Sem Autor

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Carmen Reinhart Professora de Sistema Financeiro Internacional na Universidade de Harvard

 

Vincent Reinhart Economista chefe da Standish Mellon Asset Management.

 

Todas as primaveras, os burocratas internacionais acorrem para Washington DC, tão certo quanto andorinhas para Capistrano, para as reuniões anuais do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial (BM), onde partilham informações sobre as economias locais onde operam e respectivas perspectivas políticas. Porque estes oficiais vão a múltiplos eventos durante a semana, desenvolve-se uma câmara de eco a partir da qual emerge uma perspectiva genérica sobre o estado da economia global. A condução da política global é depois influenciada por essa percepção.

Desta vez, a percepção foi positiva. De acordo com o FMI, segundo o reportado no seu World Economic Outlook, o PIB real deve expandir cerca de 2% nas economias desenvolvidas este ano e o próximo. Isto coloca a taxa de desemprego em menos de 6%, o que não difere muito do nível de antes da crise financeira de 2008. A deflação, ou a indesejável desinflação, só é vista agora no espelho retrovisor, à medida que a inflação no preço ao consumidor se fixa à volta dos 2%, o objectivo da maioria dos bancos centrais.

No entanto, como qualquer residente de New England sabe, nem sempre as chuvas de Abril trazem flores de Maio; às vezes, só trazem mais chuva e mais frio. Não quero ‘chover na parada’ dos oficiais, mas receamos que estejam demasiado confortáveis com a estabilização das condições económicas. Debaixo dos números que fazem manchete, há pouca evidência de que os problemas subjacentes tenham sido resolvidos.

Não seria a primeira vez. O registo pós 1945 inclui duas anteriores “décadas perdidas” em que economias se debateram para recuperar de severas crises financeiras – incluindo aí uma dúzia de países da América Latina de 1982 a 1992, e o Japão de 1992 a 2007 – que estiveram abaixo das suas próprias tendências de crescimento e das dos seus pares.

Por sombria que esta história pareça, o crescimento do PIB real per capita foi positivo em entre 60% a 75% desses anos, respectivamente, na América Latina e japão. Na verdade, o PIB real per capita expandiu em mais de 2% em pelo menos um quarto desses anos. De modo que, esses países vislumbraram raios de sol no que se revelou ser, em retroespectiva, uma nuvem maioritariamente densa.

Junto do oficialismo, a aceleração da actividade económica pode fomentar esperanças, mas os níveis também são relevantes. Na Europa, o PIB real médio mal tem sido positivo desde a crise financeira, e o nível em 2016 foi cerca de 20% abaixo do previsto pela tendência dos dez anos até 2007. Esta posiciona-se como a recuperação mais lenta de uma crise financeira severa, em dois séculos. E os dados agregados escondem uma multitude de problemas: a Grécia e a Itália, por exemplo, não vão recuperar o nível de PIB real per capita de antes da crise dentro do período das previsões do World Economic Outlook, que cobrem até 2022. Sim, as tendências de despesa pós-crise são um impedimento ao crescimento, em parte, devido à sua persistência. Mas, durante este período, a estagnação de crescimento no potencial de produtividade é central. De acordo com o FMI, o crescimento do PIB real potencial nas economias avançadas – considere esta como a tendência subjacente para o fornecimento agregado – caiu para metade neste século, de 2,71% em 2001 para níveis tão baixos quanto 1.28% recentes. O contexto é mais sombrio nos EUA, onde, de acordo com o Departamento Orçamental do Congresso a amplitude da oscilação, é o dobro, de cerca de 4% para 1,5%. Mas todas as economias do G7 partilham este fenómeno porque as suas populações envelhecidas e crescem mais devagar, retirando-se do mercado de trabalho e adicionando muito pouco rendimento extra por hora adicional trabalhada. Se a produtividade ou o rendimento horário, vão continuar a arrastar-se é difícil prever. Mas dados são dados, e mostram claramente que o crescimento da produtividade vem sendo lento há algum tempo. O potencial de crescimento da produtividade não é apenas uma abstracção dos economistas. Se, como parece ser o caso, a receita expectável seguir um caminho descendente, vamos ter menos recursos para suprir as nossas necessidades. E sendo que temos consumido e contraído crédito em antecipação de receitas mais elevadas, vamos ficar decepcionados.

