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AAIM defende revisão da lei

‘‘Lei arcaica impede inclusão financeira’’

05 May. 2021 (In) Formalizando

Microfinanças. Falta de legislação actualizada não proporciona um ambiente favorável ao exercício da actividade plena de microfinanças, segundo o presidente da Associação Angolana das Instituições de Microfinanças (AAIM).

‘‘Lei arcaica impede inclusão financeira’’

A actual lei e os instrutivos auxiliares que regulam as operações de microcrédito não se adequam aos dias de hoje, pelo facto de não acompanharem o contexto macroeconómico, tão-pouco proporcionarem um ambiente favorável para o exercício da actividade plena de microfinanças.

Quem o diz é o presidente da Associação Angolana das Instituições de Microfinanças  (AAIM), Joaquim Catinda, para quem o vazio legal limita em grande medida os operadores que persistentemente expõem esta preocupação ao regulador. 

“Somos apologistas de que se deve atender à especificidade da indústria de microfinanças ao invés de condicioná-la à prática da banca formal, bastando, para o efeito, criar o diploma, limitando e separando o âmbito de intervenção de cada uma delas”, defende Catinda.

O líder associativo aponta a falta de regulamentação como o principal impedimento à efectivação do processo de inclusão financeira, ou seja, a não implementação de soluções financeiras de pouca complexidade para os extractos populacionais de baixo e médio rendimentos, como, por exemplo micropoupança, microcrédito, micro-seguros, microleasing. “A regulamentação actual força e condiciona as instituições existentes e as potenciais a aderirem aos requisitos aplicados para a banca clássica, o que é, a todos os títulos, inviável e contraproducente”, observa, apelando para a urgente revisão da legislação.

“É necessária maior celeridade na materialização deste instrumento. A título de exemplo, sobre os seguros, existem várias soluções disponíveis no país. Existem várias seguradoras de saúde, mas o valor de contratação só pode ser suportado por indivíduos de médio ou alto rendimento, excluindo o grosso da população angolana. Existem apenas duas opções: as clínicas privadas de topo ou os hospitais públicos. Não existem soluções mais económicas que possam atender extractos populacionais de menor rendimento como, por exemplo, taxistas, comerciantes informais e similares, ou seja, está a privar-se esta franja populacional de direitos que deviam ser usufruídos por todos”, lamenta.

Joaquim Catinda defende, por outro lado, a inserção das instituições de microfinanças entre as que concedem crédito no âmbito do Prodesi, para a agricultura familiar obter “maior expressão e vitalidade”, visto que se organiza em escala micro, constitui-se na principal fonte de sustento das famílias rurais e não só. “Sendo que um dos objectivos do Prodesi é potenciar os micro e pequenos negócios, torna-se indispensável a inclusão dos operadores de microfinanças nesta cadeia, por serem detentores de ‘know-how’ bastante sobre a matéria, o que faz deles os melhores parceiros para o sucesso do programa”, explica. Catinda considera imperativo repensar “a legislação, a tributação, a disponibilidade de recursos, a formação e todos os mecanismos existentes de apoio as cadeias produtivas, quer seja da agricultura, pescas, tecnologias e outras. É importante e de todo aconselhável que se reveja e se ajuste toda a arquitectura sobre a qual assenta o ambiente de negócios de uma forma geral, de modo a torná-lo eficiente e capaz de cumprir com os objectivos nobres que estão na base da sua criação”.

 

OPERADORES DE MICROCRÉDITO SUFOCADOS

A pandemia da covid-19 provocou um impacto negativo enorme, ainda não mensurado, às instituições de microfinanças. A redução do poder de compra e o aumento do custo de vida têm condicionado o cumprimento das obrigações creditícias. Joaquim Catinda explica tratar-se de uma realidade “difícil e constrangedora”, pois o objectivo maior é “a maximização da actividade e o aumento de capacidade de geração de excedentes para garantir a continuidade das operações”.

“A metodologia solidária, por exemplo, que se resume em financiamento sem a apresentação de qualquer garantia, é fortemente afectada no actual contexto e quase que nenhum operador está disposto a correr o risco de continuar a financiar este segmento, de amplo espectro social, advindo dessa situação de ruptura, maior degradação da situação socioeconómica de inúmeros agregados familiares que dependiam dessa forma de financiamento”, refere.