“COPOS E MULHERES”
Um dos factos curiosos, quando se ouve a classe empresarial a falar, de forma colegial, é a inacreditável recusa de responsabilidades, em relação ao conjunto da irresponsabilidade que colocou a economia angolana de joelhos. Na generalidade, a classe empresarial parece adversa aos exercícios de introspecção. Jamais considerou a autocrítica. E, se alguma o fez, evitou de forma descarada o confessionário público. Sempre que a classe se pronuncia, perante os holofotes, a culpa é toda do Estado, ou do Governo ou de um ser qualquer abstracto. Mas nunca dos homens de negócios. O que é facto é isso: jamais se ouviu dos próprios empresários o reconhecimento da sua quota parte de responsabilidade no ‘estado de sítio’ em que se colocou a economia e o país. No encontro em que o candidato do MPLA, João Lourenço, reuniu centenas de empresários em Luanda, na última semana, o disco tocou a mesma música sem surpresas. O conjunto dos pronunciamentos não foi além da atribuição de culpas explícitas e implícitas às autoridades e uma dose de pedidos ao que os empresários já consideram como o próximo Presidente da República. Aliás, a conversa do putativo PR vale a abertura de parênteses. Quem ouviu as diferentes intervenções não ficou alheio à clareza da convicção dos empresários de que se estavam a dirigir ao próximo Presidente da República. As eleições, julga-se, não passarão de um mero formalismo da democracia. Teria sido interessante também, só por esse facto, colocar os mesmos empresários em conversa com os outros candidatos que, ainda com ideias menos consolidadas que as do MPLA, têm seguramente alguma mensagem para a classe. Seria interessante, ainda que para um mero exercício académico de aferição do nível de (des)conforto e do tipo de discurso dos empresários. Mas, aqui chegados, é altura de fechar os parênteses e deixar a ficção de lado, até porque ninguém imagina empresários do MPLA sentados a ouvir ideias da UNITA ou da CASA-CE. Mas, voltando ao que interessa, os empresários esquecem-se, nos momentos de confissão, que quem, nos últimos anos, se serviu das fragilidades e da incompetência do Governo para, por esquemas fraudulentos, contribuir para a sangria de divisas foram também os homens de negócios. Quem se beneficiou dos variadíssimos programas governamentais de créditos dirigidos, mas que foram incapazes de levantar projectos sustentáveis, foram também os empresários. Quem muitas vezes foi ao exterior e comprou, consciente ou inconscientemente, bens alimentares deteriorados e ‘envenenados’ de metais altamente nocivos à saúde humana para vender aos angolanos são também empresários. Quem muitas vezes recebeu financiamento do Estado ou da banca privada para aplicar na indústria, mas acabou por montar stand de automóveis, são também empresários. Quem acabou por beneficiar de um generoso perdão fiscal até 2012, mas que quer agora ver a dívida com os bancos perdoada, são também empresários. Quem muitas vezes, em conluio com agentes do Governo, inventou dívida pública para delapidar os cofres do Estado, desviando recursos que muita falta fazem ao investimento público são também empresários. Quem recebeu dinheiro fresco, através de apoios directos do Estado, para montar projectos que alegadamente defenderiam a soberania económica do país, mas que acabaram inexplicavelmente por construir impérios falidos, são também empresários. O presidente do Eurogrupo, Jeron Dijsselbloem, diria que não se gasta dinheiro em copos e mulheres e depois exigir-se ajudas.
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