Há certamente margem para decepção nas economias avançadas, tendo em conta que a dívida pública bruta paira em torno dos 106% do PIB nominal e os défices fiscais prolongam-se para além do horizonte previsível. A matemática orçamental só dificulta, à medida que os bancos centrais normalizam a política monetária, mesmo que as taxas de juro não retornem completamente aos seus níveis pré-crise.

Em economias com um histórico recente de controlo fiscal, como a Austrália, Canadá e Nova Zelândia, o sector privado tem estado a contrair crédito com demasiada facilidade. Em tempos difíceis, os erros do sector privado tornam-se frequentemente obrigações do sector público. A mecânica do governo representativo funciona melhor quando é usada para partilhar um bolo económico em crescimento.

Por exemplo, quando a economia americana tinha 4% de tendência de crescimento, esperava-se que o PIB real duplicasse em 18 anos, o que dava conforto aos pais acerca do futuro económico dos seus filhos. À actual tendência de 1.5%, o período necessário para duplicação do PIB chega a 48 anos, o que sombreia as perspectivas económicas até dos netos. Nessas circunstâncias será que os governantes vão tomar as decisões difíceis necessárias para passar do estado de estabilização económica para o de recuperação sustentável?

CÂMBIO. Dólar continua a aumentar nas ruas de Luanda. Hoje, 3 de Maio, cada dólar norte-americano está a ser comercializado a 380 kwanzas.

 

O preço do dólar norte-americano no mercado informal voltou a disparar pela segunda semana consecutiva. Esta é a quarta subida semanal desde Março, segundo dados avançados pela agência Lusa.

Na segunda quinzena de Março, cada dólar chegou a ser vendido pelas 'kinguilas' da capital a 340 kwanzas, mínimos do ano, ainda assim mais do dobro da taxa de câmbio oficial definida pelo Banco Nacional de Angola (BNA) e que está inalterada há um ano.

De acordo com a agência, há uma semana foi possível encontrar, em Luanda, quem vendesse cada dólar entre os 360 e os 370 kwanzas, praticamente idêntico à semana anterior, cotação que hoje subiu para entre 365 e 380 kwanzas, valores que ainda contrastam com o pico de 500 kwanzas por cada dólar dos primeiros dias de Janeiro, no mercado informal.

A taxa de câmbio oficial cifra-se actualmente em cerca de 166 kwanzas por cada dólar, quando antes do início da crise das receitas do petróleo, ainda em 2014, era de 100 kwanzas.

As taxas no mercado informal já estiveram próximas dos 600 kwanzas por cada dólar em Agosto e Julho, depois de máximos de 630 kwanzas em Junho, face à falta de dólares nos bancos.

Parece que ultimamente emergiu um novo consenso entre as elites políticas e do mundo dos negócios sobre como resolver a onda anti-globalização que populistas como Donald Trump têm explorado com tanto sucesso. Idas são as assunpções confiantes de que a globalização beneficia toda a gente: temos, as elites agora reconhecem, que aceitar que a globalização produz tanto ganhadores como perdedores. Mas a resposta correcta não é travar ou inverter a globalização; é assegurar que os perdedores são recompensados.

 

O novo consenso é afirmado de forma sucinta por Nouriel Roubini: a onda anti-globalização “pode ser contida e gerida através de políticas que compensem os trabalhadores pelos danos e custos colaterais”, defende. “só através da promulgação dessas políticas os perdedores poderão começar a pensar que eventualmente se vão juntar às fileiras dos ganhadores.”

Este argumento parece fazer sentido eminente, tanto económica como politicamente. Os economistas defendem há muito que a liberalização do comércio causa tanto redistribuição como perdas absolutas para alguns grupos, mesmo quando alarga o bolo económico total de um país. Portanto, as trocas comerciais, sem dúvida, aumentam o bem estar nacional quando os vencedores compensam os perdedores. Esta compensação também assegura apoio para o comércio vindo de eleitorados mais vastos e isso constitui boa governação.

