Evaristo  Mulaza

Evaristo Mulaza

14 May. 2025

AO QUE CHEGAMOS!

Adalberto Costa Júnior foi, esta terça-feira, ao Palácio da Cidade Alta e a notícia ecoou em Angola com requintes de ocorrência inédita. Se o discernimento e a serenidade abundassem, os contornos deste facto seriam no mínimo constrangedores aos nossos próprios olhos. Escusado será adivinhar o que seria para os que nos observam de fora. Não haveria possível escapatória à vergonha na sua expressão mais embaraçosa. Qualquer angolano com dois dedos de testa teria a obrigação de exclamar pelo menos “ao que chegamos!”. Os outros teriam o direito de perguntar se os angolanos recuaram à idade da guerra. Exageros? Nem de perto. 

Os sinais do desconforto que mantêm arrefecidas as relações entre Angola e China não estão incrustados nas entrelinhas. Estão expostos, às claras. Quem tem olhos de ver, identifica-os com riqueza de detalhes em discursos, mas também em gestos e accções concretos. Do lado angolano, o protesto mais sonante até ao momento foi a desfeita de João Lourenço que desmarcou uma deslocação à China à porta de um evento entre Xi Jinping e líderes africanos em 2024. Antes disso, foram as críticas contra a colateralização do petróleo para os chorudos empréstimos chineses. 

16 Apr. 2025

PORQUÊ A FILHA?

As diferenças de circunstâncias e dos factos não dissimulam as semelhanças. A questão central mantém-se. João Lourenço quase que recorreu ao escárnio para atirar-se contra o seu antecessor que colocou filhos na liderança de instituições públicas importantes. No entanto, não foi preciso chegar a meio do seu último mandato para também, neste particular, exibir a sua face da contradição. Incoerência - insista-se - que se tem destacado sobremaneira entre os traços da sua personalidade política. 

João Lourenço prometeu baixar os preços dos combustíveis em 2022, com recurso a uma hipótese fantasiosa. Acontece que o país estava em plena campanha eleitoral, pelo que não foi fácil perceber se João Lourenço partia de uma base mal informada ou se recorreu ao embuste de forma consciente. Se foi manipulado pelos seus auxiliares ou se decidiu manipular os angolanos por sua conta e risco.

Embaixadores de vários países ocidentais perfilaram-se nas últimas semanas para dizer, com eufemismos, que Angola não é um bom país para se investir. Os constrangimentos apontados sem reservas centraram-se, sobretudo, nos embaraços burocráticos e na perturbada conjuntura económica. A questão política, apesar de endossar as críticas, passou com mensagens mais subtis. Ninguém foi ao ponto de afirmar, com palavras directas, que a crispação do ambiente político impõe um quadro de impressibilidade que assusta os investidores.