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FACE AOS NÚMEROS DE 2019 E 2020

Custos de construção de casas triplicam em Luanda

17 Nov. 2021 Economia / Política

IMOBILIÁRIO. Elevados preços dos materiais, documentação e mão-de-obra contribuem para o aumento “vertiginoso” do custo de construção. Poucos empresários do sector optam por construir e os que persistem afirmam lutar para não encerrar as portas.

Custos de construção de casas triplicam em Luanda

 

Os efeitos da pandemia e da crise económica conduziram ao “aumento significativo” dos custos de construção de moradias em 2021, segundo vários operadores do sector imobiliário que apontam, em alguns casos, subidas acima dos 300%, em comparação aos números dos dois anos anteriores.

Com impressões digitais em projectos imobiliários de médio e alto padrões, Tomasz Dowbor, do Grupo Boavida, explica que o aumento dos custos não se deve apenas à importação de produtos, mas também à subida dos materiais produzidos localmente. Segundo exemplifica, para construir uma casa de tipologia T3, com 150 m², gasta 35 milhões de kwanzas, o triplo do que gastava nos últimos dois anos. A mesma subida verifica-se nas tipologias T4, com 250 m², que alteraram para 50 milhões de kwanzas, e nas T5, com 500 m², que triplicaram para os 100 milhões de kwanzas. “Os custos triplicaram devido ao aumento radical dos materiais, tanto nacionais como importados, e continuam a subir conforme a desvalorização do kwanza”, lamenta.

A confirmar o aumento “vertiginoso” dos custos de construção, Francisco Silva, director-geral da Jefran, compara que as residências inacabadas de baixo padrão que exigiam entre 1 e 2 milhões de kwanzas, pelo menos entre 2019 e 2020, hoje reclamam entre 5 e 6 milhões de kwanzas. E mais 4 milhões se tiver de concluí-la contra os 2 a 3 milhões anteriores. E se Tomasz Dowber prefere destacar o aumento dos custos dos materiais como decisivos para a alteração dos custos da construção, Francisco Silva olha para os custos da mão-de-obra, dos terrenos e dos “documentos essenciais”, como as licenças de tapume e de construção, esta última que custa quase 1,5 milhões de kwanzas. “Nesta altura, construir não é rentável, continuamos porque é o que se sabe fazer, temos de continuar a lutar. Actualmente, construir é um acto de coragem e suicídio. As empresas constroem não para crescer, é só para manter, não despedir todos os funcionários e passar fome”, deplora.

Cleber Corrêa, vice-presidente da Associação dos Profissionais Imobiliários de Angola (Apima), tem outros preços e estima um aumento médio de 75% no custo de construção das diferentes tipologias. Nos projectos identificados pelo responsável da Apima, a construção de residências de baixo padrão fica agora por entre 400 e 600 dólares o metro quadrado, números que sobem para entre 1.000 e 1.400 dólares, para o padrão médio. Já para os imóveis de alto padrão, o cliente desembolsa entre 2 mil e 3 mil dólares por cada metro quadrado.

 ENTRETANTO, VENDAS ‘NIETE’

O aumento dos custos da construção não tem sido acompanhado pelas vendas que, entretanto, caíram “significativamente”, influenciadas pela queda do poder de compra. Se antes Cleber Corrêa, enquanto director da Proimoveis, vendia duas a três residências num fim-de-semana, este ano vendeu até agora apenas duas casas. Já Francisco Silva prefere não mais vender em prestações, optando pelo arrendamento dos imóveis.

“Ninguém, nesta altura, no sector imobiliário, consegue ter lucros de 50%”, atira, por sua vez, a empresária Judith Mateus, no que é corroborada pelo CEO do Grupo Boa Vida. “Com menos poder de compra, a banca virou costas aos consumidores. Hoje, ter o crédito habitacional é quase impossível, quando possível, as taxas são extremamente altas, de tal forma que inviabiliza”, assinala Tomasz Dowbor, em cujos projectos o preço de comercialização do imóvel é praticamente o dobro do valor do custo de construção. Um T3, na Urbanização Boa Vida, por exemplo, é superior a 50 milhões de kwanzas.

A Apima garante, no entanto, não ter cruzado os braços para ver melhorias no sector. Pela segunda vez, apresentou este ano um conjunto de acções a 15 ministérios, com vista a fomentar a venda, através de financiamento de imóveis sociais. A mesma não mereceu qualquer resposta até ao momento. “São acções legislativas, financeiras e institucionais que pretendem criar um ambiente propício para que surjam condições para a população aceder ao imóvel social e assim criar um ambiente de negócios que faça crescer a economia e com isso dinamizar o parque industrial, reabilitar o tecido empresarial, promover a inclusão social e capacitação profissional. Uma espécie de plano Marshall de Angola”, propõe a Apima.