Antes do Estado social, a tensão entre abertura e a redistribuição era resolvida ou através emigração de larga escala de trabalhadores ou pela reintrodução de proteccionismo comercial, especialmente na agricultura. Com o crescimento do Estado social, esta restrição tornou-se menos obrigatória, levando a mais liberalização. Hoje os países avançados, que são os mais expostos à economia internacional, são também os que tem programas de seguro social – Estados sociais- mais extensos. Estudos na Europa demonstraram que os perdedores da globalização tendencialmente favorecem programas sociais mais activos e intervenções públicas no mercado de trabalho.

Se a oposição ao comércio não se tornou politicamente saliente na Europa até hoje, é em parte porque essas redes de protecção social se mantêm fortes, apesar de terem enfraquecido nos últimos anos. Não será exagero afirmar que o Estado social e a economia de mercado têm sido lados da mesma moeda durante grande parte do século XX.

Comparado à maioria doa países europeus, os EUA chegou tarde à globalização. Até recentemente, o seu grande mercado doméstico e relativo isolamento geográfico providenciaram uma considerável protecção de importações, particularmente oriundas de países com salários baixos. Tradicionalmente os EUA tinha também um Estado social fraco.

Quando os EUA se começaram a abrir a importações vindas do México, China e de outros países em vias de desenvolvimento nos anos 80, poder-se-ia esperar que seguisse o modelo europeu. Em vez disso, ante uma onde de ideias ‘Reagenistas’ e fundamentalistas de mercado, os EUA seguiram na direcção oposta. Como Larry Mishel, presidente do Instituto para a Política Económica, coloca, “ignorar os perdedores foi deliberado.” EM 1981, o programa de Ajustamento e Assistência Comercial (AAC) foi um dos primeiros que Reagen atacou, cortando os seus pagamentos semanais.

O estrago continuou sob subsequentes administrações democráticas. Nas palavras de Mishel, “se os liberalistas se importassem de facto com a classe trabalhadora, teriam apoiado um leque completo de políticas que defendessem o crescimento salarial: o emprego, a negociação colectiva, qualificação da mão-de-obra, um salário mínimo robusto e por aí fora.” E tudo isto poderia ter sido feito antes de “introduzir os ‘choques’ da expansão do comércio com países de mão- de-obra barata”.

Poderia agora os EUA inverter a posição e seguir a nova sabedoria convencional emergente? Em 2007, o cientista Ken Sche e o economista Matt Slaughter apelaram à “introdução de uma globalização renegociada” nos EUA, que iria conectar o “comprometimento com a economia mundial a uma substancial redistribuição da renda.” Nos EUA, defendiam eles, isto significaria a adopção de um sistema federal de impostos bastante mais progressista.

A chacina serviu durante a administração republicana do presidente George W. Bush. O que é indicação do quão polarizado se tornou o clima político, que é impossível imaginar propostas semelhantes saídas do círculo republicano hoje em dia. O esforço de Trump e dos seus aliados no congresso para castrar o programa de seguro de saúde do anterior presidente Barack Obama, reflete o comprometimento republicano com a contenção, e não expansão, das protecções sociais.

O consenso acerca da necessidade de compensar os perdedores da globalização presume que os ganhadores estão motivados por interesse próprio esclarecido – que acreditam que a participação dos perdedores é essencial para manter a abertura económica. A presidência de Trump tem revelado uma perspectiva alternativa: a globalização, pelo menos como está construída actualmente, faz pender a balança do poder político na direcção de quem tem capacidades para beneficiar da abertura, o que ultrapassa qualquer influência organizada que os perdedores possam ter. Descontentamento incubado quanto à globalização, ficou demonstrado por Trump, pode ser facilmente canalizado para servir uma agenda totalmente diferente, mais alinhada com os interesses das elites.

