Evaristo Mulaza

Evaristo Mulaza

Já que está na moda brincar-se aos Prémios Nobel, vamos a isso. Faz praticamente um ano desde que José Ramos-Horta defendeu a atribuição do Prémio Nobel da Paz a Angola. Disse-o, sem pestanejos, em Julho de 2024, numa conferência em Luanda. O pretexto do Presidente de Timor-Leste foi a “extraordinária experiência” de Angola no pós-guerra. Mais por cautela do que por conveniência, José Ramos-Horta não nomeou uma figura angolana específica. Destacou, é certo, José Eduardo dos Santos como o “autor de todo esse processo”, mas não o propôs isoladamente para o galardão. Preferiu antes apontar os “dirigentes angolanos” numa colocação tão genérica quanto abstracta. Nada que tenha causado surpresas. Há boas razões para acreditar que o líder timorense teria sugerido uma figura mais exclusiva, apontando José Eduardo dos Santos, se isso não significasse uma grave desfeita a João Lourenço.

A faltarem ainda dois anos e meio para completar o segundo mandato, o relatório da governação de João Lourenço está praticamente concluído. É um amontoado de ficheiros e pastas borrados de escrita, entretanto resumíveis numa única folha de tamanho A4. Até porque, como provavelmente diria o próprio, o que não fez em benefício dos angolanos em sete anos e meio, certamente não fará em pouco mais de dois anos. 

PODER. Constituição e estatutos do MPLA determinam que João Lourenço estará inevitalmente afastado da liderança do país e do partido, depois de 2027. Estatutos fixam que o actual líder dos ‘camaradas’ não pode avançar com alterações num congresso extraordinário para apresentar-se como candidato à liderança do partido dentro de dois anos. 

EXCLUSIVO. Impossibilidade de alteração da Constituição, conjugada com norma estatutária que impõe o presidente do partido como o candidato a Presidente da República, coloca João Lourenço em situação de inelegibilidade na reunião magna dos camaradas que antecede a disputa eleitoral de 2027. Constitucionalistas, politólogos e sociólogos validam interpretação do Valor Económico sobre o artigo 120º dos estatutos vigentes do MPLA. 

Convidado do programa ‘Essencial Entrevista’ da Rádio Essencial, emitido esta terça-feira, 20, Manuel Homem respondeu sobre o ‘choque’ entre os organizadores da manifestação do último sábado, 17, e o Governo Provincial de Luanda e explicou, ao detalhe, alguns dos temas centrais que se colocam sobre a mesa do seu gabinete na Mutamba, com destaque para o programa de reordenamento do comércio. Indiferente às críticas da Aniesa que acusa o governo provincial de falta de competência para encerrar armazéns, Manuel Homem garante que o plano é para continuar, com o foco na retirada dos grossistas dos espaços urbanos. Sobre a tentativa de corrupção que o próprio denunciou publicamente, não se compromete com uma apresentação formal de queixa às autoridades e não se esquece de lembrar, quanto ao ordenamento da capital, que Luanda sempre teve, a todo momento, um plano de urbanização.