Evaristo  Mulaza

Evaristo Mulaza

O Valor Económico foi o primeiro órgão de comunicação social de referência que avançou a notícia. Em Julho de 2024, este jornal antecipou detalhes do que será o ‘Manifesto Social’ da candidatura de Higino Carneiro à presidência do partido no poder. No essencial, o manifesto destacava uma agenda de consenso para “mudar Angola”. O diálogo inclusivo, a atenção especial aos cuidados primários de saúde, o investimento significativo numa educação de qualidade, o acesso à habitação condigna, o investimento no saneamento básico e a protecção dos grupos vulneráveis sobressaíam na agenda. Sete meses depois, em Fevereiro deste ano, o Valor Económico voltou a revelar pormenores de algumas das propostas fundamentais do agora pré-candidato à liderança do MPLA. A revisão da Constituição e a mobilização de recursos para o sector produtivo saltavam à vista. Outra proposta destacável era a redução da pobreza extrema e a reestruturação do Estado, com os olhos na redução da máquina pública e no corte dos gastos que esta actualmente exige. 

Caro Lionel Messi, não temos nenhuma garantia de que, por algum meio, venha a ter contacto com este abaixo-assinado. Fazemo-lo, de qualquer forma e antes de mais, por inconformismo. É que, apesar de toda a insanidade que devassa e anestesia Angola e o mundo, acreditamos que nos resta alguma humanidade. Escrevê-lo também por ossos do ofício. É isso o que, em parte, nos permite reiterar a convicção de que continuamos a acreditar inabalavelmente nos valores e na importância do jornalismo. Escrevemo-lo ainda porque, reformulando a icónica sentença de Tolstoi, julgamos que o tempo e as nossas capacidades ainda nos permitem passar aquilo que tencionamos transmitir, mesmo que de forma parcial. Finalmente, porque, mesmo conscientes de que há uma possibilidade de 99,9% de não vir a saber deste texto, restará uma hipótese de 0,1% de ter contacto com este texto e de lhe fazer justiça.   

Quem teve o cuidado de olhar para os factos além do óbvio, não deixou passar o tempo. Fez soar os alarmes na primeira hora, porque a tragédia da governação de João Lourenço começou a desenhar-se desde o dia inaugural. O seu discurso belicoso e toda a encenação a que recorreu para fazer-se de antítese de José Eduardo dos Santos não enganaram os mais atentos. Desde o primeiro momento que começou a ficar claro que não havia estratégia, não havia plano, não havia consciência. Pelo menos nada que fosse do efectivo e genuíno interesse do país. 

A notícia fez correr rios de tinta há uma semana. João Lourenço autorizou uma despesa de 400 milhões de kwanzas para a preparação da Cimeira EUA-África. Trata-se de gastos em consultoria, para sermos mais precisos. 

28 May. 2025

HAJA SELVA!

Pouquíssimo tempo depois de Valter Filipe chegar a governador do Banco Nacional de Angola, chamou alguns jornalistas seniores para revelar o que tinha encontrado em casa. Ladeado de alguns dos seus colegas de topo, incluindo uma vice-governadora, Valter Filipe doseou as palavras de cerimónia para ir directo ao ponto. O Banco Nacional de Angola, dissera de viva voz, tinha sido transformado numa “casa da mãe Joana”. Sem necessidade de se aprofundar nos detalhes, o então novel governador tinha dito o suficiente para passar a mensagem de fundo. O banco que havia encontrado era tudo menos um banco central, muito menos um banco regulador. As notícias subsequentes foram fornecendo mais clareza às palavras de Valter Filipe. O Banco Nacional de Angola enfermava de várias doenças. Estava mais próximo de uma casa de câmbio gerida sem regras. Uma espécie de Mártires do Kifangondo a céu fechado.