A política da compensação está também sempre sujeita a um problema que os economistas chamam de “inconsistência temporal”. Antes de uma nova política, digamos acordo comercial – ser adoptado - os beneficiários têm incentivo para prometer compensação. Uma vez que o acordo esteja em vigor já têm pouco interesse em cumprir, ou porque a reversão tem custos para todos ou porque o equilíbrio de poder mudou a seu favor.

A época da compensação já veio e já foi.Ainda que fosse uma abordagem viável há duas décadas, já não serve como resposta prática aos efeitos adversos da globalização. Para puxar os perdedores, vamos ter de considerar mudar as regras da própria globalização.

 

Professor de Economia Política Internacional na Universidade De Harvard.

cidade do Kilamba, localizada a cerca de 40 quilómetros a sul do centro de Luanda, Angola, é um dos maiores projectos habitacionais do género em África. Conheceu a sua inauguração em Julho de 2011 e, dada a alteração do modo de acesso, tornou-se habitada massivamente desde 2013.

Segundo dados apurados no site da Imogestin S.A, empresa gestora, esta vistosa urbanização conta com 20.000 apartamentos, construídos de um total inicial previsto de 90.000 até ao fim do ambicioso projecto. Grande parte deste gigante anda adormecida placidamente por culpa de um sector privado bastante passivo, bocejando comodamente para as paredes quiméricas do arco-íris, a ver quais das cores mais se realça e apontar com o dedo trémulo para ‘inglês ver’. Contas feitas, 20.000 habitações podem representar 20.000 trabalhadores domésticos.

Surge assim uma pergunta: por onde circula o salário de homens e mulheres desta nova e quimérica urbe que realiza o sonho Angolano e que capital estes agregam para a Economia do país?

Como veremos mais adiante, um convite faz-se à nossa fértil reflexão para acções financeiras relacionadas que podem contribuir para o desenvolvimento e proporcionar outros factores da inclusão que se almeja, abraçando práticas inovadoras, uma das quais a sistematização das receitas por via da bancarização.

Esta centralidade e outras espalhadas pelo país vieram responder, em primeiro plano, a uma estagnação gritante do sector imobiliário e desafogar a procura, assim como ajudou na redução do custo de aquisição de uma ou mais residências e o valor mensal de arrendamento.

Pode parecer um exagero ao assumirmos por tabela a quantidade de trabalhadores mencionados, dada a segmentação económica dos seus habitantes situar-se entre a classe média-baixa e não permitir dar-se ao luxo de padronizar uma casa a um(a) empregado(a), não sendo possível acontecer por cá tal rácio sonhador, nem noutra parte qualquer do planeta terra!

Com a devida permissão do leitor, mantenho a bitola,porque resta agregarmos a este número o corpo de segurança dos edifícios e os jardineiros que prestam serviços em tempo integral. Somam-se ainda os trabalhadores do sector comercial empregados em 48 lojas de conveniências, cafés e outros negócios da urbe. Há a incluir, nas contas, prestadores de serviços eventuais, que abordam diariamente a cidade de 710 edifícios erguidos na vertical.

O sector educacional exibe, de igual modo, muito força com as suas 24 creches, nove escolas primárias, oito secundárias que, de certa forma, entre o corpo de dirigentes, docentes, pessoal administrativo, embora vinculados aos serviços públicos, gostariam de ver resposta aos seus anseios financeiros cada vez mais próximos, no lugar de andar a galgar milhas para uma simples operação.

Nestes quatro anos, estão instaladas apenas duas agências bancarias na cidade. Olhando para uma proporção de 4,6 membros por agregado familiar, segundo o censo de 2015, estaríamos a falar de cerca de noventa mil famílias. E considerando a taxa de 50,3% de população activa, andaríamos por volta de 69 mil clientes já adicionados os trabalhadores efectivos da cidade, número nunca desprezível para qualquer exercício de captação.

Tendo sido a cidade do Kilamba apenas uma amostra, avaliando todas as demais centralidades pelo país, gostaríamos de juntá-la ao seguinte exercício de somar.Quanta pipa de dinheiro se desperdiça nesta falta de bancarização? Que impostos não se cobram nas operações que se fariam? Qual é a quantidade em valor do fisco que se foge de outras actividades? Que somas se fariam nos relatórios financeirosdos lucros sobre as diversasoperações? Quantos créditos seriam vendidos ao volume da potencial carteira de clientes?

