Evaristo  Mulaza

Evaristo Mulaza

Transcorrida uma semana sobre o caos que estremeceu o país, e muito particularmente Luanda, sobrepõe-se uma pergunta que aparentemente continua sem resposta. O que muita gente questiona essencialmente é se João Lourenço e o seu regime perceberam realmente o que se passou. O discurso oficial insinua que não. Aparentemente, para João Lourenço e a camarilha que o cerca, nada aconteceu além de identificados actos de vandalização que se resolvem com uma linha de crédito de 50 mil milhões de kwanzas. 

Duas especulações sobre alegadas pretensões de João Lourenço têm minado a estabilidade social e política e a previsibilidade económica ao longo deste seu segundo mandato. As duas radicam em evidências irrefutáveis de que o Presidente tem medo de abandonar o poder, depois dos seus desastrados 10 anos de desgoverno. 

Antes de mais, uma confissão de desinteresse. Ouvir o Presidente João Lourenço, na maioria esmagadora dos casos, é brutalmente maçante. Chega a aproximar-se de um atentado contra a sanidade de qualquer ser razoavelmente consciente. É seguro pensar, aliás, que somos uma gota no oceano entre os angolanos invariavelmente tomados por uma espécie de angústia depressiva sempre que o Presidente fala.

Isto não é uma opinião de jornal baseada em percepções e palpites. São estudos de reputadas instituições que insistentemente desmascaram com factos e números a farsa desta governação. Há duas semanas, o economista chefe do Banco de Desenvolvimento Africano (BAD) citou dados das Nações Unidas que espelham a pilhagem do país nos dias que correm. Joel Daniel Muzima precisou que pelo menos 1,2 mil milhões de dólares saem de Angola todos os anos de forma ilícita.

O Valor Económico foi o primeiro órgão de comunicação social de referência que avançou a notícia. Em Julho de 2024, este jornal antecipou detalhes do que será o ‘Manifesto Social’ da candidatura de Higino Carneiro à presidência do partido no poder. No essencial, o manifesto destacava uma agenda de consenso para “mudar Angola”. O diálogo inclusivo, a atenção especial aos cuidados primários de saúde, o investimento significativo numa educação de qualidade, o acesso à habitação condigna, o investimento no saneamento básico e a protecção dos grupos vulneráveis sobressaíam na agenda. Sete meses depois, em Fevereiro deste ano, o Valor Económico voltou a revelar pormenores de algumas das propostas fundamentais do agora pré-candidato à liderança do MPLA. A revisão da Constituição e a mobilização de recursos para o sector produtivo saltavam à vista. Outra proposta destacável era a redução da pobreza extrema e a reestruturação do Estado, com os olhos na redução da máquina pública e no corte dos gastos que esta actualmente exige.