Evaristo  Mulaza

Evaristo Mulaza

Em menos de duas semanas, João Lourenço soma a uma escandalosa vergonha internacional uma estrondosa derrota diplomática. No primeiro caso, Angola impediu e criou entraves à entrada de figuras proeminentes da política africana e mundial que foram convidadas para uma conferência em Benguela. Algumas dessas figuras, até prova em contrário, de idoneidade e autoridade moral irrefutáveis. Até hoje não houve, entretanto, um único comentário racional que explicasse tamanha borrada. E o Governo prefere manter-se num silêncio incompreensível que alastra ainda mais a nódoa. Nem uma única palavra, descurando inclusive a coincidência de João Lourenço ser neste momento o Presidente da União Africana.  

Na entrevista à Rádio Essencial, esta terça-feira, 11, o empresário Bartolomeu Dias deu algumas respostas curtas e objectivas. O Governo de João Lourenço falhou porque escolheu algumas empresas a dedo para fazer delas parceiras do Estado, entregando-lhes tudo o que tinha e o que não tinha. O Governo de João Lourenço falhou porque deixou de haver divisas para os empresários “não alinhados ao sistema”. O Governo de João Lourenço falhou porque elegeu as contratações simplificadas e adjudicações directas que privilegiam uns poucos e discriminam os outros tantos. O Governo de João Lourenço falhou porque, como sugere o empresário, as empresas privilegiadas do sistema deixam muito dinheiro fora de Angola porque temem serem confiscadas na Angola pós-João Lourenço tal como João Lourenço fez na Angola pós-José Eduardo dos Santos. Em suma, o Governo de João Lourenço falhou porque não teve “estratégia económica”. 

Apesar das razoáveis diferenças semânticas, em termos de substância, a contradição e a mentira muitas vezes são indiscrimináveis na política. Assim como se confundem, em quase todos os casos, a irresponsabilidade e a tolice. 

26 Feb. 2025

BAJULADORES DE BORLA

A última capa de 2024 do Valor Económico escolheu João Lourenço como a ‘Personalidade do Ano’ essencialmente por duas razões. A primeira fundou-se na política doméstica. Por cobardia e medo dos dirigentes do MPLA, João Lourenço conseguiu realizar um congresso sem respaldo estatutário, impondo a sua vontade. Mandou expurgar o artigo que lhe retirava a mínima ambição de manter-se na liderança do MPLA, depois de 2026 e cumpriu-se. Foi a sua batalha política do ano e, doa a quem tenha doido, venceu-a. E continuará a soar-lhe a vitória, a menos que o Tribunal Constitucional reclame o respeito que devia merecer e anule o congresso extraordinário do MPLA, por inequívocas violações estatutárias.   

Mesmo entre três males, nem sempre é possível fazerem-se escolhas verdadeiramente distinguíveis. A velha máxima de que, entre dois males, deve optar-se preferencialmente pelo de menor gravidade, não raras vezes se revela inaplicável. E a justificação é tão simples quanto prática. Nem sempre entre dois ou três, há um mal menor claramente identificável e poucos poderiam demonstrá-lo com tamanha brutalidade como o fez João Lourenço.