MOTOTÁXI
Evaristo  Mulaza

Evaristo Mulaza

28 May. 2025

HAJA SELVA!

Pouquíssimo tempo depois de Valter Filipe chegar a governador do Banco Nacional de Angola, chamou alguns jornalistas seniores para revelar o que tinha encontrado em casa. Ladeado de alguns dos seus colegas de topo, incluindo uma vice-governadora, Valter Filipe doseou as palavras de cerimónia para ir directo ao ponto. O Banco Nacional de Angola, dissera de viva voz, tinha sido transformado numa “casa da mãe Joana”. Sem necessidade de se aprofundar nos detalhes, o então novel governador tinha dito o suficiente para passar a mensagem de fundo. O banco que havia encontrado era tudo menos um banco central, muito menos um banco regulador. As notícias subsequentes foram fornecendo mais clareza às palavras de Valter Filipe. O Banco Nacional de Angola enfermava de várias doenças. Estava mais próximo de uma casa de câmbio gerida sem regras. Uma espécie de Mártires do Kifangondo a céu fechado. 

Volta e meia, temos de lidar com isso. Um iluminado recém-servil do regime lembra-se de dizer na rádio que um dos grandes problemas de Angola é a falta de foco no debate. Sobretudo no debate concentrado nas questões económicas. E mais: vai ao ponto de fazer desta alegada ausência de foco no debate um dos entraves ao progresso económico. Que não sobrem, pois, dúvidas. Há mesmo disparates maiores que o tamanho do universo.

14 May. 2025

AO QUE CHEGAMOS!

Adalberto Costa Júnior foi, esta terça-feira, ao Palácio da Cidade Alta e a notícia ecoou em Angola com requintes de ocorrência inédita. Se o discernimento e a serenidade abundassem, os contornos deste facto seriam no mínimo constrangedores aos nossos próprios olhos. Escusado será adivinhar o que seria para os que nos observam de fora. Não haveria possível escapatória à vergonha na sua expressão mais embaraçosa. Qualquer angolano com dois dedos de testa teria a obrigação de exclamar pelo menos “ao que chegamos!”. Os outros teriam o direito de perguntar se os angolanos recuaram à idade da guerra. Exageros? Nem de perto. 

Os sinais do desconforto que mantêm arrefecidas as relações entre Angola e China não estão incrustados nas entrelinhas. Estão expostos, às claras. Quem tem olhos de ver, identifica-os com riqueza de detalhes em discursos, mas também em gestos e accções concretos. Do lado angolano, o protesto mais sonante até ao momento foi a desfeita de João Lourenço que desmarcou uma deslocação à China à porta de um evento entre Xi Jinping e líderes africanos em 2024. Antes disso, foram as críticas contra a colateralização do petróleo para os chorudos empréstimos chineses. 

16 Apr. 2025

PORQUÊ A FILHA?

As diferenças de circunstâncias e dos factos não dissimulam as semelhanças. A questão central mantém-se. João Lourenço quase que recorreu ao escárnio para atirar-se contra o seu antecessor que colocou filhos na liderança de instituições públicas importantes. No entanto, não foi preciso chegar a meio do seu último mandato para também, neste particular, exibir a sua face da contradição. Incoerência - insista-se - que se tem destacado sobremaneira entre os traços da sua personalidade política.