porque aí o candidato do partido governante será obrigado a explicar, sobretudo, o como fazer. Será forçado a dizer que leis pretenderá aprovar. Que instituições serão necessariamente criadas ou reforçadas. E, sobretudo, como deverá gerir o ‘pesadelo’ de uma cúpula de poder, com várias das suas figuras relevantes recorrentemente associadas às práticas de corrupção, dentro e fora de portas. Enquanto escrevíamos estas linhas, aliás, o Governo angolano reagia às notícias sobre a acusação de corrupção contra o vice-presidente da República, em Portugal. Mais do que contestar a veracidade da acusação contra Manuel Vicente, o Governo mostrou-se insultado particularmente por ter tomado conhecimento do caso através dos jornais. E o protesto que saiu de Luanda direcionado a Lisboa elevou a ameaça ao ponto de as relações entre os dois países serem colocadas em xeque. Não estando em causa a presunção de inocência de que goza o engenheiro Manuel Vicente, o facto é que o país mais uma vez é atingido da forma mais humilhante. O país assiste, outra vez, às suas instituições estruturais a serem ridicularizadas em hasta pública, com o Procurador Geral da República também citado numa encruzilhada de interesses que envergonham a justiça. Combater a corrupção em Angola, em termos líquidos, vai ter de significar mudar tudo isso. Vai implicar que, quando se tornar público o encaminhamento de processos à PGR de suspeitas de corrupção ou de branqueamento de capitais, confirmem-se ou não, deverá haver respostas. Porque, em boa verdade, desde sempre que muita gente anda à espera do primeiro caso de condenação por corrupção, em Angola, por investigação da PGR.
Arábia Saudita é o líder da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) desde a criação da organização em 1960 por causa das suas gigantescas reservas de crude, hoje estimadas em cerca de 264 mil milhões de barris e a sua produção diária média estimada em cerca de 10 milhões de barris por dia. Acima de tudo, a Arábia Saudita tem uma capacidade extra de produção estimada em cerca de dois milhões de barris por dia e é essa capacidade não utilizada (sparecapacity) que torna o Reino Saudita o mais importante actor petrolífero global como o produtor flutuante (swing producer). Para uma comparação com o nosso país, Angola tem reservas de crude estimadas em cerca de 10 mil milhões de barris e uma produção média diária hoje estimada em cerca de 1,6 milhões de barris por dia. Os preços de petróleo começaram a cair acentuadamente a partir de Junho de 2014 por causa do excesso de oferta de petróleo que teve a sua origem na revolução energética dos últimos 10 anos nos EUA, com o petróleo de xisto a contabilizar a maior parte do excesso da oferta no mercado mundial de petróleo. Na reunião ordinária da OPEP , em Novembro de 2014, a maioria dos países membros da OPEP era favorável a um corte de produção para um aumento do preço do petróleo com a finalidade de equilibrar o mercado. Nessa altura, os sauditas, como líderes da organização e dos Estados do Golfo, recusaram um corte de produção contra a opinião de muitos outros países membros. A estratégia saudita, desde essa data até à reunião de 30 de Novembro de 2016, foi de recuperação de quota de mercado. O objectivo dos sauditas e dos seus aliados no Golfo (no Conselho de Cooperação do Golfo) foi de permitir uma descida dos preços do petróleo para eliminar a produção de petróleo de xisto (e não convencional) na América do Norte, considerada como mais cara e vista como ameaça ao petróleo desses países e dos restantes membros da OPEP. Essa estratégia de recuperação de quota de mercado não eliminou a produção de xisto americana, embora esta tenha diminuído de forma significativa em 2016 em comparação com o período de 2015, em cerca de um milhão de barris por dia. Contrariamente ao que alguns autores têm referido, a OPEP é a mais importante instituição no mercado petrolífero mundial. De acordo com os dados mais recentes da OPEP, os países membros produziram, em média, cerca de 32 milhões de barris de petróleo por dia em 2016 para uma produção mundial de cerca de 95 milhões de barris por dia. Qualquer análise sobre o mercado petrolífero precisa de considerar o papel fundamental que a OPEP tem nos mercados petrolíferos. Desvalorizar um grupo de países que representa cerca de 30% da produção global de crude é um erro crasso de