Evaristo  Mulaza

Evaristo Mulaza

Caro Lionel Messi, não temos nenhuma garantia de que, por algum meio, venha a ter contacto com este abaixo-assinado. Fazemo-lo, de qualquer forma e antes de mais, por inconformismo. É que, apesar de toda a insanidade que devassa e anestesia Angola e o mundo, acreditamos que nos resta alguma humanidade. Escrevê-lo também por ossos do ofício. É isso o que, em parte, nos permite reiterar a convicção de que continuamos a acreditar inabalavelmente nos valores e na importância do jornalismo. Escrevemo-lo ainda porque, reformulando a icónica sentença de Tolstoi, julgamos que o tempo e as nossas capacidades ainda nos permitem passar aquilo que tencionamos transmitir, mesmo que de forma parcial. Finalmente, porque, mesmo conscientes de que há uma possibilidade de 99,9% de não vir a saber deste texto, restará uma hipótese de 0,1% de ter contacto com este texto e de lhe fazer justiça.   

Quem teve o cuidado de olhar para os factos além do óbvio, não deixou passar o tempo. Fez soar os alarmes na primeira hora, porque a tragédia da governação de João Lourenço começou a desenhar-se desde o dia inaugural. O seu discurso belicoso e toda a encenação a que recorreu para fazer-se de antítese de José Eduardo dos Santos não enganaram os mais atentos. Desde o primeiro momento que começou a ficar claro que não havia estratégia, não havia plano, não havia consciência. Pelo menos nada que fosse do efectivo e genuíno interesse do país. 

A notícia fez correr rios de tinta há uma semana. João Lourenço autorizou uma despesa de 400 milhões de kwanzas para a preparação da Cimeira EUA-África. Trata-se de gastos em consultoria, para sermos mais precisos. 

28 May. 2025

HAJA SELVA!

Pouquíssimo tempo depois de Valter Filipe chegar a governador do Banco Nacional de Angola, chamou alguns jornalistas seniores para revelar o que tinha encontrado em casa. Ladeado de alguns dos seus colegas de topo, incluindo uma vice-governadora, Valter Filipe doseou as palavras de cerimónia para ir directo ao ponto. O Banco Nacional de Angola, dissera de viva voz, tinha sido transformado numa “casa da mãe Joana”. Sem necessidade de se aprofundar nos detalhes, o então novel governador tinha dito o suficiente para passar a mensagem de fundo. O banco que havia encontrado era tudo menos um banco central, muito menos um banco regulador. As notícias subsequentes foram fornecendo mais clareza às palavras de Valter Filipe. O Banco Nacional de Angola enfermava de várias doenças. Estava mais próximo de uma casa de câmbio gerida sem regras. Uma espécie de Mártires do Kifangondo a céu fechado. 

Volta e meia, temos de lidar com isso. Um iluminado recém-servil do regime lembra-se de dizer na rádio que um dos grandes problemas de Angola é a falta de foco no debate. Sobretudo no debate concentrado nas questões económicas. E mais: vai ao ponto de fazer desta alegada ausência de foco no debate um dos entraves ao progresso económico. Que não sobrem, pois, dúvidas. Há mesmo disparates maiores que o tamanho do universo.