Este quadro confirma a existência de um sector financeiro passivo, vencido pelo sector de alimentação e serviços que respondem de imediato à procura local, um sector bancário conformado à letargia do passado, provocando prejuízos enormes à captação de receitas para si e para o Estado que tanto precisa delas nesta época do petróleo minguado.

Importa aconselhar que bancarizar não é apenas o acto de abrir uma conta, encostar nela alguns tostões e deixá-la dormente. Precisa-se que o sector ofereça outros serviços e produtos que estimulem o cidadão a regressar à conta.

Enquanto se olhar para o pequeno cliente bancário como um favor, a continuar-se neste prisma, estaremos longe de ajudar que o país cresça em paralelo.

Estamos em crer que todas estas e outras acções seriam um grande aliado arquitectónico, bitolado no movimento da ginga dos seus habitantes e vê-los caminhar felizes pelas ruas, com manifesto sorriso de satisfação que se agrupa a um bem-estar, como prossuposto de boa vida, conseguindo responder ontem o que o habitante quereria para hoje.

 

Laurindo Tchoia, especialista em inclusão financeira

01 May. 2017

CONTAS OCULTAS II

Mais uma edição com destaque absoluto para o alegado diferendo que opõe o Instituto Nacional de Estatística (INE), ao departamento ministerial que o tutela, no caso, o Ministério do Planeamento e do Desenvolvimento Territorial (MPDT). Os novos dados que trazemos à estampa apontam que o ministro Job Graça decidiu pela realização de uma auditoria às Contas do INE. A possibilidade de efectivação dessa medida é contestada, entretanto, por especialistas ligados à área das estatísticas que temem um atropelo gritante à Lei, face à autonomia técnica que é salvaguardada ao órgão dirigido por Camilo Ceita.

Mas, olhando para os factos que o VALOR já colocou sob o domínio público em relação a essa matéria, é fácil admitir que os alegados receios do MPDT sobre a fiabilidade das Contas não passam de uma ‘manobra de diversão’ para protelar ao máximo a divulgação oficial da fotografia macroeconómica completa do ano passado. O problema é que, uma vez divulgados os números e as razões de fundo da divergência, pela comunicação social, o MDPT coloca os pés pelas mãos e aquilo que possivelmente mais receava – o aproveitamento político dos dados – torna-se mais do que provável. Os números, afinal, mais do que ‘ajudam’. O produto interno bruto (PIB) de 2016, cuja previsão de crescimento do Governo era de 1,1%, depois de recuar dos 3,3% iniciais, nas contas do INE, registou uma queda de 3,6%. Ainda que se trate de dados preliminares, não deixa de ser uma diferença de tal modo significativa, ao ponto de justificar o tal medo atribuído a Job Graça. Afinal, nesta fase, todo o Governo vive, em certa medida, assombrado pelo medo das eleições. As hesitações que se colocam na gestão da política monetária e cambial são também prova disso. Não fosse o contexto político, era mais do que provável que o Governo tivesse esticado um pouco mais a corda em relação à desvalorização do kwanza. As certezas associadas à derrocada dos rendimentos, sobretudo das famílias, são inquestionáveis, mas não é menos verdade que a manutenção do valor administrativo do kwanza está também a colocar em causa as parcas reservas internacionais líquidas que são fundamentais nesta fase crítica que demanda pela diversificação da economia. Ora, sem divisas para apoiar verdadeiramente os investidores, na nossa condição de importadores absolutos, torna-se impossível impulsionar o investimento privado, logo a diversificação, nos termos em que é desejada, passa a ser uma miragem. De qualquer forma, José Eduardo dos Santos e Archer Mangueira deixaram claro que, por agora, o medo da inflação é maior que tudo o resto, por isso nada de mexer no valor do kwanza. Há mesmo muitos medos espalhados.... pelas eleições.