análise. A OPEP é apenas uma das possíveis plataformas para a projecção dos interesses nacionais dos Estados do Golfo (que são o verdadeiro centro do poder da organização) no que concerne ao petróleo e por isso não podemos ver na OPEP a única plataforma para a possibilidade de concertação de produção petrolífera entre principais produtores a nível global. Desde a crise petrolífera dos anos 70 do século passado e a queda abrupta dos preços de petróleo nos anos 1980 que a OPEP não é tão relevante como o foi depois da crise petrolífera de 1973. O mundo, onde os preços de crude eram influenciados por meras declarações de Ahmed ZakiYamani, o poderoso ministro dos Petróleos da Arábia Saudita nos anos 1970 e 1980, há muito que deixou de existir. O cerne da questão é que os Estados do Golfo, liderados pela Arábia Saudita, podem agir fora da OPEP e intervir nos mercados, aumentando ou reduzindo a sua produção petrolífera como o fizeram na crise petrolífera de 1973, quando o embargo imposto pelos países árabes ao Ocidente – por causa da guerra entre o Egipto e Israel – levou ao colapso de muitas economias Ocidentais dependentes do crude árabe. Nessa altura, o petróleo representava cerca de 50% do consumo primário energético mundial e hoje representa apenas cerca de 30%. Isso significa que o crude em 2017 não é tão relevante como era nos 70 ou 80 do século passado, e, em parte, foi por causa dos preços altos de crude que criaram incentivos económicos para a substituição do crude por outras fontes de energia alternativas, como o gás natural, energias renováveis entre outras. Importa também salientar que os sauditas implementaram, com sucesso, uma estratégia unilateral de recuperação de quota de mercado em 1985-86, quando procuraram aumentar a sua quota de mercado de forma significativa por causa dos efeitos negativos dos preços altos de crude que tiveram como consequência uma redução da sua produção de 10 milhões de barris por dia para meros três milhões de barris de petróleo por dia. Essa estratégia passou por um aumento significativo da produção saudita e uma redução dos preços. Na crise petrolífera de 2014, os sauditas tentaram implementar uma estratégia semelhante de recuperação de quota de mercado para eliminar o excesso da produção petrolífera de xisto, ao permitir uma queda dos preços e por isso não permitiram um corte de produção na OPEP. Obviamente, essa estratégia falhou de forma significativa e, embora a produção da Arábia Saudita continue em níveis recordes, essa estratégia não foi capaz de eliminar os produtores de xisto. Um dos erros da estratégia saudita foi subestimar a resiliência dos produtores de xisto dos Estados Unidos que conseguiram reduzir, de forma significativa, os seus custos operacionais e tornar competitiva a produção de xisto num ambiente de preços reduzidos. Evidentemente, com a enorme queda de receitas na Arábia Saudita e nos Estados do Golfo, esses países decidiram mudar de estratégia em 2016 e optaram por um corte de produção e preços mais elevados e obviamente a OPEP foi das plataformas escolhidas para um corte de produção. Mas ver nela a única possibilidade de concertação da produção de crude é de uma miopia extrema. Para os Estados do Golfo, a possibilidade de acção fora da OPEP não é apenas uma possibilidade, mas uma realidade sempre presente. O grande vencedor das guerras de petróleo no período compreendido entre 2014 e 2016 são os Estados Unidos, na sua incessante batalha por segurança energética e os milhares de produtores independentes, que tornaram a produção de xisto viável, e agora com a previsível subida ligeira dos preços de crude este ano essa produção vai aumentar. Com a nova Administração Trump, eleita numa plataforma pró-energética, com nomes como Rex Tillerson, antigo PCA da Exxon no Departamento de Estado, e Rick Perry, antigo governador do Texas (o mais importante Estado no sector energético nos EUA) para secretário para a Energia, é expectável um aumento significativo da produção de xisto e de gás e torna-se cada vez mais real a possibilidade da independência energética nos Estados Unidos, com consequências geopolíticas colossais. Para Angola, as ‘guerras do petróleo’ iniciadas pelos sauditas contra os produtores americanos apanharam o país de surpresa, mas isso será um tema tratado numa futura análise.
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