Evaristo  Mulaza

Evaristo Mulaza

O ‘estrondo’, a curiosidade e a revolta que a frase do Presidente da República “o povo é o meu patrão” provocou espelha bem o estado de pobreza a que sujeita a maioria esmagadora dos angolanos. Esta frase, que se pode equiparar a outras como “o verdadeiro dono do poder é o povo”, não passa de um chavão muitas vezes rebuscado por governantes, sobretudo os que sentem e têm necessidade de convencer o povo de que continuam a estar no centro das decisões.  Ainda assim, nem todos deveriam sentir-se com legitimidade para fazer uso destes chavões. 

A notícia fez correr rios de tinta há uma semana. João Lourenço autorizou uma despesa de 400 milhões de kwanzas para a preparação da Cimeira EUA-África. Trata-se de gastos em consultoria, para sermos mais precisos. 

28 May. 2025

HAJA SELVA!

Pouquíssimo tempo depois de Valter Filipe chegar a governador do Banco Nacional de Angola, chamou alguns jornalistas seniores para revelar o que tinha encontrado em casa. Ladeado de alguns dos seus colegas de topo, incluindo uma vice-governadora, Valter Filipe doseou as palavras de cerimónia para ir directo ao ponto. O Banco Nacional de Angola, dissera de viva voz, tinha sido transformado numa “casa da mãe Joana”. Sem necessidade de se aprofundar nos detalhes, o então novel governador tinha dito o suficiente para passar a mensagem de fundo. O banco que havia encontrado era tudo menos um banco central, muito menos um banco regulador. As notícias subsequentes foram fornecendo mais clareza às palavras de Valter Filipe. O Banco Nacional de Angola enfermava de várias doenças. Estava mais próximo de uma casa de câmbio gerida sem regras. Uma espécie de Mártires do Kifangondo a céu fechado. 

Volta e meia, temos de lidar com isso. Um iluminado recém-servil do regime lembra-se de dizer na rádio que um dos grandes problemas de Angola é a falta de foco no debate. Sobretudo no debate concentrado nas questões económicas. E mais: vai ao ponto de fazer desta alegada ausência de foco no debate um dos entraves ao progresso económico. Que não sobrem, pois, dúvidas. Há mesmo disparates maiores que o tamanho do universo.

14 May. 2025

AO QUE CHEGAMOS!

Adalberto Costa Júnior foi, esta terça-feira, ao Palácio da Cidade Alta e a notícia ecoou em Angola com requintes de ocorrência inédita. Se o discernimento e a serenidade abundassem, os contornos deste facto seriam no mínimo constrangedores aos nossos próprios olhos. Escusado será adivinhar o que seria para os que nos observam de fora. Não haveria possível escapatória à vergonha na sua expressão mais embaraçosa. Qualquer angolano com dois dedos de testa teria a obrigação de exclamar pelo menos “ao que chegamos!”. Os outros teriam o direito de perguntar se os angolanos recuaram à idade da guerra. Exageros? Nem de perto.